Intelectuais assinalam Dia de África com carta aberta na defesa do “combate anti-racista radical”

O texto assinado por 20 figuras “de diversos países falantes de português”, entre elas os escritores Germano Almeida e José Eduardo Agualusa, alerta para a “ameaça clara e imediata” do crescimento do racismo.

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Nuno Ferreira Santos

São 20 nomes, do Brasil a Timor, figuras importantes no universo da língua portuguesa, que resolveram chamar a atenção para o fenómeno preocupante do aumento do racismo no mundo nesta quarta-feira, 25 de Maio, em que se assinala mais um Dia de África. E sublinhando que “o combate anti-racista radical é parte da luta mundial pela democracia e prosperidade”.

Numa carta aberta intitulada Combater o Racismo no Mundo, pretendem deixar “à consciência e decisão moral” de quem é contra o racismo para não baixar a guarda porque “o crescimento do racismo tomou de novo proporções de ameaça clara e imediata, em todos os continentes”.

“Os disfarces principais são o chamado identitarismo ou o fundamentalismo religioso e grande parte dessa ameaça está organizada em grupos financiados pelo grande capital ou por capital delinquente”, lê-se no texto assinado por escritores, professores, juristas, jornalistas e outras figuras da cultura e da educação de Angola, Timor Leste, Cabo Verde, Moçambique, Brasil, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Portugal.

Para estes intelectuais, o quadro actual em que ideias como a pureza racial, a raça como critério fundamental e a intimidação das vozes críticas “é inaceitável e inegociável”, mais ainda porque todos estiveram envolvidos, “em vários momentos históricos, nas lutas de libertação e/ou democratização” dos seus países, “enfrentando ameaças sob condições extremas”.

Afirmando-se “não raciais”, sublinham que “a ‘raça’ em nada nos define e combatemos sua utilização para definir cidadania, criar antagonismos e perseguições” e referem “alguns princípios tão simples quanto decisivos no sentido da construção de sociedades não raciais”.

São três princípios, confrontar sem medo a intimidação e a estigmatização, estar atento à deformação da história e ao “embelezamento de tragédias seculares” e à criação de mitos e falsos heroísmo e, por fim, perceber que o racismo é produto de “regimes injustos ou projectos para os estabelecer” e que devem ser combatidos.

Esta defesa do combate ao racismo é assinada por nomes que vão da ex-ministra da Justiça timorense Ângela Carrascalão ao escritor e investigador angolano Jonuel Gonçalves, habitual colaborador do PÚBLICO, passando pelos escritores Germano Almeida (Cabo Verde), José Eduardo Agualusa (Angola), Katia Casimiro (Portugal/Guiné-Bissau), Lectícia Trindade (São Tomé e Príncipe), David Capelenguela (Angola), Leão Lopes (Cabo Verde) que também é reitor do Instituto Universitário de Arte, Tecnologia e Cultura do Mindelo.

Também há um economista entre os subscritores, Eugénio Inocêncio (Cabo Verde); um urbanista, Fernando Tavares Alves (Guiana Francesa/Angola); uma jurista, Gisela Martins (Angola); uma administradora cultural, Maria Eduarda Albino (Brasil); uma arquitecta, Maria João Telles Grilo (Portugal/Angola); mais três professoras, Ana Maria Faria (Angola/Portugal), Shirlei Victorino (Brasil) e Tchiangui Cruz (Angola/Portugal); três jornalistas, Raimundo Salvador (Angola), Fernanda Almeida (Portugal/Moçambique) e Sílvia Milonga (Portugal/Angola). E, por fim, o poeta Lopito Feijó (Angola).

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