Pico de casos de covid-19 já terá passado e Governo não vai endurecer medidas

Calendário de vacinação para o próximo Outono será apresentado até dia 9 de Junho. É provável que possa vir a ser recomendada uma nova dose de reforço logo a partir dos 65 anos.

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Governo não vai adoptar mais restrições para fazer face à pandemia PÚBLICO

Pelo menos para já, o Governo não vai impor novas restrições relativas à pandemia de covid-19, mantendo as medidas actualmente em vigor. Esta quinta-feira, na conferência de imprensa que se seguiu à reunião do Conselho de Ministros, a ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, disse que a análise feita pelos peritos de saúde indica que o pico de infecções em Portugal já terá sido ultrapassado.

“Ontem [quarta-feira], a senhora ministra da Saúde e eu reunimo-nos com o conjunto de peritos que tem apoiado o Governo nas suas decisões. A análise dos números neste momento indica que, muito provavelmente, o pico já terá passado – com algumas regiões já com quedas visíveis e vários grupos etários também. Pelo que a decisão do Conselho de Ministros foi manter as medidas em vigor”, disse Mariana Vieira da Silva.

O Governo decidiu prolongar a situação de alerta em Portugal até ao dia 30 de Junho. A ministra relembrou que o fim de obrigatoriedade de máscara não significa que “não deva ser utilizada em situações de maior risco”.​

A média de casos diários de covid-19 voltou a aumentar de 22.805 para 29.101 e todas as regiões registam um índice de transmissibilidade, R(t), do coronavírus superior ao limiar de 1, indicou nesta quarta-feira o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa). Segundo o relatório semanal sobre a evolução da pandemia de covid-19 no país, o R(t) a nível nacional baixou de 1,23 para 1,13, mas todas as regiões apresentam a média deste indicador a cinco dias superior a 1, o que “indica uma tendência crescente” de infecções.

Mas também o epidemiologista Manuel Carmo Gomes disse que o país está “a passar por cima do pico” desta onda. O especialista explicou ao PÚBLICO que desde o início da semana se começou a perceber um desacelerar dos novos casos. Com dados até ao dia 23, “estávamos com 27 mil novos casos por dia em média”. “Vamos ver se entramos num patamar ou não, mas depois começaremos a descer”, disse, referindo que já se começa a observar uma estabilização nos internamentos em enfermaria e em cuidados intensivos. “A situação está a evoluir favoravelmente. Também por isso não vejo razão para se fazerem alterações às medidas que tinham sido decididas.”

Quanto à mortalidade, que acontece sobretudo nos mais idosos, “também vai descer”, seguindo a tendência do decréscimo da incidência. Em Maio, “78% dos óbitos foram em pessoas com mais de 80 anos e, dentro destes, metade tinha mais de 90 anos”, apontou. Foi esta razão, a par do aumento da incidência, que levou a Comissão Técnica de vacinação para a covid-19 a recomendar a antecipação da dose de reforço para as pessoas com mais de 80 anos para esta fase. Na opinião de Carmo Gomes, que salienta que a comissão não tomou uma decisão definitiva sobre o assunto, “não faz sentido antecipar neste momento a dose de reforço para idades abaixo dos 80 anos porque a evolução epidemiológica é favorável”.

Outras idades em análise

Sobre eventuais acelerações da aplicação da quarta dose da vacina contra a covid-19 em Portugal, a ministra Mariana Vieira da Silva disse que o calendário de vacinação para o próximo Outono será apresentado até dia 9 de Junho. Esta calendarização foi avançada após uma questão sobre a vacinação contra a covid-19 destinada a faixas etárias abaixo dos 80 anos.

“Neste momento, está em curso a vacinação dos maiores de 80 e dos cidadãos que residem em estruturas residenciais para idosos. Entre a próxima semana e a semana seguinte, o Ministério da Saúde vai anunciar o plano de vacinação para o próximo Outono”, respondeu Mariana Vieira da Silva. De acordo com a ministra da Presidência, nesse plano de vacinação contra a covid-19, vão constar as decisões relativamente às outras faixas etárias, tendo também em conta informações mais recentes dos parceiros europeus de Portugal”. “Será um anúncio que o Ministério da Saúde fará”, reforçou.

