No Aveiro_Síntese 2022, pés fincados no presente, antecipar o futuro

A bienal de música electroacústica apresenta entre os dias 19 e 29 de Maio uma programação com foco na criatividade do presente e no palco oferecido a jovens valores, sem esquecer, porém, as lições do passado (ouviremos, afinal, peças de Varèse, Stockhausen e Xenakis). A britânica Joanna Bailie, protagonista do primeiro dia, é uma figura em destaque.

Joanna Bailie, compositora britânica radicada em Berlim, apresentará no festival duas obras audiovisuais e uma instalação
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Joanna Bailie, compositora britânica radicada em Berlim, apresentará no festival duas obras audiovisuais e uma instalação DR
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Mariana Vieira estreia no festival a obra para coro e electrónica Coro dos Pequenos Cidadãos DR

A criatividade no presente será a principal manifestação, com obras em estreia, a abertura com a britânica Joanna Bailie, e o destaque a músicos em início de percurso. Mas, ao mesmo tempo, entre 19 e 29 de Maio, durante os quais veremos nove concertos e duas instalações, será promovido no Aveiro_Síntese 2022 um diálogo com o passado da música electroacústica, através de peças de Edgar Varèse, Stockhausen ou Iannis Xenakis, que terá duas obras interpretadas no último dia de festival, 29 de Maio, aquele em que o compositor greco-francês completaria 100 anos.

Realizado pela primeira vez em 2002 e recuperado mais de uma década depois, em 2016, enquanto bienal, o Aveiro_Síntese nasceu com a associação cultural aveirense Arte no Tempo. Na sua génese, a vontade de encontrar um espaço para a apresentação, consistente e prolongada, de música electro-acústica. Esse espaço foi, então, um festival com linhas gerais bem definidas, como lemos no texto que é dedicado ao Aveiro_Síntese no site da Arte no Tempo: “cada concerto propunha a escuta de uma obra de referência, uma obra de autor português e uma selecção de peças elaborada por alguém convidado a partilhar as suas escolhas (um compositor ou alguém associado a um estúdio internacional).” Organizado com o apoio do Teatro Aveirense, que o acolhe, e da Câmara Municipal de Aveiro, o festival expandiu-se mantendo essas linhas condutoras.

Teremos, portanto, dia 27 de Maio, às 18h30, o resultado da iniciativa Nova Música Para Novos Músicos, promovida desde há cinco anos pela Arte do Tempo, que leva alunos de diversas escolas do país a compor e estrear peças originais. A Nova Música Para Novos Músicos manifesta-se também no concerto de encerramento, a 29 de Maio, às 18h30, com a jovem maestrina Rita Castro Blanco a dirigir Nádia Carvalho (electrónica) e Matilde Cardoso (percussão solo), acompanhadas em palco pela Orquestra das Beiras, num programa onde peças de Ângela da Ponte, de Ricardo Almeida (DOHRNII, estreia de uma encomenda da Arte no Tempo), e da italiana Clara Iannotta conviverão com a homenagem a Iannis Xenakis, de quem serão interpretadas O-Mega e Voile, esta em estreia nacional.

O festival arranca esta quinta-feira, dia 19, com duas peças de Joanna Bailie, compositora em destaque nesta edição do Aveiro_Síntese. Num percurso musical e artístico que voga entre a música de câmara e a instalação, explorando instrumentação acústica e recolhas de campo e fazendo confluir a composição com o trabalho audiovisual, Baillie, que se encontra a cumprir uma residência artística em Aveiro, apresentará às 21h30 as suas obras audiovisuais Grand Tour (2015) e A Giant Creeps Out of a Keyhole (2021) – no final, Bailie inaugurará Reverse side, uma de duas instalações patentes até ao final do festival (a outra é insomnia hyperacusis, de Carlos Santos).

Neste Aveiro_Síntese ouviremos também o resultado da Carta Branca dada ao investigador Pedro Bento, especializado em Organologia e Acústica musical, que montou um programa de música acusmática em volta de um compositor intimamente ligado ao seu percurso, Edgar Varèse. No Teatro Aveirense, dia 20 de Maio, o histórico Poème Electronique de Varese (1958), convive com peças de Cândido Lima, Jean-Claude Risset e Kees Tazelaar. O primeiro fim-de-semana completa-se com um concerto protagonizado por alunos da Escola Artística do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Aveiro, que farão a estreia integral da peça para coro e electrónica Coro dos Pequenos Cidadãos, de Mariana Vieira (21 de Maio, 18h30) e com a actuação do vibrafonista Jonathan Silva, acompanhado pela electrónica de Nádia Carvalho (dia 22, 18h30).

Depois, o CLAMAT, colectivo variável estreado na edição anterior do Aveiro_Síntese, levará a palco, dia 26, às 21h30, um diálogo entre peças de 2007 de Joanna Bailie e do dinamarquês Simon Steen-Andersen e o histórico Mikrophonie I de Karlheinz Stockhausen, obra de 1964 em que o microfone se liberta da sua função passiva para se tornar um elemento activo da composição musical. Também ouviremos Bailie e Steen-Andersen no dia seguinte, às 21h30, no concerto que o ars ad hoc, grupo nascido no seio da Arte No Tempo, dedicará a três compositores, radicados em Berlim, que ali desenvolvem actualmente trabalho relevante na electroacústica – o trio completa-se com Clara Ianotta.

A antecipar o final com a Orquestra das Beiras, os novos músicos e a celebração do centenário de Xenakis, oportunidade para seguir mais uma estreia. A 28 de Maio, um duo de jovens músicos, Ana Margarida Lamelas (viola) e Francisco Martins (acordeão), acompanhados por Luís Antunes Pena na electrónica, interpretam um programa composto por peças preparadas especificamente para o festival. No Aveiro_Síntese, com pés fincados no presente e conscientes do passado, lança-se o olhar para o futuro.

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