Cartas ao director

Anglicismos a mais

Mesmo não sendo eu um especialista em linguagem escrita, considero que se está a abusar da utilização de anglicismos que, na maior parte das vezes, bem poderiam ser substituídos por palavras portuguesas.

Porquê “fake news” e não “notícias falsas”? Porquê “no-deal” e não “nenhum acordo ou sem acordo”? Porquê “outdoors” e não “cartazes”? Porquê “media” e não “meios de comunicação”? Porquê “opinion makers” e não “fazedores de opinião”? Porquê “crowdfunding” e não “angariação de fundos“? Etc., etc., etc. (…)

O mais perigoso e mesmo bizarro é que têm vindo a recorrer a anglicismos reconhecidos fazedores de opinião como escritores, jornalistas, deputados e outros políticos, gente que os portugueses consideram que são, ou parecem ser, bastante conhecedores da língua portuguesa. Assim, não é de estranhar que a generalidade dos portugueses ache que a utilização dos anglicismos é perfeitamente normal, e mesmo aconselhável, na linguagem oral e escrita. (…)

Correndo o risco de me acusarem de injusto, parece-me que há quem utilize anglicismos por autêntico snobismo. O povo nunca, ou só muito raramente, utiliza anglicismos. Aliás, na maior parte das vezes, nem sequer sabem o significado da grande maioria deles. (…)

Acácio Monteiro Alferes, Évora

Metadados

O assunto começa a ficar estafado, embora longe de estar resolvido. Se é que o ficará a contento. À difícil resolução jurídica, juntou-se agora – através da Dra. Cândida Almeida – outro problema mais comezinho: os senhores conselheiros do Tribunal Constitucional (TC), por muito bem preparados que estejam teoricamente, estariam “com os pés na terra” ao decidirem pela supremacia “à outrance” da privacidade sobre a segurança e – talvez ainda mais – com retroactividade? Bem sei que eles não tiveram culpa que tivesse havido “orelhas moucas” ao dito pelo Tribunal de Justiça Europeu e até, anteriormente, pelo próprio TC, mas vêm aí todo o tipo de recursos de revisão de processos já terminados. Dito isto, fica-me uma dúvida que não tenho visto aduzida por ninguém: se o que se preconiza para remediar (?) o assunto é encurtar o prazo para guardar metadados, de 12 para três meses, isso resolve algo no campo da filosofia do Direito? Porque não três semanas ou seis meses, ou outro qualquer espaço temporal? Defende-se mais o direito à privacidade? Ou é mais um “engana meninos” para que tudo pareça ficar justo e equânime?

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

José Sócrates acima da justiça?

Uma pessoa com termo de identidade e residência tem ou não obrigação de comunicar à justiça portuguesa ausências do país por um período superior a cinco dias? Está ou não José Sócrates em incumprimento sobre a falta de comunicação às autoridades das suas deslocações ao Brasil? E, se está, o que lhe vai acontecer? A julgar pela postura arrogante do seu advogado Pedro Delille, provavelmente nada, mas é importante que sejamos esclarecidos urgentemente sobre se a atitude de José Sócrates foi ou não ilegal. A falta de esclarecimento só contribui, sempre, para que dúvidas e boatos ganhem peso. A quem interessa a ausência de esclarecimentos?

Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora

A incomensurável e peculiar escrita de MEC

Provavelmente não existirá em Portugal escrevente mais prolífico e com características tão peculiares como Miguel Esteves Cardoso. Com alguma obra já publicada, Miguel é “obrigado” a escrever todos os dias no PÚBLICO e não posso deixar de referir a secção “Ainda ontem”, onde deparamos com a sua imaginação fértil, irreverente e sagaz, sempre disponível para trazer a lume as mais variadas situações e temas do quotidiano. Observador atento e perspicaz das pequenas grandes coisas da vida, é um prazer lê-lo todos os dias. Se juntarmos os seus textos gastronómicos, tão interessantes, publicados na secção “O gato das botas” na revista de sábado “Fugas”, teremos textos suficientes para constituírem vários volumes de livros. Assim continue a escrever regularmente e tenha uma vida longeva. Parabéns, Miguel, pelos seus textos, onde vemos perpassar fino humor, sensibilidade e sabedoria.

António Cândido Miguéis, Vila Real

Sugerir correcção
Comentar