Já reparou no número de reciclagem que há nas embalagens de alimentos?

Especialistas alertam para a importância de verificar o número de reciclagem dos recipientes onde se guardam alimentos, uma vez que as embalagens plásticas do tipo três, seis e sete (algarismo que normalmente aparece dentro do símbolo em forma de triângulo) podem conter contaminantes que migram para a comida.

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Embalagens com o número de reciclagem três, seis e sete “podem conter contaminantes que migram para os alimentos" Koukichi Takahashi/Unsplash

Investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) alertaram esta terça-feira, a propósito do Dia Mundial da Segurança Alimentar, para a necessidade de os consumidores estarem atentos ao “número de reciclagem” dos recipientes onde armazenam os alimentos.

Em declarações à agência Lusa, Duarte Torres, um dos investigadores envolvidos no projecto FOCACCia, que visava avaliar a exposição a perigos químicos existentes na cadeia alimentar e contaminantes que provêm das embalagens, alertou para a necessidade de os consumidores prestarem atenção ao número de reciclagem dos recipientes onde armazenam e aquecem os alimentos. Isto porque as embalagens com o número três, seis e sete “podem conter contaminantes que migram para os alimentos”.

“Devemos ter sempre em consideração e perceber qual o material de que é feito aquele recipiente”, salientou o investigador, observando que tal informação é fornecida pelo número de reciclagem (número que normalmente aparece no triângulo da reciclagem), e que convém “diminuir a exposição” a compostos como os ftalatos, usados para conferir flexibilidade aos plásticos e que podem migrar dos materiais para a atmosfera, alimentos ou bebidas.

Evitar partes queimadas

Na data em que se assinala o Dia Mundial para a Segurança Alimentar, Duarte Torres alertou também para a necessidade de se evitar consumir as partes “muito queimadas ou carbonizadas” da carne, peixe e ovos, pois podem concentrar compostos químicos “indesejáveis” como aminas heterocíclicas, que se formam na confecção a altas temperaturas e durante longos períodos. “A mensagem é evitar processar em demasia os alimentos, que devem ser tratados de forma suave. Quando aparecem partes muito queimadas num alimento, essa parte não deve ser ingerida”, observou. Recomendou ainda a substituição de alimentos processados e ultra processados, fruto de formulações que contêm um “conjunto alargado de ingredientes, muitos deles, aditivos”, por alimentos menos processados.

Duarte Torres destacou a importância de se ter uma “alimentação variada, com base em produtos pouco processados”, ainda que tal pareça uma recomendação “comum”. “Uma alimentação variada, com base em produtos pouco processados, são princípios base com múltiplos benefícios e devemos começar logo desde a primeira idade”, acrescentou.

A propósito do Dia Mundial para a Segurança Alimentar, os investigadores envolvidos no projecto FOCACCia divulgaram uma brochura e um e-book, materiais desenvolvidos em conjunto com a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) e a Direcção-Geral da Saúde (DGS), que contêm dicas e recomendações para os consumidores. “A brochura contém algumas dicas para o consumidor final e alguns conselhos práticas, já o e-book, além destas dicas, tem uma descrição mais detalhada do projecto e o seu resultado”, esclareceu Diogo Torres.

Financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), o projecto FOCACCia tentou compreender a exposição de aditivos e contaminantes alimentar, assim como de padrões alimentares com níveis mais elevados destes compostos na saúde metabólica e cognitiva de crianças e adolescentes.

Tendo por base dados da coorte Geração XXI, do ISPUP, os investigadores observaram que as crianças com uma maior exposição a bisfenol (BFA) foram as que apresentaram maiores níveis de adiposidade, nomeadamente, maior índice de massa corporal, gordura corporal e perímetro de cintura, bem como maiores níveis de insulina aos 13 anos e maior probabilidade de pertencer a uma classe de maior risco cardiovascular.

Ao mesmo tempo, a equipa concluiu que um maior consumo de alimentos não processados aos sete anos mostrou vir a ter um efeito favorável na saúde cardiometabólica das crianças aos 10 anos. Já as crianças que aos quatro anos pertenciam ao padrão de “alimentos densamente energéticos”, isto é, que consumiam mais doces, refrigerantes, salgados, pizzas, carnes vermelhas e processadas, comparadas com as crianças de um padrão saudável apresentavam mais adiposidade aos sete e dez anos.

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