Na corrida para a exclusividade, Chanel pode vir a limitar o número de compras por pessoa

O responsável financeiro da casa francesa lembrou que os limites pretendem proteger os clientes e limitar as compras em grande quantidade. Contudo, os analistas dizem que o objectivo será tornar a marca ainda mais exclusiva.

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A icónica mala foi desenhada por Gabrielle Chanel em 1955 Reuters/Benoit Tessier

A Chanel pode vir a replicar os limites de compra que existem para a icónica mala da marca noutros produtos de luxo e em mais países, informou a casa francesa à Reuters. Sendo concretizada, a medida é mais uma a somar à lista de mudanças que as marcas de luxo têm vindo a tomar para controlar a distribuição quando há uma procura crescente dos seus produtos.

“Às vezes temos de limitar o número de itens que um só cliente pode comprar”, explica o responsável financeiro da Chanel, Philippe Blondiaux, em reacção a uma reportagem publicada sobre a plataforma de moda de luxo Pursebop, que só permite aos clientes comprar duas malas clássica da marca, por ano — o modelo custa mais de oito mil euros.

Blondiaux lembrou que os limites, que não serão impostos globalmente, pretendem proteger os clientes e limitar as compras em grande quantidade. Os analisas dizem, contudo, que o objectivo será tornar a marca ainda mais exclusiva e contrariar o boom da revenda de bens de luxo.

“A medida poderá ser aplicada em certos produtos — não apenas na clássica mala de aba. Poderá impactar outros itens com procura elevada e, felizmente ou infelizmente, existem muitos na Chanel”, destaca. “É o tipo de medida que podemos implementar em países diferentes em altura diferentes”, observa.

A casa de luxo francesa já está a limitar as compras da icónica mala na Coreia do Sul, onde as filas à porta das lojas de Seul se começam a formar ainda antes do amanhecer. Mal as portas se abrem, os clientes preparam-se para a corrida aos produtos. Há alguns revendedores que já se viram obrigados a contratar pessoas para ocuparem o seu lugar na fila — por 125 dólares por dia (cerca de 116 euros) — ou irem mesmo à loja fazer as compras.

Além de limitar o número de artigos, a marca também pretende diminuir a diferença de preço entre países. Depois do ultimo aumento em Março deste ano — o quarto desde o início de 2021 — algumas malas da Chanel custam hoje o dobro que em 2019. Mas a casa de Coco Chanel não é a única subir os preços, também a Louis Vuitton e Gucci, dos grupos LVMH e Kering, respectivamente, têm aumentado os valores dos produtos, de forma a proteger as margens e responder à escalada dos custos da logística.

Philippe Blondiaux não deixa de parte um novo aumento para Julho, para colmatar a flutuação da moeda e a inflação. As marcas de luxo pouco se têm ressentido com a falta de turismo que ainda persiste, já que a procura local cresceu nos últimos dois anos. E, ainda que as restrições e o aumento de preços possam causar alguma “frustração” nos clientes, o responsável garante que estes acabam sempre por ser compreensivos.

O executivo recordou, ainda, a recente polémica relacionada com os clientes russos a residir no estrangeiro, que apenas lhes permitia realizar compras no valor de 300 euros, lembrando que a marca está a corresponder às sanções internacionais. “Estas sanções dizem que não se podem vender produtos para uso na Rússia, quer se venda a um cliente russo, francês ou americano”, argumenta. As influencers russas não se mostraram tão compreensivas e tornaram-se virais com vídeos nas redes sociais onde se mostravam a cortar as carteiras da marca, sob a hastag #ByebyeChanel.

De acordo com a consultora financeira Bernstein, citada pelo Business of Fashion, os clientes russos deverão representar entre 4 e 8% do mercado de luxo global. Apesar de ter fechado temporariamente as 17 boutiques da marca na Rússia, a Chanel continua a pagar aos funcionários desse país e espera, a longo prazo, retomar as operações, informa Blondiaux.

Quanto a previsões, o grupo diz estar confiante face ao crescimento de 2022, mesmo tendo em conta os prejuízos causados pelos sucessivos confinamentos em vigor na China, desde Março. Em 2021, a casa de luxo francesa registou lucros de mais de 14 mil milhões de euros, mais 49,6% do que ano anterior.

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