Portugal é o segundo maior exportador mundial de carne de tubarão

No Dia Mundial dos Oceanos, que se comemora esta quarta-feira, a associação ambientalista ANP/WWF alerta para impacto de sobrepesca de tubarão e raia.

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Tubarão-anequim Neil Hamerschlag

Portugal é o segundo maior exportador mundial de carne de tubarão e o sexto maior importador de carne de raia em termos de volume, alerta a associação ambientalista ANP/WWF, que teme o fim das espécies.

A propósito do Dia Mundial dos Oceanos, que se assinala esta quarta-feira, a Associação Natureza Portugal (ANP), que trabalha em parceria com a internacional World Wide Fund for Nature (WWF), lança um mapa interactivo e alerta para os impactos da sobrepesca das espécies.

Ana Henriques, especialista da associação que desenvolveu o trabalho, diz citada num comunicado que há claramente sobreexploração, que tem “repercussões no equilíbrio, produtividade, resiliência e capacidade do oceano para mitigar os efeitos das alterações climáticas”.

“Os tubarões e raias são muito mais importantes no oceano do que no nosso prato. Para reverter esta situação, precisamos urgentemente de desenvolver e implementar um Plano Nacional de Acção que os proteja, tal como foi prometido pelo anterior Governo”, acrescenta.

A ANP/WWF diz no mesmo documento que a cada minuto são pescados em todo o mundo 192 tubarões e raias, colocando em causa não só a sobrevivência das espécies como a boa saúde dos oceanos, os quais são o tema de uma segunda conferência mundial da ONU e que se realiza em Portugal no final do mês.

No mapa interactivo a associação explica as rotas do comércio global dos principais produtos à base de tubarões e raias (carne e barbatanas), e o impacto causado por Portugal no estabelecimento de pontes comerciais entre grandes importadores e exportadores, como o Brasil, Itália, Espanha e Namíbia.

“O comércio mundial à base de tubarões e raias está a esgotar estas espécies, e movimenta mais de quatro mil milhões de dólares anualmente, envolvendo mais de 190 países ou territórios. O valor resultante do comércio de carne de tubarão e raia é actualmente quase o dobro do valor do comércio das suas barbatanas, apesar destas terem muito mais atenção mediática”, diz Ângela Morgado, directora executiva da ANP

WWF, também citada no comunicado, no qual salienta ainda que se trata de um tipo de comércio pouco regulado e “não transparente”.

Segundo os dados da organização, Espanha é o principal parceiro comercial de Portugal no que toca a tubarões e raias: 95% das importações de carne de raia vêm de Espanha e 75% das exportações de Portugal de carne de tubarão vão para Espanha.

Ao se protegerem os tubarões e as raias em Portugal, tal irá afectar toda a rede comercial global, explica Ana Henriques, defendendo assim a criação de um Plano de Acção Nacional para a Gestão e Conservação dos Tubarões e Raias.

A ANP/WWF reconhece que o papel de Portugal é essencialmente de exportação, especialmente de tubarões, mas salienta que o consumo também acontece, por vezes de forma escondida, com nomes como cação, tintureira e pata-roxa. Sem contar com outros usos para produtos à base de tubarão e raia, seja na cosmética, suplementos alimentares e mesmo para decoração.

Das 1200 espécies de tubarões e raias conhecidas “mais de 36% estão ameaçadas”, sendo este o segundo grupo, depois dos anfíbios, com mais espécies ameaçadas de extinção do planeta, alerta a organização ambientalista.

No ano passado a ANP/WWF já tinha apresentado um relatório (Guardiões do Oceano em Crise) no qual apontava para a necessidade de adopção de medidas que minimizem as principais ameaças às espécies, a nível da pesca e comércio, assim como de reforçar questões de governança. E alertou que das 117 espécies que se conhecem nas águas portuguesas, quase metade se encontra já ameaçada.

O Dia Mundial dos Oceanos, este ano sob o tema “Revitalização: Acção Colectiva para o Oceano”, foi decretado em 2008 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, para sensibilizar o mundo para a importância dos oceanos. A segunda Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, organizada por Portugal em conjunto com o Quénia, decorre em Lisboa de 27 de Junho a 1 de Julho.

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