Centeno sinaliza revisão em alta das previsões de crescimento e inflação

Previsão de crescimento do FMI de 4,5% não leva em conta o crescimento forte registado na economia portuguesa no primeiro trimestre, assinala o governador, que em Junho irá rever as suas próprias projecções.

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Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, na apresentação de resultados da instituição, esta terça-feira RICARDO LOPES

Será só em Junho que o Banco de Portugal apresentará novas previsões, mas Mário Centeno deu esta terça-feira indicações de que está mais próximo da expectativa de crescimento de 5,8% da economia portuguesa este ano apresentada pela Comissão Europeia do que da visão mais pessimista do FMI de um crescimento de apenas 4,5%. Em contrapartida, no que diz respeito à inflação, o optimismo revelado por Bruxelas já não é acompanhado.

Na apresentação dos resultados do Banco de Portugal referentes ao ano de 2021, o governador não quis falar em pormenor sobre a forma como vê a economia a evoluir este ano. No entanto, depois de a Comissão Europeia e o FMI terem apresentado no dia anterior previsões bastante divergentes para o crescimento e a inflação em Portugal no decorrer deste ano, Mário Centeno acabou por mostrar em que projecções acredita mais.

O executivo de Bruxelas apontou para um cenário bastante favorável para a economia portuguesa, com o maior crescimento entre todos os países da UE, de 5,8%, e a taxa de inflação mais baixa, de 4,4%. O FMI, pelo contrário, coloca a variação do PIB em 2022 apenas nos 4,5% e a inflação a um nível bem mais alto, nos 6%.

As previsões do Banco de Portugal, feitas em Março, são actualmente de um crescimento de 4,9% e de inflação de 4%. Em Junho, serão actualizadas as estimativas.

Mesmo dizendo não querer “comentar previsões”, Mário Centeno fez uma observação que mostra que está bem mais próximo da previsão de crescimento da Comissão. “Nas previsões, é importante levar em conta qual foi o momento de fecho de dados [a data dos últimos indicadores considerados], porque a evolução da economia portuguesa está marcada pelos dados do primeiro trimestre [divulgados a 29 de Abril]. E fazendo uma aritmética simples, dificilmente as previsões do FMI podem ser compatíveis com a utilização da informação do primeiro trimestre”, afirmou o governador do Banco de Portugal.

Aquilo a que Centeno se refere é ao facto de, apenas por causa do efeito de base, o crescimento forte do primeiro trimestre fazer com que, mesmo num cenário em que a variação do PIB seja nula nos próximos três trimestres, a taxa de crescimento da economia fique em 6,3% em 2022. Esta referência pode significar que o Banco de Portugal se prepara para rever em alta a sua actual previsão de crescimento de 4,9%.

Já no que diz respeito à inflação, o sinal dado pelo governador parece apontar para um cenário mais próximo do FMI, em vez do mais optimista da Comissão Europeia. Mário Centeno afirmou que o valor da taxa de inflação homóloga de 7,2% registado em Portugal em Abril “não pode deixar de se avaliar como uma surpresa em alta”.

Esses novos dados “vão ter de ser materializados nas novas previsões”, disse, assinalando que em Março o banco central traçou igualmente um cenário mais adverso em que a inflação de 2022, em vez de ser os 4% do cenário base, chegava aos 5,9%, bem perto daquilo que é, neste momento, a previsão do FMI.

Outro ponto em que o governador se colocou ao lado do FMI foi na crítica que esta entidade fez esta semana à descida generalizada dos impostos sobre os combustíveis. “Devemos ser muito cautelosos em medidas que depois temos dificuldades em reverter, em particular quando vão no sentido contrário de objectivos que a sociedade tinha estabelecido, como a descarbonização”, disse.

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