Todos podemos reduzir o impacto dos riscos naturais

Existe a ideia de que contra fenómenos naturais extremos nada há a fazer. Não é assim! É fundamental combater esta ideia e tornar a gestão do risco mais inclusiva para todas as partes interessadas.

Apesar de muitos cidadãos partilharem o sentimento de que cabe (quase) exclusivamente às autoridades a gestão dos riscos (de origem) natural, exemplos recentes na Europa mostraram importantes limitações da resposta de emergência assente numa cadeia de comando rígida. Atente-se nos seguintes exemplos recentes amplamente divulgados pela comunicação social:

. “Cerca de 500 pessoas, a maioria turistas, fugiram da cidade de Niborio, Grécia, devido à proximidade do fogo florestal antes que a ordem oficial de evacuação fosse dada”;

. “Alemanha sabia que a tempestade ia chegar, mas houve “uma falha monumental” nos alertas”;

. O relatório “Avaliação dos incêndios ocorridos entre 14 e 16 de outubro de 2017 em Portugal Continental”, entregue pela Comissão Técnica Independente, refere que falhou a capacidade de “previsão e programação" para “minimizar a extensão” do fogo na região Centro, face às previsões meteorológicas de temperaturas elevadas e vento para os dias em que ocorreram.

Existe a ideia de que contra fenómenos naturais extremos nada há a fazer. Não é assim! É fundamental combater esta ideia e tornar a gestão do risco mais inclusiva para todas as partes interessadas (stakeholders).

Para cada fenómeno natural e condicionamentos locais, é necessário identificar as partes interessadas em aprenderem as melhores práticas para reduzir o seu impacto, onde se incluem cidadãos empenhados, associações locais, proprietários, escuteiros, proteção civil, autoridades locais ou instituições governamentais.

As partes interessadas, previamente preparadas para a prevenção e autoproteção, podem complementar o tradicionalmente rígido sistema de gestão do risco com dados e conhecimento do local, mas também atuarem como primeira linha de prevenção e redução do impacto dos riscos.

Exemplo disso é o Programa Aldeias Seguras e Pessoas Seguras preparado na sequência dos fogos florestais de 2017, que procura preparar as populações para reagirem ao fogo, informando o cidadão sobre mecanismos de autodefesa e prevenção.

Tendo em conta que muitos de nós têm sempre consigo telemóveis multifunções - os smartphones - o aproveitamento das suas potencialidades pode e deve ser maximizado, para facilitar a comunicação de e para o cidadão: o cidadão nas áreas em risco pode receber alertas e pode partilhar com as autoridades informações antes, durante e após a ocorrência do fenómeno natural através de uma aplicação específica e simples de usar.

Com a utilização desta aplicação, o cidadão irá tomar medidas de autoproteção mais eficazes e fornecer informações que vão aumentar a qualidade e quantidade de informação disponível para avaliação do risco e tomada de decisão de planeamento e de resposta de emergência.

Por exemplo, o cidadão, isolado ou em grupo, pode alertar as autoridades para pessoas em risco ou mesmo ser o primeiro a prestar apoio a vítimas de catástrofes, como por exemplo sismos ou deslizamentos de terras.

É da criação deste ciclo virtuoso de partilha de informação e formação entre os cidadãos e a autoridades que se promove uma sociedade mais capaz de recuperar do impacto dos riscos naturais.

Em Portugal estão a ser desenvolvidos casos piloto na Madeira e em Lisboa, num projecto co-financiado pelo Programa Interreg Área Atlântica através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, preparando a população e as autoridades para a gestão do risco de sismos, deslizamentos de blocos, instabilidade de taludes e cheias (www.ageoatlantic.eu).

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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