As crianças comem vegetais quando incentivadas por recompensas divertidas

É comum as crianças torcerem o nariz aos vegetais — mas, fazê-las comer (e até gostar) não é uma causa perdida. Um novo estudo sugere que a recompensa pode ser a via para uma alimentação mais saudável.

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"Crianças pequenas tipicamente têm de experimentar um novo vegetal oito a nove vezes antes de gostarem" Rui Gaudêncio/Arquivo

Recompensas divertidas são a chave para as crianças comerem mais vegetais, revela um estudo apresentado no último Congresso Europeu da Obesidade, que decorreu de 4 a 7 de Maio. Apesar da importância de dar algo aos mais novos por comerem verduras, é igualmente importante ter em conta o tipo de recompensa. “Deve ser engraçado, mas não comida”, alerta uma das investigadoras responsáveis, Britt van Belkom.

Pelo menos é o que sugere o novo estudo — cujo artigo completo ainda não se encontra disponível — liderado por quatro investigadores da Universidade de Maastricht, nos Países Baixos. Ao longo de três meses, 598 crianças com entre um e quatro anos, em centros de dia, foram divididas em três grupos distintos para se perceber quais as vantagens e desvantagens envolvidas nos métodos utilizados.

Assim, só uma parte destas recebeu recompensa por comer os vegetais. Entre as restantes crianças, um conjunto destas recebeu vegetais — seis para comer; 14 para identificar —, mas nada em troca, e um outro grupo não teve direito a vegetais no prato no centro de dia.

A partir dessa divisão, a investigação visava essencialmente compreender “se dar uma recompensa divertida faria a diferença”. A conclusão é que sim: dar a provar verduras a crianças, dando-lhes algo em troca, como brinquedos e autocolantes, é uma experiência positiva. Aprendem a identificar melhor os vegetais e passam a comer de forma mais saudável.

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Annie Spratt/Unsplash

A saúde no prato

A partir da comparação dos diferentes grupos, concluiu-se que há benefícios em ser recompensado. “Recompensar crianças pequenas por provarem vegetais parece aumentar a sua vontade em experimentar diferentes vegetais”, partilha Britt van Belkom, uma das investigadoras responsáveis.

As crianças do primeiro grupo foram as únicas que passaram a comer mais vegetais — sete em vez de cinco a seis (de um total de duas peças de cada um da meia dúzia de vegetais). Em oposição, as crianças do último grupo passaram a comer menos vegetais. Já no que toca às que tiveram direito a esses alimentos, mas não a recompensa, os números mantiveram-se inalterados.

O mesmo não se verificou no momento de identificar cada vegetal, com todos os envolvidos a saberem nomear mais alimentos no fim do estudo do que no início, quer lhes tenham sido oferecidos vegetais ou não. No geral, as crianças revelaram-se capazes de identificar oito vegetais antes e dez depois, de um total de 14. Entre as que foram expostas a verduras, passou de nove para 11. Britt van Belkom considera, assim, que “oferecer vegetais regularmente a crianças novas em centros de dia aumenta significativamente a sua habilidade para reconhecer variados vegetais”.

E é importante que assim seja, pois quanto mais cedo “se começar a comer vegetais” melhor, considera Britt van Belkom, da Universidade de Maastricht. Pesquisa passada mostra mesmo que é um processo longo e difícil, dado “que crianças pequenas tipicamente têm de experimentar um novo vegetal oito a nove vezes antes de gostarem”.

Acrescenta-se ainda uma maior relevância aos dados deste estudo com os números disponíveis relativamente à alimentação dos mais novos. Em 2021, o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge concluiu que menos de um terço (31%) dos alimentos para crianças entre os seis e os 36 meses cumprem com todos os critérios nutricionais da Organização Mundial da Saúde (OMS).

É, por isso, fundamental, sustenta este novo estudo, apostar em opções diferentes e divertidas, como brinquedos e autocolantes. Se as crianças acabarem por comer mais vegetais e, assim, terem uma alimentação mais saudável, o seu risco de contrair obesidade, doenças cardiovasculares e cancro reduz-se. As crianças ficam a ganhar na saúde e na sua satisfação.


Texto editado por Carla B. Ribeiro

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