Morreu Mário Mesquita, o professor a quem todos chamavam “jornalista”

Mário Mesquita foi fundador do PS, jornalista e professor universitário. Ocupava o cargo de vice-presidente do Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

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Mário Mesquita nasceu em Ponta Delgada, nos Açores, em Janeiro de 1950 Nuno Ferreira Santos

“Fazendo as contas, fui mais anos professor do que fui jornalista. Mas as pessoas quando se referem a mim dizem ‘o jornalista Mário Mesquita’. Presumo que no meu necrológico também sairá ‘o jornalista Mário Mesquita'…” Há menos de um ano, em Agosto de 2021, Mário Mesquita, num acesso de humor negro, como escreveu a jornalista Ana Sá Lopes que o entrevistou para o PÚBLICO, disse esta frase. Porque talvez poucos o reconheçam como vice-presidente do Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), muitos já não se lembram que foi um dos fundadores do PS, mas tantos mais se lembrarão que foi director do Diário de Notícias e professor de muitos jornalistas que passaram pela Universidade Nova de Lisboa e pela Escola Superior de Comunicação Social de Benfica onde deu aulas. O jornalista Mário Mesquita morreu esta sexta-feira, aos 72 anos, confirmou ao PÚBLICO fonte próxima da família.

Numa nota publicada no site, a ERC refere que “foi com profunda tristeza” que tomou conhecimento do falecimento de Mário Mesquita, vice-presidente da instituição desde Dezembro de 2017.

“Eleito pela Assembleia da República, para Membro do Conselho Regulador, foi escolhido pelos seus pares para vice-presidente da ERC. No exercício destas funções, pôde aplicar os seus profundos conhecimentos e experiência na área da Comunicação Social, sendo de grande valor os seus muitos contributos”, destaca a nota.

A ERC salienta ainda que a passagem de Mário Mesquita pela instituição “fica assinalada pelas suas sempre oportunas intervenções e, também, pelo permanente empenho no enriquecimento da instituição, designadamente através da publicação de trabalhos especializados sobre matérias do maior interesse para a Comunicação Social”.

“A ERC presta a sua sentida homenagem ao jornalista, politico e académico Mário Mesquita e à família enlutada apresenta os sentidos pêsames”, conclui.

​Mário Mesquita nasceu em Ponta Delgada, nos Açores, em Janeiro de 1950.

Licenciado em Comunicação Social pela Universidade Católica de Lovaina, Mário Mesquita foi director do Diário de Notícias e do Diário de Lisboa. Trabalhou no jornal República e foi colunista do PÚBLICO.

Mário Mesquita esteve ligado à oposição democrática desde a sua juventude, apoiando a CDE dos Açores em 1969 e 1973 e estando sempre próximo de figuras socialistas como Jaime Gama e Carlos César.

Esteve depois entre os fundadores do PS, a 19 de Abril de 1973, na República Federal Alemã, e após o 25 de Abril de 1974 foi deputado à Assembleia Constituinte (1975-1976).

Na primeira legislatura, voltou a ser eleito deputado pelos socialistas, mas afastou-se do PS em 1978.

Como professor universitário, entre outros estabelecimentos de ensino, deu aulas na Escola Superior de Comunicação Social em Lisboa e ajudou a fundar a licenciatura em Jornalismo na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Em 1981, foi agraciado com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique pelo então Presidente da República, general Ramalho Eanes.

As reacções à morte do jornalista, político e académico

A direcção do Partido Socialista expressou “o seu pesar perante a notícia do falecimento” do jornalista, que “construiu uma carreira marcada pelo pensamento crítico e livre, que acompanhou sempre a práxis da sua vida política, profissional e académica”. Segundo o partido, Mário Mesquita deixou “uma herança profundamente matizada pelo pioneirismo no que toca ao jornalismo, ao seu ensino e à área das Ciências da Comunicação em geral”.

O antigo presidente da Assembleia da República (AR), João Mota Amaral, também reagiu à notícia. “O legado intelectual, cívico e político de Mário Mesquita é de grande riqueza para os Açores e não pode nem deve ser esquecido”, escreveu numa nota de pesar.

“Mário Mesquita esmerou-se em defender as Regiões Autónomas dos ferozes ataques contra elas desferidos à época pelas forças centralistas, que identificou, em termos magistrais, como sendo ‘os burocratas, os tecnocratas e os militares’ “, vincou o fundador do PSD.

Também o actual presidente da AR, Augusto Santos Silva, lamentou a morte do professor. “Jornalista e professor e investigador em jornalismo, era actualmente vice-presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. O nosso país e a nossa liberdade de imprensa devem-lhe muito”, partilhou Augusto Santos Silva na rede social Twitter.

Para o Presidente da República, “ninguém que tenha vivido a política e o jornalismo portugueses do último meio século ignora o percurso e a personalidade de Mário Mesquita”. Numa nota de pesar publicada no site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa referiu: “quem, como eu, conviveu com Mário Mesquita conhece também, ou conhece por maioria de razão, características suas a que não deixava de atribuir um certo cunho “açoriano”, ou não fosse micaelense: a independência, a coragem, a determinação e o humor”.

Texto actualizado às 19h11: acrescenta a reacção do Presidente da República.

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