Desenho de Miguel Ângelo atinge valor recorde de 23 milhões de euros em leilão

Identificado há três anos como obra do mestre do Renascimento italiano, Nu de um jovem rodeado por duas figuras foi arrematado por 23,162 milhões de euros esta quarta-feira, num leilão da Christie’s de Paris.

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A obra pertence ao período de juventude do artista, na última década do século XV Christie's

Em 1907, quando foi vendido num leilão no Hotel Drouot, em Paris, estava identificado simplesmente como tendo sido produzido pela escola de Miguel Ângelo. Mais de um século depois, aquele desenho de um nu masculino baptizado Nu de um jovem rodeado por duas figuras, pintado com pena em dois tons de castanho, ganharia toda uma outra relevância. Em 2019, no decorrer do inventário de uma colecção privada, foi atribuído a Miguel Ângelo e declarado “tesouro nacional” pelo Estado Francês. E a história atingiu novo clímax esta quarta-feira, quando aquele que será o mais antigo nu conhecido daquele mestre do Renascimento italiano foi arrematado num leilão da Christie’s, em Paris, por mais de 23 milhões de euros (23.162.000 euros, para sermos precisos), o que pulverizou o seu anterior recorde – em 2000, o desenho Cristo Ressuscitado atingira 9,5 milhões de euros.

“Em bom estado de conservação”, como nota a Christie’s em comunicado (no qual, como seria de esperar, não é revelado o novo proprietário da obra), o desenho de 33 por 20 centímetros terá sido criado na juventude do pintor, na última década do século XV. Nesse período elaborou vários esboços retirados de mestres florentinos do passado. Encontramos a inspiração para a figura central de Nu de um jovem rodeado por duas figuras em Baptismo dos Neófitos, fresco de Masaccio, datado de 1425, que foi pintado na Igreja de Santa Maria del Carmine, em Florença. O fresco mostra São Pedro a baptizar convertidos à fé cristã e o olhar de Miguel Ângelo concentrou-se na figura de um deles, um homem despido e com os braços em cruz.

Tendo sido declarada tesouro nacional, a obra ficou impedida de abandonar território francês por um período de 30 meses, durante o qual o Estado ou outras instituições do país poderiam adquiri-la, como noticia o El País. Dado não ter sido alvo de qualquer oferta, viajou findo esse tempo para exposição em Hong Kong e em Nova Iorque, antes de regressar a Paris para ser leiloada por um valor recorde mas, ainda assim, abaixo dos 30 milhões de euros a que ascendera a avaliação feita quando foi confirmada a autoria de Miguel Ângelo. Segundo declarou, citada pelo El País, Hélène Rihal, directora do departamento de desenho antigo e do século XIX na Christie’s, há neste momento “menos de dez desenhos de Miguel Ângelo em mãos privadas”.

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