From Granny to Trendy. Para dar “vida aos anos”, estas mulheres estão na moda

A iniciativa da marca Vintage For a Cause visa proporcionar “um envelhecimento mais saudável” a mulheres com mais de 50 anos.

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From Granny to Trendy: a moda e a convivência contra a solidão DR

Esposende, Gondomar e Elvas acolhem uma nova edição de From Granny to Trendy, até final de Julho. Querem acrescentar “vida aos anos”. Como? Ao longo de vários meses, transformam roupas antigas em objectos que estão, de novo, na moda para depois exibirem os resultados numa sessão de fotos e num desfile.

Cerca de 50 mulheres com mais de 50 anos e “em risco de exclusão” participam na iniciativa para ter “um envelhecimento mais saudável e mais qualidade de vida”, explica Helena Antónia Silva, fundadora da marca de roupa sustentável Vintage For a Cause, que desenvolveu a ideia.

From Granny to Trendy consiste num conjunto de workshops, espalhados actualmente por quatro núcleos (há dois em Elvas), em que as participantes transformam peças de roupa antigas que têm nos seus armários. Segue-se uma sessão fotográfica em que exibem o resultado dos meses de costura. No final, dá-se um desfile com o mote “velhos, nem os trapos”, a realizar-se na segunda metade do ano, e que, para este ano, espera uma centena de pessoas. Esta vai ser a primeira edição presencial do projecto começado em 2017 depois da pandemia.

Para Helena Antónia, o projecto vem preencher uma lacuna. “De norte a sul do país existem pessoas que estão desocupadas e existe uma falta de actividades um bocado mais ligadas à criatividade”, considera a empresária. Assim, com esta série de actividades pode-se voltar a dar vida a “um tipo de recursos humanos que está um bocado posto de parte”.

A “convivência” contra a solidão

Em Esposende, reúne-se um grupo de mulheres nas quais os sorrisos fazem sobressair “a grande transformação” que se vai verificando no seu tempo a costurar. Helena Antónia nota especialmente uma mudança “na autopercepção delas próprias [das participantes] “.

Quem se desafia com esta iniciativa não só ganhou auto-estima como encontrou um lugar de “convivência”. Foi por isso que Olinda Pinto, de 60 anos, decidiu experimentar este desafio. “Eu gosto muito de estar com pessoas, falar, aprender coisas novas e principalmente adquirir amizades”, continua.

“Eu gosto muito de estar com pessoas, falar, aprender coisas novas e principalmente adquirir amizades”, diz Olinda Pinto, de 60 anos DR
Para Rosa da Cruz Costa, de 73 anos, o projeto é uma forma de "se soltar" DR
Felicidade Vale, de 65 anos, considera que aquilo que tem aprendido com From Granny to Trendy "é uma mais-valia” DR
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“Eu gosto muito de estar com pessoas, falar, aprender coisas novas e principalmente adquirir amizades”, diz Olinda Pinto, de 60 anos DR

Neste núcleo, o clube de costura partilha espaço com uma loja social, que se define como “uma rede de partilha e solidariedade”. Assim, para além dos workshops, há ainda várias angariações de bens para apoio a quem mais precisa.

Foi a partir da Loja Social de Esposende que Olinda conheceu o projecto From Granny to Trendy. A ela juntam-se várias outras mulheres, que procuram fazer novas amigas e assim escapar da solidão.​ “Eu sou uma pessoa muito comunicativa e a minha vida foi sempre muito isolada, então agora estou-me a ‘soltar’”, conta Rosa da Cruz Costa, de 73 anos.

Sorri e prossegue: “No fundo eu acho que é uma concretização [de um sonho]”. Afinal, nunca é tarde demais. Com os seus 65 anos, Felicidade Vale também não deixa a idade ser um impedimento para “aprender costura”. “É uma mais-valia”, considera.

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Em Esposende há não só o clube de costura, mas também uma loja social DR
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O “ar mais pesaroso” fica para trás e dá lugar à alegria e a uma juventude que volta e permanece DR

Para todas, o que ali fazem acrescenta algo. “Vai-se aprendendo sempre”, diz Felicidade. De modo a apoiar as participantes que como ela decidiram arriscar algo novo, participam ainda do projecto uma formadora e as mulheres das edições anteriores. “Todas as pessoas que participaram em 2019/2020 estão a participar no projecto novamente como voluntárias”, indica Helena Antónia, da Vintage For a Cause.

É o caso de Maria Júlia de Sousa, de 61 anos, que participou pela primeira vez no projecto há dois anos. Não tem dúvidas de que “mudou para muito e para melhor” e é também por isso que agora tenta retribuir. “Quem não sabe nada aprende um bocadito, quem já sabe um bocadito aprende mais e quem já sabe bastante aprende ainda mais”, frisa.

Do outro lado está Maria José Monteiro a ensinar. Como formadora, Maria José descreve o projecto de uma forma simples, mas complexa: “serendipidade”. “É uma coisa boa que acontece na vida de todas nós”, justifica. Em especial para “as pessoas mais velhas”, a quem o projecto serve de “uma lufada de ar, de alegria, de sorrisos e de partilhas”, acrescenta a formadora.

O “ar mais pesaroso” fica para trás e dá lugar à alegria e a uma juventude que volta e permanece. Depois de concluídas todas as fases do projecto, este “quase que fica a funcionar com elas [as participantes] como voluntárias”, aponta a fundadora da Vintage For a Cause. Helena António nota um impacto significativo “do ponto de vista comportamental e social” não só nas mulheres, mas também na sua relação com o meio em redor. “Estão bastante mais activas na comunidade”, acrescenta.

Com novas rotinas, mais auto-estima e mais amizades, as vidas de cerca de 50 mulheres são transformadas para melhor. Agora, os olhos estão em duplicar o número dos clubes de costura. O próximo destino é a cidade do Porto, no segundo semestre do ano. Afinal, há que dar “vida aos anos” a mais mulheres.


Texto editado por Pedro Rios

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