BCE confirma subida dos juros em Julho, mas promete “flexibilidade”

Taxas de referência mantêm-se inalteradas por mais um mês. Em Julho, o banco central fará uma subida de 25 pontos, abrindo caminho para o fim dos juros negativos em Setembro.

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Christine Lagarde na conferência de imprensa do BCE desta quinta-feira, em Amesterdão. EPA/SEM VAN DER WAL

O Banco Central Europeu (BCE) anunciou nesta quinta-feira que vai “pôr fim” ao programa de compras de dívida pública a partir de 1 de Julho e que, na reunião de política monetária do próximo mês, irá aumentar as taxas de juro de referência, abrindo caminho a um encarecimento do crédito na zona euro.

No entanto, a presidente do banco central, Christine Lagarde, procurou tranquilizar os mercados em relação à estratégia do BCE num momento em que também prevê um abrandamento da economia europeia, garantindo que o BCE manterá o “gradualismo e a flexibilidade na condução da política monetária” nos próximos meses.

A trajectória da subida das taxas será “gradual, mas sustentada”, disse Lagarde, durante a conferência de imprensa que se seguiu à reunião realizada nesta quinta-feira em Amesterdão, do conselho que junta os governadores dos bancos centrais dos 19 países do euro e membros do comité executivo do BCE.

Para já, nesta reunião, o banco central manteve as taxas inalteradas, mas sinalizou em comunicado que “tenciona” subi-las em 25 pontos base em Julho. Com esta decisão, o BCE prepara o terreno para, mais tarde, deixar de aplicar um valor negativo na taxa de juro da facilidade permanente dos depósitos (aquela que fixa os juros que os bancos recebem ou pagam pelos depósitos realizados junto do BCE).

Essa taxa está, neste momento, nos -0,5%. Com a subida a concretizar em Julho, ainda continuará em terreno negativo, ao passar para -0,25%, sendo que, em Setembro, o banco central poderá, de novo, decidir uma nova subida das taxas, colocando este referencial em zero. No comunicado desta quinta-feira, o BCE admite vir a decidir um novo agravamento, dadas as perspectivas para a inflação. “Se as perspectivas de inflação a médio prazo persistirem ou se deteriorarem, será apropriado um maior aumento na reunião de Setembro”, indica.

As outras taxas de referência já não se encontram em terreno negativo. A que se refere às operações principais de refinanciamento (aquela que os bancos pagam quando contraem empréstimos junto do banco central) está em zero (subirá em Julho para 0,25%) e a taxa de juro da facilidade permanente de cedência de liquidez (paga pelos bancos quando contraem empréstimos a um dia) está actualmente nos 0,25% e subirá para 0,5% em Julho.

No mesmo comunicado no qual anuncia as decisões de política monetária, o conselho liderado por Christine Lagarde anuncia que decidiu acabar com as compras de activos líquidos ao abrigo do seu programa de estímulos a partir de 1 de Julho de 2022. No entanto, quer continuar a reinvestir, na totalidade, os pagamentos de capital dos títulos deste programa que vençam “durante um período de tempo prolongado após a data em que começar a aumentar as taxas de juro de referência do BCE e, em qualquer caso, durante o tempo necessário para manter condições de ampla liquidez e uma orientação adequada de política monetária”.

Já relativamente ao programa de compra de activos de emergência lançado durante a pandemia, o BCE quer reinvestir os títulos vencidos “até, pelo menos, ao final de 2024”.

Inflação de 6,8% em 2022

O BCE admite estar a prever que a inflação “permanecerá indesejavelmente elevada durante algum tempo”, embora espere que uma moderação nos custos da energia, uma diminuição das perturbações nas cadeias de fornecimento relacionadas com a pandemia e a “normalização da política monetária” conduzam a um declínio da inflação.

As projecções para este indicador foram revistas em alta em relação ao que o BCE previa em Março, já depois da eclosão da guerra na Ucrânia. Para este ano, o BCE aponta para uma inflação de 6,8% na zona euro, projectando um abrandamento nos dois anos seguintes, para 3,5% em 2023 e 2,1% em 2024.

Esta revisão aconteceu depois de uma escalada nos últimos meses, em que a inflação chegou aos 8,1% no conjunto da zona euro. “Em Maio, a inflação voltou a aumentar de forma significativa, principalmente devido ao aumento dos preços da energia e dos alimentos, bem como ao impacto da guerra. Mas as pressões inflacionistas alargaram-se e intensificaram-se, com os preços de muitos bens e serviços a aumentarem fortemente”, nota o BCE.

Christine Lagarde recordou a subida da inflação (“Os aumentos de preços estão a tornar-se mais generalizados em todos os sectores”), recordando que o indicador dos preços da energia está 39,2% acima do valor no qual se encontrava há um ano e que “os preços dos alimentos subiram 7,5% em Maio, reflectindo, em parte, a importância da Ucrânia e da Rússia entre os principais produtores mundiais de bens agrícolas”.

O BCE reviu em baixa as perspectivas de crescimento económico para a zona euro em 2022 e 2023. Enquanto em Março esperava que a região dos 19 países cresceria 3,7% este ano, agora aponta para uma variação do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,8%, seguido de um abrandamento para 2,1% em 2023, em vez dos 2,8% esperados anteriormente. Para 2024, aponta para um novo abrandamento, com a economia a crescer 2,1%, neste caso, acima da variação prevista em Março, que estava nos 1,6%.

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