A crepitar ou desolados? Cientistas usam inteligência artificial para ouvir os sons da vida dos corais

Enquanto ouvia sons do fundo do mar, um grupo de cientistas descobriu que os recifes de coral emitem sons diferentes consoante o tipo de espécies que lá habita. Enquanto os recifes saudáveis se assemelham a fogueiras a crepitar, os corais degradados soam mais desolados.

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Reuters/TIM LAMONT/UNIVERSITY OF EXETER

Quando uma equipa de cientistas ouviu um clip áudio gravado debaixo de água ao largo de ilhas no centro da Indonésia, escutaram o que parecia ser uma fogueira a crepitar.

Em vez disso, era um recife de coral, cheio de vida, revela um estudo que os cientistas de universidades britânicas e indonésias publicaram em Maio, no qual utilizaram centenas desses registos áudio para treinar um programa informático com o objectivo de monitorizar a saúde de um recife de coral, ouvindo-o.

Um recife saudável tem um som complexo “crepitante, semelhante a uma fogueira”, devido a todas as criaturas que nele vivem, enquanto um recife degradado soa mais desolado, afirmou o especialista em Ciências da Vida e investigador principal da equipa, Ben Williams.

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Um investigador utiliza um hidrofone, que ajuda a gravar os sons subaquáticos para um projecto-piloto que utiliza inteligência artificial. Reuters/TIM LAMONT/UNIVERSITY OF EXETER

O sistema de inteligência artificial analisa dados como a frequência e o ruído do som dos clips de áudio e pode determinar com pelo menos 92% de exactidão se o recife é saudável ou se está degradado, explica o estudo da equipa publicado na revista Ecological Indicators. Os cientistas esperam que este novo sistema de insteligência artificial ajude os grupos de conservação em todo o mundo a monitorizar a saúde dos recifes de forma mais eficiente.

Estes habitats marinhos estão sob pressão devido às emissões de carbono provocadas pelo ser humano, que aqueceram as superfícies oceânicas 0,13 graus em cada década e aumentaram a acidez dos recifes em 30% desde a era industrial. Cerca de 14% dos corais do mundo em recifes desapareceram entre 2009 e 2018, uma área que representa 2,5 vezes o Parque Nacional do Grand Canyon, nos Estados Unidos, revela a Global Coral Reef Monitoring Network.

Enquanto cobrem menos de 1% do fundo do oceano, os recifes de coral sustentam mais de 25% da biodiversidade marinha, incluindo tartarugas, peixes e lagostas – tornando-os terreno fértil para as indústrias piscatórias mundiais.

Segundo o conservacionista indonésio e professor na Faculdade de Ciências Marinhas da Universidade de Hasanuddin, Syafyudin Yusuf, a investigação vai ajudar a monitorizar a saúde dos recifes de coral na Indonésia.

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