Após criticar estratégia de Putin na Ucrânia em canal estatal, coronel russo muda de discurso

Na segunda-feira, coronel tinha-se desviado da propaganda do Kremlin durante programa em directo. Mikhail Kodarionok diz agora que conquistas ucranianas são apenas “rumores” e destaca poderio militar russo.

Foto
O general russo na reserva Mikhail Kodaryonok DR

Há apenas três dias, o coronel na reserva russo Mikhail Kodaryonok criticou abertamente a estratégia adoptada por Putin na Ucrânia na televisão estatal russa – admitindo dificuldades durante a invasão. As surpreendentes declarações correram mundo, mas, esta quinta-feira, numa nova aparição no mesmo programa, Kodaryonok alterou completamente o discurso, desvalorizando as vitórias militares da Ucrânia e enaltecendo os avanços do exército russo.

“No que diz respeito aos boatos espalhados pelos ucranianos – e são mesmo apenas rumores – de que estão a ter grandes sucessos ou estão a preparar-se para lançar uma contra-ofensiva, a falsidade destes rumores ficou demonstrada na Ilha das Serpentes”, afirmou o coronel, que comenta assuntos militares na televisão russa.

O vídeo que mostra esta mudança de opinião foi partilhado pelo jornalista da BBC Francis Scarr no Twitter. O especialista, responsável pela monitorização dos meios de comunicação social russos, já tinha sido o responsável pela partilha das primeiras declarações do coronel na reserva na passada segunda-feira.

Esta é uma viragem de 180 graus face aos argumentos da segunda-feira, momento em que Mikhail Kodaryonok se demarcou da propaganda do Kremlin sobre a invasão na Ucrânia, elogiando a capacidade das tropas ucranianas e dizendo que os russos não deviam “engolir tranquilizantes de informação”. As declarações aconteceram durante o programa “60 minutos” do canal Rossiya 1, um dos segmentos com maior audiência deste canal estatal.

“É espalhada informação sobre a quebra moral e psicológica das forças armadas ucranianas – de que estão prestes a ter alguma crise de moral e por aí em diante. Isso é puramente falso”, garantiu o militar, relembrando que há a forte possibilidade de a Ucrânia armar um milhão de homens com o armamento fornecido por outros países. “A situação irá francamente piorar”, prosseguiu, dizendo que as forças ucranianas vão lutar “até ao último homem”.

Os comentários foram recebidos com surpresa pelos companheiros de painel, que procuraram colocar em causa alguma da informação veiculada pelo coronel. Esta quinta-feira, contudo, Mikhail Kodaryonok mostrou certeza de que os ataques prioritários do exército russo vão ser bem-sucedidos.

“Temos todas as razões para acreditar que os howitzers [armas de longo alcance cedidas à Ucrânia pelos Estados Unidos, Canadá e Austrália] são um alvo de prioridade alta para as nossas forças. Vão ser procuradas, encontradas e destruídas. E vamos considerar – temos todas as razões para acreditar nisto – que, num futuro próximo, tudo o que vai sobrar destes howitzers vão ser memórias.”

O novo argumento do coronel foi analisado pelo militar norte-americano Mark Hertling na CNN: de acordo com este especialista, os vídeos exibidos no canal estatal não demonstram que as armas foram incapacitadas.

Depois de ter abordado o endurecimento da situação para o lado russo nas próximas semanas, o general inverteu os argumentos, dizendo agora que as acções militares lideradas pelo Kremlin vão trazer “uma surpresa muito desagradável à Ucrânia”.

Por último, o coronel na reserva considerou muito difícil que a Ucrânia consiga supremacia aérea nos próximos meses, dizendo que o país necessitará de décadas para conseguir igualar a presença da marinha russa no Mar Negro.

Sugerir correcção
Ler 10 comentários