George W. Bush disse que a guerra do Iraque foi “injustificada e brutal”. Mas referia-se à Ucrânia

Gaffe do ex-Presidente norte-americano foi aproveitada pelos seus críticos para recordarem a polémica decisão de invadir o Iraque, em 2003, com o pretexto do desmantelamento do suposto programa de armas de destruição maciça de Saddam.

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George W. Bush, ex-Presidente dos EUA JIM LO SCALZO/EPA

Foi a “decisão de um homem de lançar uma invasão totalmente injustificada e brutal do Iraque”, disse o ex-Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, na quarta-feira, antes de se corrigir rapidamente, dizendo que pretendia descrever a guerra do Presidente russo Vladimir Putin contra a Ucrânia.

“O Iraque, também, de qualquer forma”, acrescentou, discretamente, gerando risos no público que assistia ao discurso, em Dallas.

Mas embora a piada tenha funcionado para alguns, outros foram rápidos a aproveitar o deslize de Bush, após quase duas décadas de duras críticas à decisão, de 2003, de ordenar a invasão do Iraque.

Muitos dizem que o 43.º Presidente norte-americano é um criminoso de guerra – o mesmo rótulo dado a Putin após a invasão da Ucrânia, amplamente criticada pela comunidade internacional como ilegal e desumana.

“Não me estou a rir, e suponho que as famílias dos milhares de soldados americanas e das centenas de milhares de iraquianos que morreram nessa guerra também não”, disse Mehdi Hasan, apresentador de notícias por cabo, no “MSNBC Prime” na noite de quarta-feira.

“Quantos americanos foram enviados por ele para morrer por uma mentira? Repugnante”, escreveu no Twitter o conservador Tim Young.

Pelo menos 200 mil civis morreram como resultado da “violência directa relacionada com a guerra” durante a invasão do Iraque pelos EUA, segundo o Instituto Watson para Assuntos Internacionais e Públicos da Universidade de Brown, que nota que as dificuldades em contabilizar as mortes com precisão significam que o número de mortes foi provavelmente muito mais elevado.

Desde então, a condenação da guerra tornou-se em grande parte consensual entre muitos da esquerda e da direita, com muitos políticos com ambições presidenciais e outros a dizerem que eram ou são agora contra a invasão do Iraque.

Até o irmão de Bush, Jeb, disse num debate presidencial de 2015, quando questionado pela moderadora Megyn Kelly se a guerra do irmão tinha sido um erro, que a invasão estava errada e baseada em “informação com falhas”.

“Oof”, escreveu no Twitter Justin Amash , um antigo congressista que deixou o Partido Republicano para se tornar independente, em reacção ao vídeo da gaffe de Bush. “Se fosse George W. Bush pensaria que seria melhor não fazer qualquer discurso sobre um homem a lançar uma invasão totalmente injustificada e brutal”, disse.

“Bem-vindo à resistência”, escreveu G. Elliott Morris, correspondente da Economist nos Estados Unidos, no Twitter.

“George W. Bush é um criminoso de guerra”, escreveu a ex-senadora do estado de Ohio, Nina Turner.

Pouco antes do deslize, Bush – que, aos 75 anos, culpou a idade pela gaffe – tinha estado a comparar a liderança da Rússia e da Ucrânia. Elogiou o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, a quem chamou “um rapazinho fixe” e “o Churchill do século XXI”, fazendo eco de uma última declaração que fez depois dos dois se terem reunido virtualmente este mês.

Quanto à Rússia, disse que as eleições são fraudulentas e que os opositores políticos são presos. “O resultado é uma ausência de checks and balances na Rússia”.

O Centro Presidencial George W. Bush não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

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