Conselheiro nacional abre a porta à desfiliação do CDS ao fim de 28 anos de militância

Fernando Camelo de Almeida é contra o pagamento obrigatório de quotas e quer saber se Nuno Melo pagou quotas enquanto elas eram facultativas.

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Nuno Melo faz aprovar pagamento das quotas obrigatórias no CDS paulo pimenta

O conselheiro nacional centrista Fernando Camelo de Almeida, que se demitiu esta semana da presidência da comissão política distrital de Aveiro do CDS-PP por discordar do rumo que o CDS-PP está a seguir, admite bater com a porta, desfiliando-se do partido.

“Ao fim de 28 anos de militância partidária estou a ponderar desfiliar-me do CDS. O modus operandi que está a ser implantado no terreno é mau e eu já não tenho paciência para aturar este tipo de coisas”, desabafou, em declarações ao PÚBLICO, Fernando Camelo de Almeida.

“O slogan da nova direcção do CDS-PP era construir, mas em muito pouco tempo percebeu-se que, afinal, mantém a mesma linha usada relativamente ao mandato da direcção de Assunção Cristas, ou seja, destruir”, criticou, sublinhando que “as pessoas que agora têm responsabilidades no partido são exactamente as mesmas que trouxeram o CDS para a desastrosa situação financeira em que o partido se encontra”.

Acusando a direcção de “discriminar” a distrital do CDS de Aveiro, apontando alguns exemplos em que isso se verificou, Fernando Camelo de Almeida discorda do pagamento das quotas pelos militantes, uma prática que passou a ser obrigatória com a liderança de Nuno Melo.

“Não tinha nenhum problema em pagar quotas, mas antes disso queria saber por onde vai o dinheiro. Queria saber se há pessoas remuneradas na secretaria-geral do partido. Acho que é legítimo que os militantes queiram saber para onde vai o dinheiro das quotas”, declara, defendendo que antes de o partido impor o pagamento de quotas - que passaram de um euro para dois euros por mês – “devia apresentar um plano de reestruturação financeira”. E aproveita para dizer que “nesta fase a imposição de quotas obrigatórias é difícil de explicar aos militantes” e deixa cair um elogio à anterior direcção. “Francisco Rodrigues dos Santos que teve de suportar eleições regionais, autárquicas e legislativas e nunca colocou a hipótese de quotas obrigatórias”.

Ainda a propósito de quotas, o ainda líder da distrital de Aveiro solta mais uma farpa indirecta ao presidente do CDS-PP, Nuno Melo. “As pessoas que sempre estiveram em cargos políticos pagaram alguma vez quotas enquanto elas eram facultativas? Qual é a moral que o actual presidente do partido tem para impor o pagamento de quotas obrigatórias aos militantes?”

Afirmando que o seu afastamento do partido será sempre uma “decisão dolorosa”, o também deputado municipal em Ovar teme que o partido se venha a tornar “numa coutada de um grupo de amigos”.“Não me revejo num partido de elites e de interesses, que quer circunscrever o CDS à pseudo-elite políticodependente”, sublinha, declarando: “Quero sentir-me livre em termos de amarras partidárias”.

A terminar, Fernando Camelo de Almeida entende que “aqueles que estão em lugares à custa do partido têm obrigação de dar um contributo maior ao partido.”

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