Isaac Babel entre vinhas, mesa farta e suor amoroso

Um ramalhete rubro de sangue e fogo, de humor e vida: Contos de Odessa.

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Não conseguimos deixar de pensar em Babel quando nos falam de Odessa (e vice-versa), tal como não conseguimos desemparelhar Joyce e Dublin, Kafka e Praga, Borges e Buenos Aires, Pessoa e Lisboa DR

Em 1916, concluída a sua formação no Instituto de Estudos Financeiros e Empresariais de Kiev (que no ano anterior tinha sido transferido para Saratov, por causa da guerra em curso), Isaac Babel está em São Petersburgo, então capital do Império Russo, e publica uma crónica intitulada Odessa. Elogio da grandeza perdida da cidade onde havia nascido 22 anos antes, o texto é também um sucinto manifesto literário. Alegando a escassez de claras e calorosas descrições do sol na literatura russa — até mesmo em Gogol que, lembrava, também nascera na Ucrânia —, Babel profetizava que o “sangue novo” literário viria do ensolarado sul e que Odessa talvez fosse a única cidade do império onde poderia surgir o Maupassant de que a literatura russa necessitava. Admirador convicto do escritor francês, Babel dirá, aliás, numa Autobiografia escrita em meados da década seguinte, que foi em língua francesa que fez as suas primeiras tentativas literárias, ainda na adolescência. Em Contos de Odessa não faltam exuberantes e festivas descrições do sol do sul: “O sol estava pendurado no céu como a língua cor-de-rosa de um cão sedento.” (p. 39); “O pôr do sol, esse espesso pôr do sol cozinhava-se no céu como compota” (p. 55); “O sol espalhava-se por cima das nuvens como o sangue de um javali com a barriga rasgada” (p. 56); “O sol lançou-se em flecha para as alturas e pôs-se a girar como uma taça escarlate na ponta de uma lança.” (p. 57).

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