Extremistas entoam cânticos racistas na marcha do Dia de Jerusalém

Marcha das bandeiras teve este ano mais participação do que nunca, diz o diário Times of Israel.

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Manifestantes nacionalistas na Porta de Damasco, que dá acesso à parte muçulmana da Cidade Velha de Jerusalém RONEN ZVULUN/Reuters

Cerca de 50 mil pessoas participaram na extremista “marcha das bandeiras”, passando pela Porta de Damasco, que dá acesso à parte muçulmana dentro dos muros da Cidade Velha de Jerusalém, com alguns cânticos de “morte aos árabes”. Segundo o jornal Times of Israel, a participação na marcha, que acontece no Dia de Jerusalém, foi este ano a maior de sempre.

O Crescente Vermelho diz ter tratado 40 pessoas na Cidade Velha e arredores, das quais 15 precisaram de tratamento hospitalar. O diário Times of Israel fala de três judeus israelitas feridos. A polícia da cidade disse que cinco agentes foram feridos sem gravidade, e que foram detidas 50 pessoas por “motim” ou agressão aos polícias.

A marcha do dia em que Israel assinala o aniversário da conquista da parte oriental de Jerusalém na guerra de 1967 (território que depois anexou, numa acção nunca reconhecida internacionalmente), estava a ser seguido com especial preocupação não só pela violência durante o percurso, mas pelo potencial de levar a confrontos alargados.

A marcha, junto com uma decisão sobre expropriação de famílias e restrições na mesquita de Al-Aqsa durante o Ramadão, contribuiu para o conflito no ano passado entre o Hamas, no poder na Faixa de Gaza, e Israel, com o Hamas a cumprir a ameaça que dispararia se a marcha começasse na Porta de Damasco – as sirenes de aviso de ataque soaram e a marcha dispersou. O conflito durou onze dias e terminou com 256 pessoas mortas na Faixa de Gaza e 14 em Israel (morreram ainda dois judeus em motins em cidades israelitas de Lod e Acre, conhecidas como “cidades mistas” por terem uma população árabe superior à de outras cidades do Estado judaico).

Este ano, temia-se uma repetição da escalada, e Israel esta​va ainda especialmente alerta para uma potencial acção de retaliação do Irão pelo assassínio do coronel Hassan Sayyad Khodayari, comandante da Força al-Quds (a unidade de elite dos Guardas da Revolução), morto a tiro à porta de casa, há uma semana, em Teerão, num ataque que o regime atribui a Israel.

Entre os grupos que entoaram as palavras mais chocantes, estavam os supremacistas judaicos da organização Lehava (que luta contra casamentos entre judeus e não judeus) e La Famiglia, uma claque do clube de futebol Beitar Jerusalem. A jornalista Noga Tarnopolsky dizia que alguns dos participantes da marcha gritaram “que ardam as vossas aldeias” ou ainda “Shuafat está a arder”, uma referência a Mohammed Abu Khdeir, de 16 anos, habitante do bairro de Shuafat em Jerusalém que, em 2014, foi raptado e queimado vivo – morreu na sequência das queimaduras.

Nir Hassan, jornalista que fez a cobertura do dia para o Haaretz, deixava um desabafo no Twitter, dizendo que há 13 anos que assiste à marcha e que a deste domingo “foi a pior de sempre”.

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