Joana Ribeiro e Kelly Bailey: uma amizade que saltou da ficção para a realidade

Fecha-se o pano ou desligam-se as câmaras, despem-se as personagens, restam os actores tal como são e as suas amizades despidas de didascálias. Fora de cena, partilham emoções, conquistas e tragédias que podiam ter saído da ficção, mas são pura realidade. Em comum, têm a paixão pela representação, que foi, muitas vezes, a faísca que fez despertar uma amizade, mas há muito mais que os une.

dro daniel rocha 20 maio 2022- PORTUGAL Lisboa actrizes Joana Ribeiro e Kelly Bailey
Fotogaleria
Joana Ribeiro e Kelly Bailey conheceram-se em 2019 Daniel Rocha
dro daniel rocha 20 maio 2022- PORTUGAL Lisboa actrizes Joana Ribeiro e Kelly Bailey
Fotogaleria
A cumplicidade foi imediata, garantem Daniel Rocha

Joana Ribeiro e Kelly Bailey não se conheciam até lhes ter sido dito que teriam de ser irmãs na ficção. A proximidade necessária para o papel estendeu-se à vida real e evoluiu para uma amizade fora do ecrã. Quase numa relação de mentora e pupila, acompanharam o crescimento uma da outra e alcançaram voos mais altos em projectos internacionais. “Passámos de ser duas pessoas que trabalhavam juntas para partilhar tudo, não só coisas boas, mas também frustrações”, resume Joana.

Mal se conheceram, a empatia foi imediata, garantem as duas actrizes. Quase por telepatia, confirmando a cumplicidade que as une, Joana e Kelly chegam vestidas de forma semelhante e com malas iguais para o encontro com o PÚBLICO no Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian. “Juro que não combinámos!...”, diz, entre gargalhadas, Joana Ribeiro. São amigas desde que protagonizaram a novela Prisioneira, na TVI, em 2019.

“Nunca tinha encontrado uma colega que gostasse tanto de ajudar e quisesse criar uma ligação. Acredito que, inicialmente, fosse para ajudar as personagens, mas, naturalmente, evoluiu para uma relação de amizade”, começa por elogiar Kelly Bailey. Rapidamente começaram a encontrar-se fora do estúdio para ensaiar as cenas do dia seguinte, e Joana conta ter olhado para a colega mais nova com um sentimento de protecção: “A Kelly passou de ser uma miúda que ninguém sabia quem era [antes de A Única Mulher, em 2015] a, de repente, ter toda a atenção virada para si.”

Foto
Daniel Rocha

A amizade que foi florescendo “tornou tudo mais fácil” também em cena, acredita Kelly. “Era importante essa confiança uma na outra, porque sabia que, se não estivesse a 100% na cena, a Kelly estava lá e vice-versa”, concorda a amiga. Graças a Joana, Kelly diz ter “aprendido uma forma diferente de estar no trabalho”, menos preocupada com “o lado estético”. “Ainda estou numa idade em que estou a descobrir o que quero e as referências são muito importantes”, reconhece a actriz de 24 anos.

É também com o apoio e o aconselhamento imprescindíveis de Joana — que já participou em projectos internacionais, como o filme O Homem que Matou D. Quixote, de Terry Gilliam, ou a série The Man Who Fell to Earth — que Kelly fará parte, pela primeira vez, de uma série da Netflix, Rabo de Peixe, gravada nos Açores. Joana é a amiga que ajuda “sempre” a gravar as self-tapes, uma espécie de casting.

Esta entreajuda, lamentam, nem sempre é fácil de encontrar num sector tão competitivo. “A Kelly é das pessoas menos competitivas que conheço, que fica genuinamente feliz pelos outros. Nesta profissão, porque há tão poucos papéis para a quantidade de actores, é muito bonito haver essa atitude”, celebra Joana Ribeiro. As duas consideram que não é fácil encontrar, neste meio, amizades como a que têm. “Cruzamo-nos com muita gente e passamos muitas horas juntos, quase somos obrigados a criar cumplicidade, mas depois não são muitos os que ficam e querem verdadeiramente o nosso bem”, observa Kelly Bailey, que assume ter “dificuldade em confiar”.

Foto
Daniel Rocha

Mas não é só Kelly que aprende com a “irmã mais velha”; também a mentora aprende com a protegida: “Inspira-me a atitude positiva que a Kelly tem em relação a esta área, que nem sempre é fácil ter.” A amiga “está sempre feliz”, assegura Joana, e isso promove o bem-estar e o bom ambiente sempre que estão juntas, seja a dançar, seja a ensaiar ou a fazer desporto. Entre gargalhadas, recordam uma aula de alongamentos para a qual Kelly convidou Joana, e que acabou por descobrir que, surpreendentemente, a amiga era mais flexível do que ela. “Ficou chateada comigo”, recorda a actriz de 30 anos, garantido que a zanga foi sol de pouca dura.

Com a pandemia, passaram a estar juntas “numa bolha mais reservada” e ficaram ainda mais próximas, relatam. “Passámos a dar mais jantares em casa e acabámos por nos ver mais vezes num lado mais íntimo”, conta Kelly. E qual das duas cozinha nesses jantares? “Nenhuma”, respondem em uníssono. Só não falam mais vezes, critica, com humor, Joana Ribeiro porque a amiga “passa semanas sem responder” e é “a pessoa com mais mensagens não-lidas” que conhece. “Sim, tenho esse defeito de não responder. Mas a Joana já percebeu que não é isso que faz a amizade”, assume Kelly, dando a mão à palmatória.

Foto
Daniel Rocha

Agora, Joana diz mal poder esperar por ver a amiga na nova personagem “completamente diferente de tudo o que fez até agora” e não se cansa de lhe tecer rasgados elogios: “A Kelly tem uma luz natural e uma energia cativante. Não é qualquer actor que tem isso.” Prometem estar sempre na primeira fila a aplaudir as conquistas uma da outra e, quem sabe?, voltarão a contracenar. Só lhes falta viajarem juntas, planeiam. “E que tal irmos a Itália?”, propõe Kelly. “Olha que há amizades que se destroem por causa de viagens”, termina Joana, com humor.


O PÚBLICO agradece a disponibilidade da Fundação Calouste Gulbenkian.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários