O fish and chips será vítima da guerra na Ucrânia? No Reino Unido teme-se que sim

Associação do sector fala numa tempestade perfeita que poderá levar ao encerramento de um terço dos postos de venda da icónica iguaria britânica: mais de três mil lojas. Para 27 de Maio está marcada a celebração do Dia Nacional do Peixe e Batatas Fritas.

Foto
Um Fish and chips em imagem de divulgação da National Federation of Fish Friers dr

Peixe e batatas fritas. A receita não tem mistério e milhões de britânicos e visitantes habituaram-se a esta oleosa união, para alguns um casamento perfeito de sabores e substâncias. A guerra na Ucrânia, porém, está a pôr em causa a sobrevivência do sector, segundo estudo e comentários da National Federation of Fish Friers (NFFF).

Muito do peixe usado era capturado por navios russos. Quase metade do óleo vinha da Ucrânia. Juntando ao aumento generalizado de preços de produção, a associação que reúne os vendedores do icónico fish and chips britânico não tem dúvidas: não são só os preços de um prato rápido que se quer barato a aumentarem, está em risco o sector e, profetizam, mais de um terço dos vendedores poderão fechar portas em um ano.

“Não estamos atrás de esmolas. Somos uma indústria orgulhosa. Mas muitas empresas irão falir e precisamos de uma estratégia a longo prazo de assistência”, diz Andrew Crook, presidente da NFFF e proprietário de uma loja em Manchester, à Sky News.

Ao longo do ano, muitas lojas já foram mudando menus, trocando peixes, aligeirando as porções, e claro, aumentando preços. Quando isto não funciona, avisa Crook, é tempo de fechar e muitos vendedores já desistiram, o que põe em risco uma verdadeira instituição britânica.

Crook adverte que, apesar de se procurarem alternativas ao óleo que era assegurado pela Ucrânia, estas fazem os preços subir. Já as sanções e taxações às capturas russas levam a que o peixe branco tenha levado um grande corte em termos de abastecimento e a tornar-se mais caro.

“Temos de nos preparar para os piores tempos que nos esperam, e penso que é possivelmente o maior desafio que a indústria do peixe e batatas fritas alguma vez enfrentou”, diz ao canal de televisão George Morey, proprietário da Knights, uma das mais antigas lojas a venderem o produto no Reino Unido. Morey admite mesmo substituir o fish and chips no menu por outro petisco.

Noutros locais, tentam-se outros peixes antes pouco usados, como pescada ou truta-salmonada, adianta, por seu lado, o Financial Times. Isto porque passou a ser aplicada uma taxa de de 35% ao bacalhau e arinca habituais no fish and chips, capturados por navios russos. Os preços do bacalhau do Atlântico subiram 26% em Maio, assinala o FT, citando a base Globefish, para 5,49 euros por quilo no Reino Unido. Já o óleo de girassol subiu 150% desde o início de 2020 e a sua contenção levou a que outros óleos, como o de palma, também aumentassem e ficassem de acesso mais limitado.

A isto junta-se o preço da batatas, em alta, muito devido ao custo dos fertilizantes, também de origem russa e cujos preços já chegaram a triplicar. A farinha segue o mesmo percurso. É juntar ao bolo os custos de produção e energia em aumentos generalizados...

A indústria de peixe e batatas fritas foi uma das alternativas mais procuradas durante os períodos de confinamento na pandemia, assinala o jornal. Tanto pelos preços como pela facilidade e rapidez de take-away. O número de lojas em 2020 subiu 11,6%. Segundo o site da NFFF, existirão cerca de 10.500 locais de venda da iguaria no Reino Unido e são servidas 382 milhões de doses por ano, com 22% dos britânicos a comprarem o combinado uma vez por semana.

Por outro lado, o FT indica ainda outra medida a atingir o sector: a redução no IVA, em vigor durante a pandemia, terminou em Abril. A concorrência também aumenta, com redes como a McDonald’s a voltarem a investir fortemente na abertura de novas lojas, provavelmente procurando recuperar do abandono do mercado russo.

Enquanto os vendedores lutam pela sobrevivência, o preço final do fish and chips vai subindo, o que também é uma ameaça à sua popularidade: em 2020, andaria à volta de sete libras, agora custará mais uma libra e meia, segundo refere Andrew Crook, da NFFF, à CNN. “Estamos a correr o risco de sairmos do mercado por causa dos preços...”, diz o representante e empresário: “Perdi alguns clientes regulares que costumavam vir todas as sextas-feiras”, acrescentou

Sugerir correcção
Ler 5 comentários