A abertura do Chalet Biester e a Sintra experience

O “enxame” de tuk-tuks e os trovadores de vários géneros musicais que, com amplificação de alto potencial ocupam o espaço físico da serra e do centro histórico, tornam impossível qualquer experience etérea ou poética metafísica.

A recente abertura do notável Chalet Biester veio reforçar o potencial de excelência da “experiência cultural” Sintra. Esta, garantida pela conjugação única de Património Cultural e Património Natural, definidos na atribuição da classificação da UNESCO como Paisagem Natural. Esta classificação traz também enormes responsabilidades e imperativos de gestão.

Este pequeno artigo pretende precisamente tratar dos imperativos mínimos para garantir a excelência da internacionalmente prometida Sintra experience.

A abertura ao público do Chalet Biester veio confirmar e reforçar os temas da vizinha Regaleira não só no plano da arquitectura e dos fabulosos projectos paisagísticos e respectivos investimentos botânicos completando a “visão” de D. Fernando, mas também no plano do núcleo de interesses esotéricos e iniciáticos, que remontam aos mitos Templários.

Ora, as qualidades descritas exigem serenidade contemplativa em sintonia com a Natureza e possibilidade de focagem e concentração mental só possível com a garantia do silêncio.

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Em 19 de agosto de 2020, condutores de animação turística e animadores turísticos manifestaram-se para reivindicar que os alertas laranjas não sejam decretados pelo risco de incêndio rural no concelho se Sintra Tiago Petinga/Lusa

A tentativa de alcançar a experiência prometida, num presente dificultado por afluências massificadas de turistas, torna-se simplesmente impossível pela presença constante de um “zumbido” motorizado produzido por um “enxame” de tuk-tuks que incessantemente circulam de forma caótica e perigosa na estrada da Pena, ou em baixo, junto à saída da Regaleira.

Em 2015, quando Fernando Medina conseguiu finalmente impor um regulamento em Lisboa para os tuk-tuks com a exigência de circulação exclusiva de veículos electrificados em 2017, muitos dos motorizados fugiram para Sintra, dominando de forma caótica e assertiva o já difícil trânsito local e impondo-se num permanente assédio agressivo, desde o primeiro momento de chegada à estação, ao visitante de Sintra.

Basílio Horta tentou impor um imprescindível regulamento em 2017, mas uma providência cautelar em 2018 determinou uma incompreensível suspensão deste tão necessário regulamento.

Os episódios negativos têm-se sucedido, desde um agente de polícia ferido numa manifestação a um recente acidente com quatro feridos. Tudo isto culminado com o episódio da não declaração de 189.000 euros de lucros por um proprietário da frota de tuk-tuks.

Junto a este fenómeno que exige soluções e medidas urgentes, toda a Sintra experience é também dominada por trovadores de vários géneros musicais que com amplificação de alto potencial ocupam o espaço físico da serra e do centro histórico, tornando impossível qualquer experience etérea ou poética metafísica.

Por este andar, estes fenómenos associados aos números incomportáveis, irresponsáveis e massificados de turistas vão levar a uma exigente intervenção da UNESCO, impondo limites.

Sintra, no caso de não impor regulamento e medidas dirigidas à imposição e restabelecimento de um equilíbrio, está a desenvolver à sua escala uma síndroma “Veneza” que vai forçosamente e inevitavelmente culminar em cancelas limitativas com um preço global para o pacote de atracções para a sua experience.

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