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No Sri Lanka, abastecer um tuk-tuk pode demorar até 12 horas

No Sri Lanka, conduzir um tuk-tuk conduz muitos motoristas ao desespero. O motivo? O preço e escassez de combustíveis. As filas nos postos de abastecimento são intermináveis, os preços sofreram aumento de 258% em apenas oito meses. "Passo mais tempo em filas para abastecer do que a fazer qualquer outra coisa", contou uma motorista à Reuters

Lasanda Deepthi aguarda numa fila para abastecer o seu veículo, em Gonapola, Colombo, Sri Lanka ADNAN ABIDI/REUTERS
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Lasanda Deepthi aguarda numa fila para abastecer o seu veículo, em Gonapola, Colombo, Sri Lanka ADNAN ABIDI/REUTERS

Ver uma mulher ao volante de um riquexó motorizado, ou tuk-tuk, é raro no Sri Lanka, mesmo entre 22 milhões de habitantes. Esse facto não impediu Lasandra Deepthi, de 43 anos, de se dedicar ao transporte de passageiros num desses veículos, na capital do país, Colombo.

Em sete anos de profissão, Lasandra atravessa um dos períodos mais difíceis da sua vida profissional, devido à inflação que assola o país desde o estalar da pandemia de covid-19. O seu rendimento mensal, que em Janeiro rondava as 50 mil rupias do Sri Lanka — que correspondem a pouco menos de 130 euros — começou a decair e, presentemente, Lasandra ganha menos de metade desse valor. A escassez e o preço dos combustíveis, que em oito meses sofreram aumento na ordem dos 250%, explicam apenas parte do problema. A quebra de receitas provindas do turismo, muito lucrativa no país, assim como das remessas de emigrantes, tiveram impacto severo na economia do Sri Lanka — problema que o Presidente Gotabaya Rajapaksa não soube enfrentar e que conduziu milhares de manifestantes até às ruas do país.

Assim, Lasandra Deepthi passa grande parte do seu dia em filas para poder abastecer o seu tuk-tuk. "Passo mais tempo em filas para abastecer do que a fazer qualquer outra coisa", contou a motorista à Reuters. "Às vezes, entro numa fila às 15h e só consigo abastecer 12 horas depois." Há vezes até, recorda, que entra numa fila e não chega a abastecer porque o posto fica sem combustível.

Desde o estalar da crise, Lasandra debate-se com a dificuldade de encontrar combustível e a preços que possam tornar a sua actividade mais rentável, uma vez que o volume de negócios sofreu uma quebra, ao mesmo tempo que a inflação ultrapassou os 30% em 2022, em comparação com período homólogo do ano anterior. A Reuters refere que o Sri Lanka enfrenta a pior crise económica desde o momento da sua independência, em 1948.

Lasandra vive numa casa arrendada de duas assoalhadas, em Gonapola, uma pequena vila nos arredores de Colombo, a capital do Sri Lanka, na companhia da sua mãe e três irmãos mais novos. A sua filha, que é enfermeira, e a sua neta recém-nascida vivem a 170 quilómetros de distância, na cidade costeira de Matara e Lasandra não consegue suportar os custos da viagem. "Mal consigo comprar arroz e vegetais para a minha família", lamenta. "Não encontro os medicamentos que a minha mãe precisa. Como vamos viver no próximo mês? Não sei como será o nosso futuro."

