Governo ainda não pagou conta do liceu Alexandre Herculano, acusa Rui Moreira

Ministério da Educação confirma atraso, mas diz que pagamento já foi autorizado. Empreitada de quase 12 milhões que Estado e autarquia dividem vai derrapar prazos. Escola não deverá abrir no próximo ano lectivo

Foto
Liceu está em obras desde final de 2019 Nelson Garrido

A parte da conta da obra de reabilitação do liceu Alexandre Herculano que cabe ao Estado ainda não foi paga pelo Ministério da Educação ao município do Porto. A informação foi dada pelo presidente da Câmara do Porto que, apesar disso, diz ter recebido, há cerca de uma semana, a garantia de que o problema deverá resolver-se em breve. A reabilitação do histórico liceu esteve inicialmente orçamentada em sete milhões de euros, mas vai já perto dos 12 milhões.

Contactado pelo PÚBLICO, o gabinete de comunicação do Ministério da Educação confirmou que o pagamento ainda não foi realizado, mas acrescentou que o processo está em andamento: “Conforme anteriormente adiantado pelo Ministro da Educação ao Sr. Presidente de Câmara, já está em curso o pagamento da despesa que foi validada pelos serviços do Ministério da Educação.”

“Enquanto com a CCDR [Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional] as coisas vão correndo bem, e nos tem pago a verba a que temos direito no âmbito da candidatura [de reabilitação da escola ao Portugal 2020], do Estado até hoje não veio nada”, disse Rui Moreira aos jornalistas no fim da reunião privada do executivo desta segunda-feira. A obra, cujo fim estava previsto para Junho, “deverá estar pronta em Setembro, se tudo correr bem”, divulgou, admitindo que a reabertura no próximo ano lectivo é um cenário muito pouco provável.

O assunto chegou mais uma vez ao seu gabinete no fim de Abril. A vice-presidente do conselho de administração da GO Porto, empresa municipal responsável pela obra no Alexandre Herculano, escreveu-lhe uma carta que accionou o alerta vermelho. “O município do Porto já suportou um custo de 8,4 milhões de euros, prevendo-se utilizar o total da verba assumida para requalificação do edifício da escola num montante de 11,6 milhões. Até à presente data ainda não foi realizada qualquer transferência do Ministério da Educação para o município”, refere Cátia Meirinhos.

A administradora alertava ainda para o facto de ser tempo de tomar decisões sobre o lançamento do concurso para a obra dos arranjos exteriores – que não fazem parte do projecto. Essa obra, refere, está orçamentada em 1,6 milhões, “cerca de 8% acima do valor acordado”. Mas ainda assim talvez a conta não esteja acertada: “Temos algum receio que o valor em causa não seja suficiente perante os valores de mercado actuais.”

Depois de dar nota destas preocupações a António Costa, Rui Moreira diz ter recebido um telefonema de João Costa: “O senhor ministro da Educação ligou-me na semana passada dando a garantia que o assunto ia ser desbloqueado proximamente e dei ordem para que se continue com o projecto. Senão parava.”

Para o autarca do Porto, a história desta reabilitação vai torta desde o início. O recurso ao Portugal 2020, por parte do Estado, para fazer a obra deste liceu “esgotou” a verba de cerca de cinco milhões que o município contava ter para fazer obras noutras escolas da cidade. “Foi uma apropriação, a meu ver indevida, por parte do Ministério da Educação dos dinheiros do Portugal 2020 que eram destinados às câmaras.”

Mas o “crime perfeito” não é fácil e Moreira diz que o Estado não soube fazê-lo. Porque a Parque Escolar não podia, afinal, candidatar-se ao Portugal 2020 e pediu à autarquia para o fazer. Alguma negociação depois, em Março de 2018, havia acordo: a juntar aos 5,1 milhões do Portugal 2020, Estado e município dividiram os custos, calhando quase um milhão de euros a cada um. O concurso acabaria, no entanto, por ficar deserto. A parada subia para 9,8 milhões no início de 2019, mas voltaria ainda a necessitar de ajustes, cerca de dois anos depois. Ao Estado cabe, agora, o pagamento de 4,25 milhões de euros, ao município 2,45 – o resto vem de fundos.

Painéis solares dos bairros

Na aprovação dos compromissos plurianuais da Domus Social, o executivo integrou uma verba de cerca 500 mil euros para resolver em alguns bairros camarários (como Falcão ou Monte da Bela) o problema dos painéis solares, que não funcionam. A comunista Ilda Figueiredo, que falou aos jornalistas no fim da reunião privada à qual a comunicação social está impedida de assistir, congratulou-se com o fumo branco para este assunto, mas explicou que se absteve tendo em conta o “atraso” na resolução.

“Muitos moradores ficaram sem acesso a água quente. As pessoas estão à espera desta resolução há mais de um ano. Sendo uma obra essencial, por que razão se esperou tanto tempo?”, questionou.

A vereadora da CDU pediu ainda, e mais uma vez, ao executivo de Rui Moreira que revisse a matriz e o regulamento de acesso à habitação social. Mas o pedido, que diz fazer por ver cada vez mais casos de grave carência habitacional que são excluídos, ficou sem resposta. Para os bairros Leonardo Coimbra e do Bom Sucesso, que visitou esta semana, pediu também soluções: no primeiro, os arranjos no espaço público circundante têm gerado queixas dos moradores; no segundo, que tem uma parte privada e outra pública, algumas varandas ameaçam ruir.

Notícia actualizada às 19h58, com a resposta do Ministério da Educação

Sugerir correcção
Comentar