OPEP antecipa aumento de produção de 650 mil barris por dia

Aumento prometido pelo Golfo Pérsico representa apenas 0,7% da procura mundial. Preço volta a subir porque solução é vista como ineficaz face às necessidades do Ocidente, que quer abdicar do crude russo.

Foto
A Rússia é membro da OPEP+ e já cortou 1 milhão de barris diários por causa do embargo europeu. Reuters/Dado Ruvic (arquivo)

A Arábia Saudita e outros países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) confirmaram esta tarde que vão antecipar os aumentos de produção previstos para o período Julho-Setembro, de modo a ajudar os países consumidores de petróleo russo a lidarem com o embargo europeu contra Moscovo por causa da guerra na Ucrânia.

Reunidos esta tarde, os membros da OPEP chegaram a acordo sobre um novo calendário, antecipando para Julho-Agosto o início da subida de produção, que deverá saldar-se por um acréscimo de quase 650 mil barris por dia, segundo avançaram as agências de notícias Reuters e Bloomberg.

Trata-se de um reforço de cerca de 50% nos aumentos introduzidos recentemente. A OPEP começou a cortar a produção no início da pandemia, em 2020. Com o gradual desconfinamento das economias mundiais, começou a fazer aumentos mensais que, agora, vão chegar aos 648 mil barris por dia, segundo a decisão acordada esta quinta-feira.

No início da semana, a União Europeia anunciou um boicote a 90% do crude russo e um embargo a 66% do gás proveniente daquele país, ao abrigo do sexto pacote de sanções contra Moscovo, por causa da invasão e guerra na Ucrânia.

Os preços do crude dispararam para novos máximos de dois meses, com a perspectiva de eventuais falhas de abastecimento de petróleo na Europa, tocando novamente os 120 dólares por barril.

No entanto, os países da OPEP disseram estar disponíveis para ajudar a controlar a inflação nos produtos energéticos, tendo acedido ao apelo do Ocidente para que aumentem a produção de modo a compensar, de alguma fora, o petróleo que antes vinha da Rússia, segundo maior produtor mundial.

No entanto, este aumento de 648 mil barris na produção diária é um contributo pequeno: representa apenas 0,7% da procura. Isso parece ter arrefecido de alguma maneira as expectativas do mercado. De manhã, o preço por barril caiu para os 112-113 dólares, logo depois de se ter sabido que os sauditas estariam dispostos a aumentar a produção diária. Porém, o preço do barril voltou a disparar para os 117 dólares, depois do anúncio de um aumento de 648 mil barris diários

O problema é que na região do Golfo Pérsico a maioria dos produtores está a trabalhar a 100% e, por isso, está no limite da sua capacidade produtiva. As excepções são a Arábia Saudita, que o presidente dos EUA, Joe Biden, poderá visitar em Junho, e os Emirados Árabes Unidos.

Moscovo fornecia 10% da procura global de petróleo antes de invadir a Ucrânia, onde está em guerra com as tropas de Kiev desde final de Fevereiro. O presidente Biden há muito que insistia num incremento de produção por parte da OPEP, mas Riade e outros produtores têm resistido a esse apelo.

Na quarta-feira, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, reuniu-se em Riade com diversos representantes dos países da região do Golfo Pérsico. Os EUA têm tido relações tensas com Riade, com os últimos dois anos marcados por diferendos: direitos humanos (Washington acusa o príncipe Mohammed bin Salman, conhecido como MbS, de ter ordenado a morte do jornalista Jamal Khashoggi, imputação que é refutada por MbS); a guerra no Iémen; e negócios de armamento.

Uma eventual deslocação de Biden à Arábia Saudita teria como objectivo amenizar as fricções recentes, à luz da necessidade ocidental de ter soluções que impeçam uma crise de fornecimento de petróleo.

Fontes sauditas citadas pelo Financial Times argumentam que, nesta altura, ainda não há uma verdadeira escassez de petróleo. A OPEP continua a considerar a Rússia um “parceiro crítico” e, por isso, a viagem de Lavrov pelo Médio Oriente foi uma demonstração de que qualquer solução terá de ser negociada.

A reabertura de grandes cidades na China a partir de 1 de Junho, como Xangai, depois de longas semanas em confinamento para tentar travar o recrudescimento da covid-19 devido à variante ómicron, coloca ainda mais pressão nas necessidades energéticas mundiais.

A OPEP+ reúne-se ainda esta quinta-feira e a Rússia pode dar o seu apoio a um aumento de produção no Pérsico para equilibrar o fornecimento mundial. Tal posição seria vista como uma tentativa de Moscovo para manter a unidade dentro daquele grupo de produtores de petróleo que, até agora, se mantiveram distantes da guerra na Ucrânia, optando por uma posição de neutralidade.

Sugerir correcção
Comentar