Cartas ao director

Quem não vai à guerra

Parece ser uma especialidade deste jardim à beira-mar plantado. Não ir à guerra, não dar nem levar, ou antes não perder, mas ganhar. Já na II Grande Guerra muito ganhámos, até mesmo a transaccionar com os dois lados. As guerras e demais disrupções trazem muita desgraça e também muitas oportunidades, sobretudo para quem tiver um sentido apurado e ético q.b. da oportunidade.

Agora, regozijarmo-nos com vantagens obtidas a partir dessas oportunidades é imoral. Certamente que o mundo não pára e nas reviravoltas onde tanto que se perde, algo algures se pode ganhar, mas deveria ser um ganho envergonhado e, dentro do possível, partilhado com os que tanto perderam. Não é líquido o que podemos efectivamente ganhar com a guerra na Ucrânia. No mínimo, convinha não perder a oportunidade de ficar calado e procurar outros motivos de regozijo, fruto do nosso mérito e iniciativa, não de os mísseis caírem bem longe do nosso jardim.

Carlos J F Sampaio, Esposende

Questão prudente e fundamental

No plano democrático, salvo as devidas excepções, não é sensato conotar os políticos de medíocres bem como de tirarem benefícios próprios no exercício das suas funções. Porque, embora existam lacunas a colmatar no terreno, não invalida afirmar que a generalidade dos referidos manifesta idoneidade e preocupação com o bem comum. Mas, a bom da verdade, neste contexto é determinante reforçar a massa crítica com o objectivo de construir sociedades mais sustentáveis e isso infelizmente tem vindo a enfraquecer. É que parafraseando Miguel Torga “é importante gritar para que a voz abale os adormecimentos dos responsáveis”. Porque, não tenhamos quaisquer dúvidas, a globalização baseada em tratados comerciais focalizados quase exclusivamente nos produtos a transaccionar e não nos modos como são produzidos e nos impactos que estes têm quer a nível ambiental, laboral ou social é efectivamente um factor inibidor para a construção de um mundo melhor. Algo que, aos olhos de muita gente, espelha a encruzilhada entre a crise ecológica e a desregulação global em que vivemos no quotidiano. Assim, para que todos saiam a ganhar, há que estabelecer urgentemente um contrato entre a humanidade, a natureza e a tecnologia e desta forma deixarmos um legado às gerações futuras.

Manuel Vargas, Aljustrel

Sucata para a Ucrânia

A ser verdade a notícia de que Portugal irá enviar alguns blindados M113A para a Ucrânia, não deixa de ser estranho já que esse equipamento, fazendo parte da Brigada Mecanizada de Santa Margarida, é obsoleto e está completamente ultrapassado face aos mísseis anticarro actualmente existentes.

O M113A surgiu em 1960 e Portugal recebeu os primeiros vinte exemplares apenas em 1976 sendo que, na década de noventa, por força da redução das forças dos EUA na Alemanha, o nosso Exército, bem como os de outros da NATO, receberam centenas de exemplares pois aos norte-americanos saía mais dispendioso levá-los de volta para o seu país.

Esses veículos blindados, autênticos caixões rolantes, foram sendo retirados de quase todos os Estados-membros da NATO que os substituíram por outros veículos mais adequados às ameaças das armas modernas. Pode-se mesmo dizer que Portugal já só utilizava o M113A para os poucos desfiles militares que realizou nos últimos anos pois o seu consumo de combustível e o alto índice de poluição não aconselhavam a presença em meios urbanos.

Assim, cedendo esse equipamento à pobre Ucrânia o mesmo não lhe vai servir de muito pois as armas russas farão dele uma autêntica razia com muitos mortos.

Manuel Alves, Lisboa

Portas abertas

Ao longo dos anos, muitos foram os cidadãos que procuraram noutros países novas oportunidades de trabalho, com remunerações mais justas, e em que o seu trabalho e esforço fosse valorizado, uma vez que em Portugal o mesmo pouco importa para uma retribuição digna.

Tal como os portugueses tiveram portas abertas nos quatro cantos do mundo, também Portugal tem sido um país de acolhimento para muitos cidadãos de outros países que procuram novas oportunidades, mas onde no que diz respeito ao cumprimento de requisitos legais existe um claro vazio legislativo que tem permitido a entrada em Portugal de milhares de cidadãos que vivem em condições nada aceitáveis, e são explorados, sendo exemplo disso, o caso de Odemira e Pegões.

Determinados acontecimentos menos bons acabam por ter o efeito positivo de potenciar a descoberta de irregularidades ocultas aos olhos da opinião pública, e onde o impacto mediático pode desencadear uma actuação pontual das autoridades competentes, dando origem a processos onde a morosidade entope os mecanismos judiciais, e onde Odemira e Pegões podem muito bem ser a ponta do iceberg, como resultado das portas abertas num país onde a flexibilidade das leis é a raiz de muitos males.

Américo Lourenço, Sines

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