Tentativas de mudança da orientação sexual ainda são uma realidade para jovens

Mais de um terço dos alunos LGBTQ afirma que nenhuma pessoa da família sabe da sua identidade e cerca de metade contou a apenas algumas pessoas da família. Estudo da Universidade do Porto mostra que mais de metade dos alunos transgénero afirma que não consegue ser tratado em casa pelo nome com que se identifica.

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Os dados mostram que os jovens tinham, em média, 13 anos quando foram sujeitos a estas práticas Paulo Pimenta

Cerca de um em cada dez jovens LGBTQ (lésbica, gay, bissexual, transgénero, queer ou em questionamento) já sofreu alguma tentativa de conversão da sua orientação sexual, revela um estudo divulgado esta terça-feira pelo Centro de Psicologia da Universidade do Porto (CPUP).

Entre quase 700 alunos que responderam ao questionário identificando-se como não heterossexuais, 8,6% foram vítimas de algum tipo de tentativa de mudança da orientação sexual: em oito casos foi conduzida por um profissional de saúde, em 15 casos por um líder religioso e em 44 casos por outra pessoa, maioritariamente identificada como membro da família. Os dados do estudo da Universidade do Porto mostram que os jovens tinham em média 13 anos de idade na altura em que os tratamentos ocorreram.

As chamadas “terapias de conversão” voltaram a estar na agenda pública desde o ano passado, quando o Bloco de Esquerda e a ex-deputada não inscrita Cristina Rodrigues apresentaram propostas de lei para proibir este tipo de práticas, que violam os princípios profissionais e que podem ter consequências graves para a saúde mental ou até física das pessoas que são sujeitas a elas.

Jorge Gato, investigador do CPUP e co-autor do estudo sobre diversidade sexual e de género nas escolas, sublinha que, para a maioria dos alunos LGBTQ, “o que há é, sobretudo, uma experiência de invisibilidade”: 38,1% afirma que nenhuma pessoa da sua família sabe da sua identidade LGBTQ e 50,5% contou a apenas algumas pessoas da sua família.

Quando cerca de um em cada cinco jovens relata que já ouviu comentários pejorativos ou foi humilhado por um adulto na família por causa da sua identidade, ou quando mais de metade (53,8%) dos jovens transgénero afirmam que não conseguem ser tratados em casa pelo nome com que se identificam, “a escola pode ser o único espaço de segurança”, remata Jorge Gato, insistindo na importância de formar professores e funcionários para acolherem estes estudantes.

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