Morreu o jornalista Jerónimo Pimentel, fundador do PÚBLICO

Morreu de paragem cardíaca, aos 65 anos. O corpo chega à capela do Alto de São João às 13 horas, há uma cerimónia religiosa às 15h30, seguida de cremação.

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Jerónimo Pimentel fez parte da equipa fundadora do PÚBLICO como subeditor de Política DR

Jerónimo Pimentel, jornalista que fez parte da equipa fundadora do PÚBLICO, morreu na madrugada desta sexta-feira no Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa. Tinha sido internado após uma queda em casa em que fracturou o colo do fémur. Operado 15 dias depois, Jerónimo chegou a sair dos cuidados intensivos. Era um doente cardíaco grave – reformou-se antecipadamente do jornalismo na sequência de várias operações ao coração – e acabou por não resistir. Tinha 65 anos. As cerimónias de homenagem serão na segunda-feira. O corpo chega às 13h à capela do Alto de São João, às 15h30 haverá uma cerimónia religiosa, seguida de cremação.

Quando, a 5 de Março de 1990, o PÚBLICO pôs na rua a sua primeira edição, a secção política tinha dois chefes: Áurea Sampaio, a editora, e Jerónimo Pimentel, subeditor. Áurea e Jerónimo já se conheciam há anos – ele tinha sido jornalista especializado em política na Rádio Renascença, TSF e Expresso, ela no Diário de Lisboa e no Semanário.

“O Jerónimo aliava a seriedade no trabalho que fazia à forma surpreendente com que nos conseguia alegrar”, conta Áurea Sampaio ao PÚBLICO, que recorda o seu “humor sarcástico, corrosivo”, e como encontrava “imagens demolidoras para descrever situações que nos levavam às lágrimas”. “Todos nos divertíamos com ele. Estava sempre de bem com a vida, gostava muito de viver e tirar proveito da vida”, diz Áurea. A primeira editora de Política do PÚBLICO (que mais tarde regressou como directora adjunta) lembra como Jerónimo Pimentel era de uma enorme seriedade do ponto de vista ético e deontológico: “Foi facílimo trabalhar com ele.”

A seguir ao PÚBLICO, no fim dos anos 90, foram juntos para O Independente, na altura dirigido por Constança Cunha e Sá. Jerónimo Pimentel era licenciado em Direito em Coimbra, fez o curso contra a sua vontade e rapidamente escolheu o jornalismo. Chegou à Rádio Renascença no início dos anos 80, passou pelo Expresso e pela TSF.

Mas foi no Diário de Notícias, em 2005, anos depois de Jerónimo ter saído do PÚBLICO, que a jornalista Isabel Lucas o conheceu. “Encontrámo-nos no riso”, diz Isabel, hoje jornalista colaboradora do PÚBLICO. “O Jerónimo tinha um sentido de humor muito parecido com o meu. Ríamos das mesmas coisas. Às vezes bastava um olhar.”

Na época, a redacção do Diário de Notícias era bastante tradicional, os dois tinham acabado de chegar, sentiam-se “peixes fora de água” e começaram a almoçar juntos. Jerónimo convida Isabel Lucas, até aí “confinada” à cultura, a fazer reportagens de política, coisa que Isabel adorou. Áurea nota essa característica: “O Jerónimo era muito generoso com os colegas. Deixava brilhar e gostava que os outros brilhassem.”

Jerónimo Pimentel saiu do Diário de Notícias para integrar a equipa fundadora do semanário Sol, como editor de Política, em 2006. As várias operações ao coração levaram-no a antecipar a reforma. Abriu um turismo de habitação em Provesende, a sua quinta no Douro onde cozinhava mesmo para os hóspedes – outra das suas paixões, cozinhar e estar à mesa, como diz Isabel Lucas, que admite que, apesar de ter sido a saúde o motivo da reforma de Jerónimo, a decisão coincidiu com um momento de mudança das redacções, onde há menos lugar para “pessoas que gostam de desestabilizar, mas são criativas, em que se pode dizer um disparate e dali sai uma ideia, onde se pode pensar para além do óbvio”.

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