BE acusa Governo de abandonar objetivo de médico de família para todos os portugueses

A líder do Bloco de Esquerda considera possível garantir que toda a população tem médico de família até ao final da legislatura, mas salienta que é preciso vontade política por parte do governo.

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Catarina Martins falou no encerramento do encontro nacional sobre saúde do BE LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) acusou este sábado o Governo de ter abandonado “o objectivo de garantir” médico de família para todos os portugueses e defendeu que é possível cumprir essa medida “até ao final da legislatura” caso “haja vontade”.

“Dois meses de maioria absoluta e o Governo, mal apresenta o seu programa, pela primeira vez em muitos anos, abandona o objectivo de garantir a todas as pessoas em Portugal acesso a médico de família”, afirmou Catarina Martins no encerramento do encontro nacional sobre saúde, organizado este sábado pelo partido, numa escola em Lisboa.

Na sua opinião, “abandonar o objectivo de cobertura total do território com médicos de família para toda a população é abandonar a ideia de um Serviço Nacional de Saúde (SNS) que esteja em todo o território e que responda a toda a população, e esse é um dos maiores recuos na área da saúde”.

“É possível, haja vontade, até ao final da legislatura, garantir que toda a população tem médico de família e que tem equipa de saúde familiar, porque o SNS está a formar as pessoas suficientes para o fazer. Resta saber se há a decisão política de lhes dar as condições para trabalharem e assim fazer essa garantia de acesso a saúde a toda a população”, defendeu a líder bloquista, garantindo que o seu partido não vai desistir de lutar por esse objectivo.

Na ocasião, Catarina Martins referiu também a proposta de Orçamento do Estado para este ano, cuja discussão na especialidade e votação final global vão decorrer na próxima semana no Parlamento, apontando que “o orçamento para a saúde vai crescer abaixo da inflação, o que significa que a saúde, como tudo o resto, vai estar a pagar mais caro, mas não tem uma evolução que lhe permita isso”.

E argumentou que “as intenções que a ministra da saúde anuncia como as grandes intenções deste orçamento, nomeadamente sobre profissionais, nenhuma delas existe na proposta de Orçamento do Estado, é uma ficção”.

“Diz a ministra que quer incentivos aos médicos de família. Norma legal ou verba na proposta de lei para isto: zero. Diz a ministra que quer contar o tempo de serviço dos enfermeiros. Norma legal ou verba para isto no orçamento: zero. Diz a ministra que quer criar a carreira de técnicos auxiliares de saúde. Norma para isto ou verba para isto no orçamento: zero”, elencou a líder do BE.

“Dir-me-ão, claro, o orçamento não é sério, é como já vimos hoje aqui sub-orçamentado. É verdade”, defendeu Catarina Martins, sustentando que “a ministra da saúde, com uma candura que é de registar, afirmou logo no debate orçamental que o orçamento da saúde está sub-orçamentado em “pelo menos mil milhões de euros”.

E afirmou que a consequência será os hospitais e as unidades de saúde terem “de andar a contratualizar dívida com as farmacêuticas, com os grandes prestadores, porque não têm dinheiro para chegar até ao fim do ano”, considerando que a “sub-orçamentação do SNS é um frete que é feito aos grupos económicos privados para poderem cobrar o que quiserem ao SNS, que não tem nenhuma capacidade de negociação”.

Na sua intervenção, Catarina Martins defendeu ainda que “está para inventar outro serviço que não o SNS que possa garantir esse acesso à saúde”, mas criticou que “o grande drama” do tempo actual “é que se deixou de planear saúde”, pelo que o SNS não tem “um projecto de futuro”.

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