Depois de um julgamento polémico, dará Hollywood uma nova oportunidade a Depp e Heard?

Após alegações de abuso descritas ao pormenor, gravações de discussões feias e exibição de mensagens desagradáveis, estará Hollywood pronta para receber de volta Johnny Depp ou Amber Heard?

Foto
Heard, que tem muito menos experiência em Hollywood, foi vilipendiada nas redes sociais durante todo o julgamento Reuters/TOM BRENNER

Johnny Depp, a estrela dos Piratas das Caraíbas, declarou que o júri lhe devolveu a vida quando lhe concedeu uma vitória quase total no processo por difamação contra a ex-mulher Heard. Os jurados validaram as três queixas de Depp, de que Heard o tinha difamado, e concederam-lhe mais de dez milhões de dólares (9,7 milhões de euros) em indemnizações. Já Heard ganhou uma contra-acção, em que afirmava que o advogado do actor a tinha difamado. O júri atribui-lhe uma indemnização de dois milhões de dólares (quase 1,9 milhões de euros).

Mas os veredictos têm um custo. Durante seis semanas, o julgamento emitido em directo na televisão forneceu pormenores sobre um casamento problemático e provas que tanto Depp como Heard admitiram ser embaraçosas. Ainda assim, espera-se que Depp receba novos papéis no cinema, agora que o júri norte-americano o apoiou após uma batalha legal de anos, disse Clayton Davis, editor na Variety.

“Penso que Johnny Depp vai voltar a trabalhar. Vai conseguir um grande projecto”, disse Davis após o veredicto, salientando que Hollywood oferece muitos exemplos de estrelas que recuperaram de escândalos muito públicos. Robert Downey Jr., Mel Gibson, Hugh Grant, Roman Polanski e outros tiveram novas oportunidades após graves acusações de comportamento impróprio e até condenações criminais. Kevin Spacey entrou em vários filmes independentes após ter sido acusado em 2018 de má conduta sexual, que ele nega — recentemente, o actor foi acusado de mais quatro crimes de agressão sexual cometidos contra três homens, no Reino Unido. “Temos uma cultura que permite que estas pessoas voltem a trabalhar”, disse Davis.

Há menos de dois anos, Depp perdeu um processo por difamação na Grã-Bretanha contra o tablóide The Sun, que lhe chamou “espancador da mulher”. Um juiz do Supremo Tribunal de Londres decidiu que Depp tinha repetidamente agredido Heard. Pouco tempo depois, o actor afastou-se da franquia de filmes Monstros Fantásticos, um spin-off do universo Harry Potter.

O advogado Neama Rahmani considera o julgamento norte-americano um ​golpe de génio de relações públicas” de Depp e da sua equipa para reconstruir a sua reputação e carreira. No banco de testemunhas, Depp “foi simpático, credível, carismático, encantador”, avalia Rahmani.

Depp negou ter agredido Heard, enquanto a actriz admitiu ter batido no actor, dizendo que o fez apenas para se defender a si própria e à sua irmã. Juda Engelmayer, uma especialista em comunicação de crise que representa Harvey Weinstein e outros, disse acreditar que o forte apoio a Depp por parte dos fãs nas redes sociais ao longo do julgamento reforçará a sua posição em Hollywood. Os produtores “olham para os milhões de pessoas que torceram por ele, que assinaram petições contra Amber Heard e vão pensar se eles ‘estão dispostos a vir ao cinema e a pagar bilhete’”, diz Engelmayer. “Penso que vão experimentar.”

Revelações do julgamento podem limitar o tipo de papéis de Depp no futuro, nomeadamente em filmes “de família”, acrescenta Engelmayer, apesar de prever que Depp “voltará a ser um protagonista”.

Heard, que tem muito menos experiência em Hollywood, foi vilipendiada nas redes sociais durante todo o julgamento, mas Engelmayer acredita que também a ela lhe serão oferecidas novas oportunidades. Antes do julgamento, Heard filmou Aquaman 2, que será lançado em Março de 2023.

Engelmayer disse acreditar que um realizador “socialmente consciente” oferecerá a Heard pelo menos um pequeno papel para proporcionar um novo começo a uma mulher que tornou públicas alegações de abuso. Afinal, defende Engelmayer, depois do movimento #MeToo nos últimos anos, Hollywood será vista como “hipócrita se não lhe derem um papel e não lhe derem uma nova oportunidade”.

Sugerir correcção
Comentar