“É improvável que a Rússia acelere de forma significativa os seus avanços nos próximos 30 dias”

De acordo com os serviços secretos britânicos, a ofensiva russa no Donbass “perdeu força e está significativamente atrasada”. Contudo, para os ucranianos na região, a situação não é assim tão simples.

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Após as reconquistas de vilas nos arredores de Kharkiv, somam-se as baixas confirmadas no Exército russo Reuters/STRINGER

Os serviços secretos do Ministério da Defesa britânico afirmaram este domingo que Moscovo já perdeu um terço das forças de combate terrestres destacadas para a invasão da Ucrânia em Fevereiro.

Segundo o relatório diário da Defesa britânica, a ofensiva russa no Donbass “perdeu força, está significativamente atrasada” e a Rússia tem falhado na conquista de território durante o último mês. “É improvável que, nas condições actuais, a Rússia acelere de forma significativa os seus avanços nos próximos 30 dias.”

Mas importa lembrar que, com maior ou menor intensidade, continuam activos os combates pela conquista de Lugansk e Donetsk, regiões que o Kremlin quer anexar, à semelhança da Crimeia em 2014. Só neste domingo, a Rússia terá realizado cerca de uma dúzia de ataques com recurso a artilharia pesada em Severodonetsk, a segunda maior cidade da região de Lugansk, afirmaram autoridades locais citadas pelo New York Times.

“Em Severodonetsk, os russos estão a intimidar a população e a destruir casas. Há mais pessoas a querer fugir”, escreveu no Telegram o governador da região. Serhiy Haidai revelou também que a vaga de ataques nos últimos dias atingiu uma escola, um hospital, uma fábrica de produtos químicos e vários edifícios residenciais. O governador conta duas mortes no “bairro histórico” da cidade.

À medida que a batalha do Donbass se prolonga, acumulam-se baixas nos exércitos de ambos os lados. Os soldados russos têm tentado, sem sucesso, encurralar as forças de Kiev que resistem na defesa de Severodonetsk e Lysychansk, cidade vizinha — uma estratégia fragilizada pelas recentes perdas humanas e materiais no Nordeste da Ucrânia, depois da reconquista de Kharkiv. Entretanto, os ucranianos dirigem a atenção para os arredores de Izium, cidade ainda ocupada na região.

Segundo as Forças Armadas ucranianas, a Rússia planeia enviar até 2500 reservistas para a guerra, por enquanto em formação, para compensar as baixas. Também não está excluída a hipótese de destacar soldados que, não sendo do exército russo, representem Moscovo, possivelmente mercenários.

Apesar da celebração ucraniana de vitória na segunda maior cidade do país (Kharkiv), há civis ainda presos em aldeias da região, a poucos quilómetros da fronteira, onde faltam recursos e se mantêm os ataques russos. Em entrevista ao New York Times, uma das habitantes que permanece na sua casa garante que o mais recente contra-ataque ucraniano não sossegou os disparos da artilharia russa. “Não vimos a situação melhorar nada.”

No extremo oposto do país, a Ocidente, vários mísseis atingiram, neste domingo, uma instalação militar em Lviv. “Quatro mísseis inimigos atingiram uma das infra-estruturas militares da região de Lviv. A instalação ficou completamente destruída. Segundo informações preliminares, não há vítimas. Ninguém procurou ajuda médica”, escreveu o governador da região, Maxim Kozitski, no Telegram. De acordo com o Comando Aéreo Regional da Força Aérea da Ucrânia, os mísseis terão sido disparados a partir do mar Negro.

Em Mariupol, a fábrica Azovstal continua debaixo de fogo, com dezenas de soldados feridos ainda presos nos túneis subterrâneos do complexo. Desde o início do cerco russo à fábrica, já terão morrido 15 membros do Batalhão Azov, garante a jornalista ucraniana Nika Melokzerova, que diz ter conversado neste fim-de-semana com um dos líderes do regimento, Sviatoslav Palamar.

No final de uma semana em que a ONU revelou a abertura de um inquérito aos alegados crimes de guerra cometidos pelas forças de Moscovo nas regiões de Kiev, Chernihiv, Kharkiv e Sumi, para que possam ser documentados e julgados pelo Tribunal Internacional de Justiça, as autoridades ucranianas anunciaram a investigação de pelo menos dez crimes de abuso sexual.

“É, de forma inequívoca, um tipo de arma em situações de guerra”, afirmou a vice-ministra do Interior da Ucrânia, Kateryna Pavlichenko, citada pela Sky News. “Vamos tomar todas as medidas para que estes crimes sejam documentados e transferidos para instituições internacionais.”

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