Caminhos de Santiago: Porque o Caminho também se faz navegando! O Caminho fez-se!

Uma apresentação do projecto do Caminho Marítimo de Santiago. A recriação da viagem da barca de Santiago, em território lusitano, alicerça-se em três vectores: a relevância do património a sul do Tejo, das fortalezas e dos portos da Ordem de Santiago.

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O projecto tem cruzeiro Inaugural de 28 de Maio a 13 de Junho dr

Reza a lenda que a viagem iniciática dos caminhos de Santiago foi feita numa “barca de pedra”, que atravessou o Mediterrâneo, do porto oriental de Jaffa à ocidental Iria Flávia, hoje Padron, na Galícia Atlântica. Na barca seguia o corpo de São Tiago, um dos 12 apóstolos de Jesus Cristo, que, depois de evangelizar a Hispânia Ocidental, retornou à Palestina, onde foi assassinado à ordem de Herodes Agripa, rei da Judeia. Corria o ano de 44 DC. Sete dias de navegação mar fora e a barca terá aportado a terras de Galícia, onde o corpo do apóstolo Tiago foi misteriosamente sepultado num bosque, em terras mais tarde chamadas de Campus Stellae.

Oito séculos passaram. Repousava então São Tiago, esquecido, quando em pleno reinado de Afonso II das Astúrias (séc. IX), evocando uma estrela que o havia guiado, o bispo de Iria Flávia, D. Teodorico, encontrou o túmulo do apóstolo. O momento primeiro da peregrinação. De aí em diante, muitos foram os caminhos trilhados, muitos mais os peregrinos.

Muitos e diversificados são os caminhos de Santiago. Muitos milhares por ano são os visitantes que chegam a Compostela. Tantos são os peregrinos, diversos de origem e com diferentes motivações. Apenas um traço comum, caminhar rumo a Santiago. Caminhar, independentemente da distância, do tempo que demora, do clima, dos caminhos que se trilham, do solo e da companhia.

O caminho, e não o destino, é a essência primeira da rota a Santiago. O desígnio é universal: chegar a Santiago. A motivação é individual. A fé, a penitência, a introspecção, o prazer, a partilha, o ascetismo ou o hedonismo são, entre outras, razões motivacionais que definem as opções de cada peregrino e estabelecem uma porta aberta para entender e interpretar os caminhos de Santiago como um espaço absolutamente ecuménico.

A razão espiritual, mais do que a religiosa, tem uma crescente densidade na intenção de caminhar até Santiago. O turismo espiritual floresce. Tantos saem de casa caminheiros e chegam a Santiago, cada um à sua maneira, peregrinos.

Sempre que ao longo dos tempos surge um caminho novo, alimentando-se da existência de um caminho velho ou de estórias antigas (caminhos da Costa; Alentejo e Ribatejo; de Torres); quando se qualifica, revitaliza, se promove e certifica uma rota de Santiago, está naturalmente a reafirmar-se a história, a tradição e a cultura.

Quando se cria um novo alojamento, se reanima um restaurante, se desvia a rota para fora do alcatrão, se instalam comodidades de comunicação e segurança, se sinaliza melhor, estamos a valorizar o território e a qualificar a experiência do peregrino.

A criação de novos roteiros, desde que sustentados pela validação histórica, patrimonial e cultural é vital para a afirmação do culto a Santiago e é nesse contexto que se entende voltar à rota primeira.

A recriação da viagem da barca de Santiago, em território lusitano, alicerça-se em três vectores: a relevância do património a sul do Tejo, das fortalezas e dos portos da Ordem de Santiago. A actual existência de portos, urbes e património de origem romana, presentes na Lusitânia, à época da “passagem da barca e a natural ligação entre portos marítimos e caminhos terrestres de Santiago. Acrescer ao ideário de Santiago a ligação marítima a partir do sul da península (Algarve – Galiza) porquanto ela já é secular partindo do Norte (ex.: caminho inglês) é um instrumento de valorização cultural, do Caminho de Santiago, porque o caminho também se faz navegando!


Fernando Completo é administrador e consultor sénior da consultora Upstream Portugal e professor-adjunto na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE).​

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