Em relação ao próximo Outono-Inverno, Manuel Carmo Gomes considerou que “é altamente provável” que haja um ressurgimento das infecções. Lembrou que nos invernos passados, mesmo antes do surgimento das novas variantes, registaram-se aumentos de novos casos e de internamentos. Razão pela qual será de esperar que algo semelhante aconteça em Outubro ou Novembro, mesmo que não haja uma nova subvariante da Ómicron.

“É altamente provável que necessitemos de reforçar a protecção dos maiores de 80 anos para os preparar para o próximo Outono-Inverno, porque a protecção contra infecção começa a decair ao final de três a quatro meses [após a vacinação]”, disse o especialista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, referindo que como se espera um aumento da incidência e dos internamentos nessa altura a protecção será provavelmente alargada a outras idades.

“É provável que avancemos com esse reforço para a casa dos 65 anos na antecipação do Inverno”, disse, salientando que o processo ainda não está fechado. “Em princípio vai ser combinado com a vacina da gripe por razões logísticas e a partir dos 65 anos, que é a idade que se usa para a gripe”, disse. “A principal preocupação é proteger contra doença grave. Neste momento, não existe evidência que dar uma quarta dose abaixo dos 60 anos proteja mais contra doença grave”, referiu. O processo de avaliação é contínuo e se existir alguma alteração dos dados, isso será sempre considerado.

Evolução mais próxima dos outros coronavírus

O epidemiologista explicou que houve uma alteração na evolução do SARS-CoV-2. Antes da Ómicron, o vírus evoluiu através de novas variantes que surgiram em diferentes partes do mundo e que se caracterizavam “por aumentarem a transmissibilidade”. “A partir da Ómicron as coisas mudaram”, disse, referindo que esta variante “não se caracteriza por ser mais transmissível do que a Delta”. “A Ómicron caracteriza-se por fugir ao sistema imunitário humoral, que são os anticorpos que estão em circulação no sangue.”

“A Ómicron está a evoluir no sentido de aparecerem novas sub-variantes que se caracterizam por fugir aos anticorpos causados pelas infecções das variantes anteriores e pela vacinação. Isto é aquilo que é normal nos coronavírus que causam constipações - temos quatro - todos os anos. Podemos ser infectados por neste Inverno e daqui a três invernos podemos ser reinfectados pelo mesmo coronavírus. É o mesmo com algumas alterações, com algumas mutações novas”, o que faz prever que quando se chegar ao próximo Outono-Inverno exista outra subvariante da Ómicron.

Questionado sobre as novas vacinas, o especialista lembrou que há fabricantes a trabalhar em novas formulações, mas que a questão não tem sido fácil. Dá o exemplo do desenvolvimento que estava a ser feito para a variante Delta, mas entretanto surgiu a Ómicron. Mas esta não é a única questão que se coloca. “Não é claro, por várias razões, que uma vacina adaptada à Ómicron tenha vantagem relativamente à velha vacina”, diz o especialista, acrescentando que uma possível um vacina bivalente também existe mais tempo de ensaios. Ou seja, ainda não sabe que vacina poderá ser usada no Inverno. “Estão a sair muitos resultados de estudos e estamos a acompanhar.”

Manuel Carmo Gomes aproveitou para apelar às pessoas com menos de 50 anos que ainda não fizeram a terceira dose que a façam. As taxas de vacinação – dados a 23 de Maio – mostravam que na faixa etária dos 20-29 anos só 49% tinham feito a dose de reforço, na dos 30-39 anos esse valor estava nos 55% e que nos 40-49 anos estava nos 68%.

“O reforço faz subir os anticorpos - essa é que eventualmente evita que sejamos infectados – e tem um segundo efeito mais importante que é sobre a imunidade celular, que são as células de memória que nos protegem de doença grave. Está demonstrado que quando fazemos a terceira dose essa imunidade celular é reforçada no sentido em que o nosso organismo adquire maior capacidade de reconhecer as variantes do SARS-CoV-2, mesmo futuras variantes.” Com Lusa

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