Consumo privado explica aceleração da economia no início do ano

INE confirma crescimento de 2,6% registado no primeiro trimestre e revela cenário em que o consumo privado recupera, enquanto as trocas comerciais com o estrangeiro abrandam

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Paulo Pimenta

Foi a aceleração do consumo privado, principalmente de bens duradouros, que mais contribuiu para o surpreendente crescimento de 2,6% da economia portuguesa no primeiro trimestre deste ano, o mais forte da União Europeia.

Esta terça-feira, o Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmou que, nos primeiros três meses deste ano, a taxa de variação em cadeia do PIB foi de 2,6% e que a variação face ao período homólogo de 2021 (um trimestre em que a economia sofreu com as medidas de confinamento tomadas para combater a pandemia) chegou aos 11,9%, dados que já tinham sido apresentados há duas semanas, quando foi divulgada a primeira estimativa rápida para as contas nacionais.

Os dados publicados agora, contudo, acrescentam informação sobre como se comportaram durante esse período as diversas componentes do PIB e, a esse nível, ficou claro que o forte crescimento registado teve uma ajuda muito significativa de uma aceleração do consumo das famílias, feita em simultâneo com um abrandamento acentuado das importações.

De acordo com o INE, no primeiro trimestre do ano, o consumo privado cresceu 2,2% face ao trimestre imediatamente anterior, uma variação que é o dobro da registada nos últimos três meses de 2021. A variação homóloga do consumo privado, por sua vez, passou de 5,5% para 13%.

O crescimento do consumo foi particularmente forte no caso dos bens duradouros, uma categoria onde se inclui, por exemplo, a aquisição de automóveis ou de electrodomésticos. Aqui, a variação em cadeia foi de 6,4% e a homóloga de 20,7%, o que mostra que os portugueses, depois da poupança forçada registada durante a pandemia, decidiram, nos primeiros meses deste ano, realizar algumas aquisições mais importantes.

O crescimento do consumo de bens não duradouros também acelerou, de 0,6% no quarto trimestre de 2021 para 1,7% no primeiro trimestre de 2022.

Estas acelerações do consumo privado, nomeadamente de bens duradouros, são muitas vezes acompanhadas por um crescimento forte também das importações, o que acaba por mitigar o efeito positivo no crescimento do PIB. No entanto, desta vez isso não aconteceu.

O INE revela que as importações, depois de na segunda metade do ano passado terem acelerado fortemente, registaram uma variação em cadeia nos primeiros três meses do ano de apenas 0,7%, um abrandamento acentuado face aos 7,7% do trimestre anterior. Em termos homólogos, a variação passou de 13,6% para 13,1%.

O efeito da guerra na Ucrânia neste indicador durante o mês de Março pode ter sido determinante, tendo afectado também a evolução das exportações, cuja variação em cadeia passou de 9,1% para 1,7%.

Acrescentando ainda o ligeiro abrandamento registado no investimento (cresceu 3,3% contra 4,4% no trimestre anterior), aquilo que se verifica é que, para o crescimento de 2,6% da economia, contributo da procura interna (consumo e investimento) foi de 2,2 pontos percentuais, enquanto o contributo da procura externa líquida (exportações menos importações) foi apenas de 0,4 pontos percentuais.

Os dados do primeiro trimestre mostram uma economia que, apenas parcialmente, está a sentir os efeitos da guerra na Ucrânia, iniciada no final de Fevereiro, nomeadamente a aceleração da taxa de inflação que, em Maio, atingiu já os 8% e que pode conduzir a alterações significativas nos comportamentos dos agentes económico logo no decorrer do segundo trimestre do ano.

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