Os crocodilos estão a perder dentes — e a culpa é da pesca recreativa

Estudo crocodilos-do-nilo no lago Santa Lucia (na África do Sul) revelou que, por andarem a comer material de pesca, estes animais têm no seu sangue “algumas das maiores concentrações de chumbo alguma vez registadas na vida selvagem”. Esse envenenamento já deixou as suas marcas.

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A pesca recreativa ocorre nas águas do Lago Santa Lucia desde os anos 1930 Naashon Zalk/Bloomberg

Vinte e cinco crocodilos-do-nilo no lago Santa Lucia, que fica na África do Sul e é considerado Património da Humanidade, têm no seu sangue as maiores concentrações de chumbo “alguma vez reportadas para crocodilianos em todo o mundo”. A razão da contaminação: têm vindo a ingerir material de pesca depositado no leito do lago.

Esse envenenamento por chumbo causou anemia nalguns dos crocodilos, bem como “perda grave de dentes”, referiram no estudo investigadores de três universidades sul-africanas e do Instituto Nacional de Biodiversidade da África do Sul.

“Os crocodilos do lago Santa Lucia​ têm algumas das maiores concentrações de chumbo no sangue alguma vez registadas na vida selvagem”, referiu Marc Humphries, da Universidade Witwatersrand e um dos autores do relatório. Isso, considerou ainda, é “impressionante”, tendo em conta a conservação do lago Santa Lucia​ e o seu estatuto enquanto Património da Humanidade.

Os répteis predadores, alguns dos quais vivem há décadas e podem crescer até quatro metros, fazem parte de uma população de cerca de mil crocodilos no lago Santa Lúcia, sistema estuarino que cobre uma área de aproximadamente 350 quilómetros quadrados. A pesca recreativa ocorre no território desde a década de 1930, resultando na acumulação de pesos de chumbo descartados no leito do lago.

O metal permanece nos ossos dos crocodilos, tornando os seus dentes mais frágeis — e os dentes perdidos não são substituídos. “Em casos graves, a perda de dentes pode resultar em stress nutricional e morte”, disseram os investigadores [no estudo publicado no repositório de acesso aberto SSRN​].

“Há alternativas não tóxicas ao chumbo (aço e tungsténio, por exemplo) que o Governo e as autoridades de conservação na África do Sul deveriam explorar”, afirmou Marc Humphries. “Continuamos a permitir que o chumbo seja usado nalgumas das nossas áreas de conservação mais importantes”, frisou ainda.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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