Os protectores solares fazem mal aos corais e agora percebeu-se porquê

Experiências permitiram perceber o porquê de os protectores solares à base de oxibenzona serem um perigo para os recifes de coral, contribuindo para o seu branqueamento. Convertem esse composto em toxinas que tornam os corais sensíveis à luz.

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Os cientistas esperam que os fabricantes de protectores solares a escolher substitutos da oxibenzona "mais seguros" para a vida marinha Adriano Miranda

As preocupações relativamente ao impacto dos protectores solares e das substâncias que os compõem nos recifes de coral não são recentes. Em 2018, o Havai tornou-se o primeiro estado norte-americano a proibir a venda de protectores solares com oxibenzona e metoxicinamato de octila, dois compostos orgânicos que interferem com o desenvolvimento e a sobrevivência dos corais. O exemplo viria a ser seguido pelo arquipélago do Palau, onde, em 2020, também foi banida a distribuição de protectores solares “inimigos” da vida marinha.

Mas por que motivo a oxibenzona é tão problemática? Essa foi a questão a que tentaram responder os autores de um estudo publicado na revista científica Science. Liderado por Djordje Vuckovic, um grupo de investigadores da Escola de Medicina da Universidade de Stanford (nos Estados Unidos) fez experiências com anémonas-do-mar e anémonas-cogumelo (que, devido ao seu aspecto, são muitas vezes denominadas “falsos corais) de dois géneros distintos (Aiptasia e Discosoma), para perceber de que forma interagem com a oxibenzona com a qual entram em contacto.

Djordje Vuckovic e a sua equipa expuseram várias anémonas a dois miligramas de oxibenzona por cada litro de “água do mar artificial” a uma temperatura de 27 graus Celsius. Expuseram-nas, também, a um “simulador solar” e a raios ultravioleta (UV) com comprimentos de onda entre os 290 e os 370 nanómetros.

Quais os resultados observados? Numa janela temporal de “17 dias”, todos os animais estavam mortos. Por outro lado, quando as anémonas não foram expostas a oxibenzona (ou, então, tendo sido expostas a oxibenzona, não foram expostas a luz UV), a mortalidade registada ao longo de “21 dias” foi muito reduzida — os autores descrevem-na mesmo como “insignificante”.

Os investigadores indicam que, uma vez dentro das células de anémonas e corais, a oxibenzona — que é usada nos protectores solares porque, para os humanos, é um importante bloqueador da radiação UV — é convertida em toxinas que tornam os animais marinhos especialmente fotossensíveis.

Esta é uma demonstração importante, argumentam os autores, que sustentam que, apesar de a venda de protectores com oxibenzona e metoxicinamato de octila já ter sido banida no estado do Havai e no arquipélago do Palau, o porquê de esses compostos químicos estarem ligados a perigos para os ecossistemas marinhos — designadamente o branqueamento dos corais — ainda não tinham sido totalmente compreendidos. A informação trazida à luz por este estudo, defende a equipa de Djordje Vuckovic, é importante para “garantir” que os compostos químicos escolhidos pelos fabricantes de protectores solares em detrimento da oxibenzona são “mais seguros” para os recifes de coral.

Nas suas experiências, os cientistas repararam ainda que, no que aos animais marinhos do género Aiptasia diz respeito, as anémonas-do-mar que não vivem em simbiose com algas fotossintéticas acumulam uma quantidade maior de toxinas — e, como tal, morrem mais rapidamente — do que aquelas que vivem com algas. “Isto leva-nos a acreditar que as algas protegem as anémonas, sequestrando as toxinas” causadoras de fotossensibilidade, pode ler-se no estudo, em que se acrescenta: da mesma forma, a oxibenzona poderá ser especialmente perigosa para corais branqueados pelo aquecimento do oceano — e, portanto, privados das algas que lhes fornecem nutrientes.

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