Controlar a hipertensão para melhor prevenir a doença renal

É um dos principais sintomas da doença renal crónica, razão por que a hipertensão arterial deve ser sempre valorizada e controlada. No Dia Mundial da Hipertensão, que se assinala a 17 de Maio, importa conhecer o seu impacto na saúde dos rins para uma prevenção eficaz.

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Embora quase 40% dos portugueses não saiba, a hipertensão arterial é um factor de risco para a doença renal crónica (DRC), contribuindo não só para o seu aparecimento como para a sua evolução. O desconhecimento sobre a relação entre as duas patologias é real e mais de metade da população (54,2%) diz não saber também que a medição da pressão arterial é uma forma de avaliar a saúde dos rins.

Os dados constam de um estudo levado a cabo pela Escola Nacional de Saúde Pública, com o apoio da AstraZeneca, e merecem especial destaque neste Dia Mundial da Hipertensão, assinalado a 17 de Maio, sobretudo porque, como afirma Edgar Almeida, presidente da SPN, “entre 60 a 70% das pessoas com DRC têm hipertensão arterial”, e, por outro lado, “a hipertensão arterial nas pessoas com DRC aumenta muito o risco de eventos cardiovasculares”. “São como irmãos siameses”, sintetiza o especialista, sublinhando que “as pessoas com hipertensão mal controlada põem em risco também a saúde dos seus rins anteriormente saudáveis”. Isto acontece porque “o rim tem um papel fundamental na gestão da regulação da pressão arterial”, esclarece.

A DRC em Portugal

Edgar Almeida recorda que “os nossos rins funcionam fazendo a purificação do sangue”, sendo que esta filtração é feita pelos nefrónios, que são pequenas unidades funcionais existentes em elevado número nos rins. Porém, “diversas doenças podem destruir os nefrónios e a sua envolvente, levando a uma perda progressiva da sua capacidade de filtração e de eliminação das substâncias que se acumulam no organismo”, explica o médico.

A evolução desta situação leva a uma redução da quantidade de nefrónios até um ponto que se “torna incompatível com a vida”, pois deixa de se verificar a eliminação das substâncias resultantes do metabolismo e que, se ficarem retidas no organismo, são nocivas. Diversas patologias podem levar a esta situação, que se designa por doença renal crónica, e os tratamentos disponíveis nas fases avançadas podem passar pelo transplante renal ou pela realização de diálise, técnica que permite a substituição de algumas das funções mais importantes dos rins.

Entre os factores de risco para o desenvolvimento de DRC contam-se não só a hipertensão arterial, mas também outras doenças muito prevalecentes em Portugal, como a obesidade e a diabetes, sendo que alguns medicamentos, como os anti-inflamatórios, podem igualmente prejudicar a saúde dos rins.

Em Portugal, estima-se que entre 6 a 10% da população sofra de DRC nas fases mais avançadas e, se olharmos para as pessoas que acumulam outras doenças e que frequentam os cuidados de saúde primários, vemos que a prevalência sobe para 20,9% de acordo com os resultados do estudo RENA. Nesta pesquisa, que resultou da colaboração de diversas sociedades científicas nacionais, nomeadamente da SPN, e que contou também com o apoio da AstraZeneca, ficamos ainda a saber que cerca de 70% das pessoas acima dos 70 anos de idade têm DRC, o que para Edgar Almeida “é preocupante e deve ser olhado pelos poderes públicos”.

Sinais a que é preciso estar atento

Tendo em conta que “a DRC é, na maior parte das vezes, assintomática, sobretudo nas fases iniciais”, Edgar Almeida realça a necessidade de que os médicos, independentemente da especialidade, estejam atentos e saibam identificar os sinais, “que são essencialmente avaliados em análises”. Com efeito, só após algum tempo de evolução da doença “começam a aparecer sintomas, nomeadamente, decorrentes da anemia, que é muito comum, e da hipertensão”, ou seja, “a pessoa pode ficar com os pés mais inchados e pode apresentar comichões”, refere o clínico, destacando que “quando o rim não consegue eliminar as substâncias que foram retidas, estas acabam por ter efeitos nos sistemas cardiovascular, hematopoiético, musculoesquelético e em tudo”. No fundo, “acaba por haver uma intoxicação, que leva as pessoas a perderem o apetite, a ficarem nauseadas e a vomitar”, enumera.

Todavia, o médico salienta que “essas manifestações já são muito tardias, isto é, quando se chega a essa fase já não há nada a fazer a não ser preparar a hemodiálise ou a transplantação”. Por essa razão, reforça a necessidade de diagnóstico o mais precoce possível, tanto mais que “Portugal tem a maior taxa de incidência da Europa de pessoas a fazer diálise”. Para o nefrologista, tal “é preocupante e muito penalizador para a qualidade de vida das pessoas, mas também tem custos muito elevados para o SNS”. Assim, quanto mais cedo a DRC for detectada, tanto maiores serão as hipóteses de sobrevivência e mais fácil será viver com a doença, beneficiando das inovações terapêuticas entretanto desenvolvidas e que ajudam a travar a sua progressão, evitando os tratamentos mais limitativos.