Engenheiro iraniano morto em “acidente” no complexo militar de Parchin

Suspeita-se que o complexo, a sul de Teerão, tenha sido usado para testar explosivos convencionais que podem ser usados para detonar uma ogiva nuclear.

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O Irão prometeu vingar a morte do coronel Khodayari, comandante da Força al-Quds Reuters/WANA NEWS AGENCY

Uma pessoa morreu e outra ficou ferida no que os media iranianos descrevem como um “acidente industrial” em Parchin, um complexo do Ministério da Defesa nos arredores de Teerão. Segundo o comunicado divulgado, entretanto, pelo Ministério, “estão a decorrer investigações sobre a causa do acidente”. As vítimas são dois engenheiros.

Este incidente, na noite de quarta-feira, acontece apenas três dias depois do assassínio do coronel Hassan Sayyad Khodayari, comandante da Força al-Quds (a unidade de elite dos Guardas da Revolução), abatido a tiro à porta de sua casa, na capital iraniana, num ataque que o regime atribui a Israel. Um responsável dos serviços secretos norte-americanos disse na quarta-feira ao jornal The New York Times que Israel admite ter estado por trás do assassínio – de acordo com membros dos Guardas da Revolução ouvidos pelo mesmo diário, Khodayari foi fundamental na transferência de drones e de tecnologia de mísseis para milícias sírias e para os combatentes do Hezbollah libanês.

Israel, que não fez nenhum comentário público sobre a morte de Khodayari, aumentou o nível de alerta de segurança nas suas embaixadas e consultados, com receio de um ataque retaliatório, escreveu o jornal The Times of Israel.

O complexo de Parchin está há anos sob suspeita de ser usado para actividades secretas do programa nuclear do Irão, nomeadamente para testar explosivos convencionais que podem ser usados para detonar uma ogiva nuclear. Em 2015, o então chefe da Agência de Internacional de Energia Atómica (AIEA) acabou por ser autorizado a fazer uma visita, último passo para permitir o levantamento das sanções ao país. Há dez anos que os inspectores estrangeiros tentavam sem sucesso aceder a estas instalações e as portas só se abriram quase dois meses depois da assinatura do histórico acordo internacional sobre o programa nuclear do país.

Teerão sempre garantiu que Parchin é um complexo militar sem ligações ao programa nuclear, estando, por isso, fora do domínio de acção da AIEA. Sete anos passados dessa visita, e nem o pacto sobre o nuclear iraniano nem a sua queda em desgraça – às mãos de Donald Trump, que dele retirou os EUA em 2018 – serviram para pôr fim ao secretismo: oficialmente ligado à produção de mísseis, Parchin tem sido palco de inúmeras explosões, incluindo várias atribuídas a Israel.

Em Junho de 2020, uma explosão num tanque de combustível junto ao complexo fez tremer Teerão, a 30 quilómetros, sem provocar vítimas. Outras explosões em Parchin aconteceram em 2007 e 2014.

O programa nuclear iraniano – que a República Islâmica sempre garantiu ter apenas fins civis – tem sido alvo de uma intensa campanha de sabotagem, ciberataques e de assassínios de alguns dos seus principais cientistas. Isto enquanto Israel sempre se opôs a negociações com Teerão sem nunca excluir a opção militar como meio para impedir o Irão de desenvolver uma bomba atómica.

Um novo pacto internacional esteve perto de ser concluído em Março, um ano depois do início das negociações (desbloqueadas com a eleição de Joe Biden para a Casa Branca). Mas duas semanas depois de ter invadido a Ucrânia, a Rússia deixou as negociações suspensas ao exigir garantias de que as suas relações com o Irão não seriam afectadas pelas sanções impostas na sequência da guerra.

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