Davos reabre-se à elite mundial, mas agora sem os russos

António Costa recusou convite para estar nos Alpes suíços. Portugal com cinco gestores no regresso da conferência ao formato presencial, cuja lista de participações tem mais ausências do que é habitual.

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EPA/GIAN EHRENZELLER

O Fórum Económico Mundial reúne-se a partir deste domingo em Davos, na Suíça, num regresso ao formato presencial após dois anos de interrupção devido à pandemia. Haverá, porém, ausências notórias, como a dos magnatas e políticos russos, que não falhavam uma edição desde o fim da União Soviética e agora são indesejados, por causa da invasão russa da Ucrânia. No passado, milionários como Andrey Kostin (presidente do VTB, accionista do banco português Finantia) ofereciam em Davos festas privadas “regadas a champanhe e caviar”, como lembrava a Bloomberg. Hoje em dia, Kostin e outros que eram presença assídua fazem antes parte da lista de sanções ocidentais contra magnatas russos, muitos deles com activos congelados e impedidos de viajar livremente.

De hoje até quarta-feira, Davos quer discutir as “políticas públicas e estratégias empresariais” adequadas a um “momento de viragem na História”. A plateia contará este ano com presenças oficiais mais reduzidas da China, República Checa e Roménia, e Budapeste não mandou ninguém.

O primeiro-ministro António Costa foi convidado, mas não colocou Davos na agenda, confirmou o gabinete do chefe de Governo ao PÚBLICO. Foi impossível confirmar se outros membros do executivo português foram ou não convidados e se, nas últimas horas, ainda decidiram comparecer. Questionado pelo PÚBLICO, o gabinete da ministra da Presidência do Conselho de Ministros disse não ter informação. Certo é que na lista de convidados, entretanto divulgada, não constam figuras públicas com nome português.

Na outra lista deste encontro anual, constam cinco gestores ligados a Portugal. Cláudia Azevedo, líder da Sonae (holding dona do PÚBLICO) tinha presença confirmada na Suíça, segundo o programa provisório, e subirá ao palco na terça-feira (9h45) para debater o futuro do retalho.

O presidente executivo da Galp, Andy Brown, intervirá no mesmo dia à tarde (16h) num painel sobre a energia do futuro.

Na lista de 2500 participantes, com nomes do mundo dos negócios, da política, da sociedade civil e da indústria mediática, também estão dois nomes da Jerónimo Martins SGPS e dos seus principais accionistas (José Soares dos Santos e Henrique Soares dos Santos) e era creditada a Portugal a presença de Andy Poppink, director executivo da imobiliária JLL, na qual tutela os mercados da Europa, do Médio Oriente e de África.

Com a guerra na Ucrânia em pano de fundo, o Presidente Volodymyr Zelensky, da Ucrânia foi convidado a entrar na segunda-feira por vídeo. Da Rússia, nem uma pessoa. Putin, que fez na edição de 2021, em formato online, um discurso em que traçava um paralelo entre a situação internacional e as tensões pré-Segunda Guerra Mundial, nos idos anos 30 – alertando para os riscos de uma guerra “de todos contra todos” – estará longe dos Alpes. O presidente russo irá, no entanto, pairar como uma tempestade sobre muitos dos debates incluídos no programa.

A resposta à crise humana dos refugiados da Ucrânia; a dependência energética face à Rússia; a gestão das sanções; o futuro de uma Rússia em isolamento; a Guerra Fria 2.0; as parcerias da UE com os vizinhos à luz da invasão da Ucrânia; e o futuro da globalização depois da covid-19 e desta guerra iniciada pela agressão russa são alguns dos temas propostos para discussão.

Mais de 50 chefes de Estado e de Governo, 300 representantes nacionais, 1250 empresários, 100 investidores, 200 organizações não-governamentais, académicos e organizações sindicais ou religiosas, bem como 400 jornalistas viajam até à Suíça. Bruxelas estará em peso. A Comissão Von der Leyen faz-se representar pela presidente e por diversos membros do executivo comunitário.

A presidente do Banco Central Europeu, Christine Largarde, abrirá a conferência do horário nobre de terça-feira à noite, sobre o papel global da Europa. No início do ano, Lagarde foi à “Davos Agenda 2022” dizer que não esperava ver a inflação subir por cá como então já sucedia nos EUA. “Não há uma espiral inflacionista fora de controlo”, disse na altura, manifestando fé de que os preços da energia iriam “estabilizar a partir de meados” do ano.

Quatro meses depois, vai dentro do BCE uma discussão acesa entre quem quer uma subida dos juros já em Julho e os que receiam as consequências dessa medida. O que Lagarde disser agora em Davos pode eventualmente ajudar a perceber para que lado irá pender a decisão.

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