Nova criação do coreógrafo Bruno Beltrão reflecte a “triste realidade” do Brasil

Dez bailarinos em palco para mostrar um Brasil de contradições. Até sábado, na Culturgest, em Lisboa, e depois Nova Criação estará em digressão por várias cidades europeias.

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Nova coreografia de Bruno Beltrão reflecte sobre a realidade política brasileira. Na fotografia, reacção de protesto à forma como Presidente Bolsonaro lidou com a pandemia do novo coronavírus UESLEI MARCELINO/Reuters

O coreógrafo brasileiro Bruno Beltrão vai apresentar esta quinta-feira, em Lisboa, uma nova criação que reflecte a “triste realidade” sociopolítica do Brasil, numa altura em que muitos artistas estão sem apoio público. “Vivemos um momento muito difícil em quase todas as áreas da cultura. Só a arte sacra e renascentista e a música sertaneja têm apoio do Governo”, lamentou o coreógrafo, contactado pela agência Lusa.

Nova Criação dá título à peça coreográfica que Bruno Beltrão e a companhia Grupo de Rua trazem até sábado ao palco da Culturgest, depois de ter sido apresentada no Porto, e noutras cidades europeias, no âmbito de uma digressão. “O Presidente [Bolsonaro] bloqueia tudo. Esta peça não é alegre, é triste, porque nesta altura o artista é visto como um vagabundo que fica ‘mamando na teta’ do Governo”, comenta o criador brasileiro.

No centro da peça estão questões relacionadas com condições sociais e políticas que paralisam a sociedade, a desunião e antagonismo de uma nação, e a perda de significado de conceitos como democracia e solidariedade.

No processo criativo, Bruno Beltrão e a sua companhia questionaram-se sobre a necessidade de “incluir mais auto-análise e autocrítica na peça”, disse à Lusa. As criações anteriores - em 2018 apresentou Inoah - "eram boas em qualidade de trabalho, mas estavam longe de reflectir a realidade” vivida pelo país.”A dança é um processo abstracto, um trabalho muito difícil. Há pessoas que saem dos espectáculos dizendo que não entenderam bem o que viram. Discutimos muito a situação e considerámos importante tentar incluir na nova peça essa atmosfera vivida no Brasil, uma realidade com que as pessoas se identificassem”, indicou. Já a coreografia Inoha levantava estas questões das contradições que dividem a sociedade brasileira na actualidade.

Em palco, dez bailarinos manifestam, pelo movimento e palavra, a realidade tensa sobretudo urbana, no seu país de origem, apresentando um testemunho do confronto, hostilidade e solidariedade, agressão e intimidade. Nova Criação irá ser apresentada, até ao final do ano, em várias cidades europeias e países como Alemanha, França, Bélgica, Holanda e Áustria.

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