Lasanda Deepthi reza no interior do seu veículo, antes de dar início a mais uma jornada de trabalho, em Gonapola, Colombo, Sri Lanka
Lasanda Deepthi reza no interior do seu veículo, antes de dar início a mais uma jornada de trabalho, em Gonapola, Colombo, Sri Lanka ADNAN ABIDI/REUTERS
Veículos formam fila para abastecer num posto de combustível em Gonapola, nos arredores da capital do Sri Lanka
Veículos formam fila para abastecer num posto de combustível em Gonapola, nos arredores da capital do Sri Lanka ADNAN ABIDI/REUTERS
Lasanda Deepthi aguarda na fila que se forma junto a uma bomba de combustível, em Gonapola, Colombo, Sri Lanka.
Lasanda Deepthi aguarda na fila que se forma junto a uma bomba de combustível, em Gonapola, Colombo, Sri Lanka. ADNAN ABIDI/REUTERS
Lasanda Deepthi enche um depósito portátil com combustível durante as primeiras horas da manhã, num posto de abastecimento nos arredores de Colombo, Sri Lanka
Lasanda Deepthi enche um depósito portátil com combustível durante as primeiras horas da manhã, num posto de abastecimento nos arredores de Colombo, Sri Lanka ADNAN ABIDI/REUTERS
Lasanda Deepthi conduz o seu veículo numa rua de Gonapola, nos arredores da capital do Sri Lanka
Lasanda Deepthi conduz o seu veículo numa rua de Gonapola, nos arredores da capital do Sri Lanka ADNAN ABIDI/REUTERS
Passageira paga viagem a Lasandra Deepthi, após a chegada ao destino, em Gonapola, nos arredores de Colombo, no Sri Lanka. É raro uma mulher conduzir um tuktuk no país que tem 22 milhões de habitantes. Deepthi conduz o seu há sete anos utilizando a app PickMe, para prover para a sua família de cinco elementos
Passageira paga viagem a Lasandra Deepthi, após a chegada ao destino, em Gonapola, nos arredores de Colombo, no Sri Lanka. É raro uma mulher conduzir um tuktuk no país que tem 22 milhões de habitantes. Deepthi conduz o seu há sete anos utilizando a app PickMe, para prover para a sua família de cinco elementos ADNAN ABIDI/REUTERS
Passageiro conversa com Lasandra após a chegada do destino, em Gonapola
Passageiro conversa com Lasandra após a chegada do destino, em Gonapola ADNAN ABIDI/REUTERS
Lasanda Deepthi ri enquanto conversa com um amigo na sua oficina, em Gonapola, Colombo, Sri Lanka
Lasanda Deepthi ri enquanto conversa com um amigo na sua oficina, em Gonapola, Colombo, Sri Lanka ADNAN ABIDI/REUTERS
Lasanda Deepthi limpa o seu veículo junto à sua casa, em Gonapola, Colombo, Sri Lanka
Lasanda Deepthi limpa o seu veículo junto à sua casa, em Gonapola, Colombo, Sri Lanka ADNAN ABIDI/REUTERS
Além de condutora de tuktuk, Lasanda Deepthi vende chinelos feitos à mão à porta de sua casa, em Gonapola
Além de condutora de tuktuk, Lasanda Deepthi vende chinelos feitos à mão à porta de sua casa, em Gonapola ADNAN ABIDI/REUTERS
Nas primeiras horas da manhã, Lasanda Deepthi espera numa longa fila, no interior do seu veículo, para abastecer o tuktuk com combustível, a 26 de Maio de 2022. "Passo mais tempo na fila para abastecer do que a fazer qualquer outra coisa", disse à Reuters. "Às vezes entro na fila às 3 da tarde e só consigo abastecer 12 horas depois. Uma vez, quando chegou a minha vez, a bomba ficou sem combustível."
Nas primeiras horas da manhã, Lasanda Deepthi espera numa longa fila, no interior do seu veículo, para abastecer o tuktuk com combustível, a 26 de Maio de 2022. "Passo mais tempo na fila para abastecer do que a fazer qualquer outra coisa", disse à Reuters. "Às vezes entro na fila às 3 da tarde e só consigo abastecer 12 horas depois. Uma vez, quando chegou a minha vez, a bomba ficou sem combustível." ADNAN ABIDI/REUTERS
Lasanda Deepthi aguarda numa fila, no interior do seu veículo, para abastecer com combustível, durante as primeiras horas da manhã, em Gonapola, Colombo, Sri Lanka
Lasanda Deepthi aguarda numa fila, no interior do seu veículo, para abastecer com combustível, durante as primeiras horas da manhã, em Gonapola, Colombo, Sri Lanka ADNAN ABIDI/REUTERS
Condutores junto aos seus veículos numa fila para compra de combustível durante as primeiras horas da manhã, junto a um posto de combustíveis, em Gonapola, Colombo, Sri Lanka
Condutores junto aos seus veículos numa fila para compra de combustível durante as primeiras horas da manhã, junto a um posto de combustíveis, em Gonapola, Colombo, Sri Lanka ADNAN ABIDI/REUTERS
Manifestantes empurram os seus veículos sem combustível durante um protesto contra a crise económica que assola o país, em Colombo, Sri Lanka
Manifestantes empurram os seus veículos sem combustível durante um protesto contra a crise económica que assola o país, em Colombo, Sri Lanka ADNAN ABIDI/REUTERS
Veículos formam fila para comprar combustível nas primeiras horas da manhã, junto a um posto de abastecimento em Gonapola, Colombo
Veículos formam fila para comprar combustível nas primeiras horas da manhã, junto a um posto de abastecimento em Gonapola, Colombo ADNAN ABIDI/REUTERS
Lasanda Deepthi, 43 anos, conduz um tuktuk e utiliza a app PickMe para transportar passageiros. Na imagem, ela fala ao telefone junto à entrada de sua casa, em  Gonapola, nos arredores de Colombo, no Sri Lanka
Lasanda Deepthi, 43 anos, conduz um tuktuk e utiliza a app PickMe para transportar passageiros. Na imagem, ela fala ao telefone junto à entrada de sua casa, em Gonapola, nos arredores de Colombo, no Sri Lanka ADNAN ABIDI/REUTERS
Nuwantha Kasun Jayathileke, de 30 anos, ajuda Lasanda Deepthi a preparar o almoço para a família, na residência da família, em Gonapola
Nuwantha Kasun Jayathileke, de 30 anos, ajuda Lasanda Deepthi a preparar o almoço para a família, na residência da família, em Gonapola ADNAN ABIDI/REUTERS
Nuwantha Kasun Jayathileke,, irmão de Lasanda Deepthi, mostra as viagens disponíveis na app PickMe, na residência da família, em Gonapola, nos arredores da capital do Sri Lanka
Nuwantha Kasun Jayathileke,, irmão de Lasanda Deepthi, mostra as viagens disponíveis na app PickMe, na residência da família, em Gonapola, nos arredores da capital do Sri Lanka ADNAN ABIDI/REUTERS