Bachelet criticada por ter ido a Xinjiang em visita estritamente controlada pela China

A alta comissária da ONU para os direitos humanos andou seis dias na China numa bolha de segurança para evitar a transmissão da covid. EUA diz que a imposição chinesa não permite uma avaliação. Foi “um erro” diz Washington. A ex-Presidente chilena diz que confrontou o Governo chinês e levantou questões sobre a política de direitos humanos chinesa.

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Michelle Bachelet numa reunião em Pequim com o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi OHCHR/Reuters

Michelle Bachelet, a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos cuja rara visita à China está a ser criticada por organizações de direitos humanos e países ocidentais, afirmou que incitou Pequim a rever as suas políticas de contraterrorismo para assegurar que estão de acordo com os padrões internacionais de defesa dos direitos humanos.

A ex-Presidente do Chile reiterou, porém, que a sua visita de seis dias à China, que terminou no sábado e incluiu uma visita à província de Xinjiang, não tinha como objectivo investigar a política de direitos humanos da China, antes uma oportunidade para conversar com o governo.

A visita de Bachelet à China, a primeira de uma pessoa no seu cargo em 17 anos, começou na segunda-feira na cidade de Cantão (Guangzhou), no Sul, antes de viajar até Xinjiang.

O seu gabinete referiu, no ano passado, que havia uigures a serem detidos ilegalmente, maltratados e obrigados a trabalhos forçados.

“Levantei questões e preocupações sobre a aplicação de medidas de contraterrorismo e desradicalização de uma forma generalizada, com impacto especial nos direitos dos uigures e outras minorias predominantemente muçulmanas”, disse Bachelet durante uma conferência de imprensa virtual no sábado.

A China nega todas as acusações de abusos em Xinjiang.

O acesso de Bachelet foi limitado pois a China providenciou que a alta comissária viajasse em “circuito fechado” – isolando as pessoas numa bolha para prevenir surtos de covid-19 – e sem a presença de jornalistas internacionais.

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, afirmou que o Governo norte-americano está “preocupado” com a visita de Bachelet à China.

“Estamos preocupados pelo facto de as condições impostas pelas autoridades de Pequim à visita não permitirem uma avaliação completa e independente do ambiente de direitos humanos na República Popular da China, incluindo em Xinjiang, onde o genocídio e os crimes contra a humanidade continuam”, disse o chefe da diplomacia norte-americana em comunicado na noite de sábado.

Os EUA está “ainda mais incomodado” pelas informações de que habitantes de Xinjiang foram pressionados para não se queixarem sobre as condições na região.

“Deveria ter sido permitida à Alta Comissária reuniões privadas com familiares das comunidades uigures e de outras minorias étnicas na diáspora que não estão em centros de detenção, mas estão proibidos de viajar para fora da região”, acrescentou.

Organizações de direitos humanos e países ocidentais temem que a China utiliza esta viagem como um aval ao seu registo em matéria de direitos humanos. O porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Ned Price, disse na terça-feira que “foi um erro concordar com uma visita nestas circunstâncias”.

A China negou inicialmente a existência de campos de detenção em Xinjiang, mas em 2018 afirmou que tinha criado “centros de formação vocacional”, necessários, segundo Pequim, para refrear o terrorismo, o separatismo e o radicalismo religioso na região.

Bachelet afirma que discutiu com o Governo chinês a questão da falta de supervisão judicial independente do funcionamento desses centros e as alegações do uso da força, maus tratos e enormes restrições das práticas religiosas.

Em 2019, o governador de Xinjiang, Shohrat Zakir, disse que todos os que estavam nesses centros se tinham “formado”.

Durante a conferência de imprensa, Bachelet também se mostrou “profundamente preocupada” pela detenção de activistas, advogados e jornalistas em Hong Kong.

Reuters

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