Novos quadros competitivos não mudam face do futebol profissional

Com duas decisões ainda presas pelo play-off de acesso à primeira e segunda Ligas, clubes do Norte mantêm há uma década a predominância num mapa geográfico imune a alargamentos e reduções.

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O Rio Ave, que venceu a II Liga, reforçou o contingente nortenho no escalão principal DR

O mapa do futebol profissional português permaneceu praticamente inalterado ao longo da última década, com os clubes do Norte a manterem a tradicional vantagem numérica num tabuleiro em que, não raras vezes, superam a soma do contingente de emblemas das regiões centro, sul e ilhas. Em 2022-23, não serão muitas nem significativas as diferenças introduzidas pela dança entre os despromovidos ao futebol não profissional (Académica e Varzim) e os recém-chegados Torreense e Oliveirense (faltando conhecer o destino de Alverca e Sp. Covilhã).

Assim, à partida (sem ignorar a palavra final da Liga, após análise dos pressupostos financeiros impostos regulamentarmente e a possibilidade de despromoções de última hora pela via da secretaria), parece não haver, igualmente, mudanças dramáticas no novo ordenamento do escalão principal, ao qual regressam o Rio Ave, campeão da II Liga pela terceira vez na história, e Casa Pia - este após hiato de 83 anos.

Falta, ainda, esclarecer se o Norte se estenderá até à fronteira, com o regresso do Desp. Chaves, ou se será o Moreirense a garantir no play-off mais um ano entre a elite, o que no global não altera minimamente o quadro geográfico.

Mas, e como tem evoluído esta dinâmica entre norte e sul desde o início do século? Pegando na amostra de 2000-01, verifica-se que a média não sofre desvios que possam justificar ou sustentar uma mudança de paradigma, embora, à época, na I Liga houvesse um maior equilíbrio, com oito clubes a norte, dois no centro, sete a sul e apenas um entre os insulares.

O maior peso registava-se, sem dúvida, no segundo escalão, marcadamente deslocado para Norte (11 emblemas num total de 18).

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Depois, já no início da última década, com a criação das equipas B, veio a inflação de clubes na II Liga, que chegou a albergar 24 equipas, fixando-se nas 18 apenas a partir da temporada de 2018-19. Independentemente de alargamentos, de acertos ou reduções, porém, a predominância dos clubes da região norte mantém-se intacta.

Madeira e Açores (entre três e cinco equipas) batem-se com a região centro (entre quatro e seis). Lisboa e Algarve têm contribuído, em média, com uma dúzia de representantes, números que flutuaram quase sempre ao sabor do futebol do barlavento e sotavento algarvios.

No próximo ano, com a queda do Tondela, a relação de forças altera-se na I Liga, onde o Norte se apresentará com 10 emblemas, mais do que a soma das restantes regiões e mais um do que nas duas últimas temporadas. A grande pecha do futebol profissional da zona norte estará, claramente, na II Liga, que terá o quinhão mais modesto da década, só ao nível do registado em 2019-20, ano de que 2022-23 é praticamente um decalque.

Claro que nem sempre é fácil, pacífico e muito menos unânime definir zonas com base em delimitações meramente geográficas, cujo rigor contraria, em algumas situações específicas e subtis, o que separa o Norte do Centro ou o Centro do Sul de acordo com a inclinação das populações.

As contas poderiam ser ajustadas às diversas sensibilidades, com Santa Maria da Feira, Oliveira de Azeméis e Arouca a poderem ser puxadas para um ou outro lado. Para esta análise, considerámos que os respectivos clubes, pertencentes ao distrito de Aveiro, se inserem na Zona Centro. Que, de contrário, e sem o Arouca, perderia o último representante na I Liga. Nada que altere, em absoluto, um quadro que no futebol serve para ilustrar uma relação que ultrapassa todas as fronteiras.

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