Cartas ao director

O tabu António Guterres

António Guterres é da minha idade e fomos colegas no Técnico, embora depois dos anos preparatórios de engenharia tenhamos seguido cursos diferentes e nunca mais contactámos: nessa altura era já um aluno brilhante, o melhor do Técnico a merecer a alcunha que tinha, “o vintes”, pois só tirava dezanoves e vintes. António Guterres teve uma carreira, interna e internacional, a todos os títulos brilhante e é daqueles portugueses para quem o nosso país é pequeno demais, daí provavelmente a sua opção internacional. Nós, portugueses, temos uma tendência nefasta para dizer mal de quase tudo o que é nosso, mesmo daquilo que não o merece e impressionou-me a carta da leitora Maria Silva de Lisboa com o mesmo título desta que penso ser bastante injusta para o visado: é de uma ingenuidade enorme pensar que as negociações para um evento como aquele que vivemos na Ucrânia devem ser feitas à vista de todos e com as televisões a filmar, o que seria o melhor caminho para fracassarem. Aliás o próprio Guterres disse há dias nas televisões que não quer falar publicamente sobre estes assuntos mais do que o estritamente necessário. Parece-me pois que a leitora Maria Silva cai numa tremenda injustiça para um dos portugueses com mais valor da sua geração e que já deu muito ao mundo pelos lugares por onde passou e que desempenhou.

Carlos Duarte, Lisboa

Passado, presente e futuro

Para melhor compreendermos o que poderá estar em jogo com este conflito bélico na Europa, deveríamos escutar figuras carismáticas como Pepe Mujica, Henry Kissinger e mesmo Angela Merkel.

O ex-presidente do Uruguai afirmou no Deutsche Welle: “O único animal que tropeça várias vezes na mesma pedra, aparentemente são os humanos, que custam a aprender com a sua própria história. Quando terminou a guerra de 1914 impuseram à Alemanha condições tão inauditas que o jovem John Maynard que integrava a delegação inglesa decidiu retirar-se e previu um desastre com consequências inverossímeis. Criaram-se as condições para o surgimento de Hitler.”

O antigo conselheiro de segurança nacional dos EUA, Henry Kissinger numa entrevista advertiu que “não devemos juntar a Rússia e a China”, e exemplificou: “No período da Guerra Fria, apesar de toda a hostilidade ideológica com Mao, fizemos uma aproximação à China.” E acrescentou: “Devido à grande evolução tecnológica e à enorme capacidade destrutiva do armamento actual, o nosso objectivo primordial deveria ser evitar a hostilização. “

Já em relação a Angela Merkel, apesar de ter calculado mal a sua dependência energética com a Rússia, há uma frase sua que ficará: “Não há alternativa ao diálogo.” O futuro das novas gerações estará nas nossas mãos, pretendemos pôr o mundo à beira de um precipício? Numa guerra nuclear não haverá vencedores nem vencidos, só haverá perdedores.

Fernando Ribeiro, S. João da Madeira

Os funâmbulos...

Há-os dos dois lados. Movem-se na corda como em terreno firme, mas dão uma péssima imagem de si próprios. Curiosamente quem mos fez lembrar foi Carmo Afonso (C.A.) no seu artigo de ontem, ao pedir à esquerda que defende Putin e “condenam” a invasão da Ucrânia, que deixe de o fazer pois não está a perceber que, com isso, está a dar um tiro no pé, pois o ex-coronel do KGB é “comunista” na estrutura, mas dá a mão a outra gente. É óbvio que discordo dela nas premissas, pois não tenho do comunismo a bondosa ideia que C.A. tem, mas assim falham duas vezes, na praxis e na táctica.

Mas o título está no plural e resta falar dos do outro lado, daqueles que estando contra a invasão e contra o “comunismo capitalista”, não assumem isso e procuram “salvar a alma” ou a “lúcida inteligência” que atribuem a si próprios, desancam no presidente russo, mas... deixam sempre uma migalha de “independência” para culpar os tratantes ocidentais que, vendo bem (como eles...), estão a montante da paranóia imperialista de Putin. Funâmbulos de outro tom, mas funâmbulos ainda...

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

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