Contactos diplomáticos com a Rússia recomeçam a conta-gotas: Scholz fala com Putin, Austin com Shoigu

Responsáveis sublinham importância de manter canais abertos de diálogo com Moscovo, embora não haja grandes expectativas de avanços.

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A Rússia continua a atacar localidades perto de Kharkiv (Carcóvia) RICARDO MORAES/Reuters

Depois de algum tempo de silêncio, recomeçaram a conta-gotas contactos entre os EUA e a Alemanha com a Rússia sobre a Ucrânia. O pedido comum de Washington e Berlim foi um cessar-fogo imediato. Isto quando no terreno a Rússia tem conseguido poucos avanços nesta fase em que se focou na parte Sul e Leste do país.

O primeiro telefonema foi o do chanceler alemão, Olaf Scholz, com o Presidente russo, Vladimir Putin, e o segundo entre o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu. Ambos sublinharam a importância de manter abertas as linhas de comunicação.

De 75 minutos de conversa, a primeira desde 30 de Março, Scholz retirou três ideias para um resumo que fez no Twitter: “Tem de haver um cessar-fogo na Ucrânia o mais rapidamente possível. A alegação de que lá estão nazis no poder é falsa. E também lhe lembrei a responsabilidade russa na situação global de bens alimentares”.

Do lado de Washington, o Pentágono disse que este foi o primeiro contacto desde a invasão da Ucrânia pela Rússia a 24 de Fevereiro, apesar de várias tentativas que, dizem os norte-americanos, esbarraram numa aparente falta de interesse do lado russo. A agência russa TASS salientou que a iniciativa do telefonema foi do lado americano.

A conversa telefónica terá durado uma hora e terminou sem progressos, mas Austin sublinhou a importância de manter linhas de comunicação abertas, segundo uma declaração do Pentágono.

O mesmo fez Olaf Scholz, numa sessão à porta fechada da Comissão de Defesa do Parlamento alemão, na quarta-feira. “A dada altura, é claro, há que chegar à conclusão de que têm de haver novamente iniciativas diplomáticas”, disse o porta-voz do Governo, Steffen Hebestreit,

O telefonema foi visto como consequência desta ideia, apesar de a possibilidade de negociações de paz parecerem longínquas. Do lado do Kremlin, a TASS destacou a acusação da Rússia de que as conversações de paz estavam a ser bloqueadas pela liderança em Kiev.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reiterou que está disposto a negociar. “Mesmo que haja só 1% de probabilidades de resolver um conflito militar através do diálogo, isso tem de ser feito”, disse. Mas, continuou, “a cada nova Bucha, a cada nova Mariupol, a cada nova cidade onde se descobrem dezenas de mortos, casos de abuso sexual, a cada nova atrocidade, desaparecem oportunidades de negociação.”

E as negociações não devem começar com base em ultimatos russos, declarou numa entrevista à emissora italiana RAI. Nessa entrevista, Zelensky criticou ainda o Presidente francês, Emmanuel Macron, pela ideia de dar a Putin uma saída para este “salvar a face”, dizendo que a Ucrânia não está pronta a sacrificar-se “e perder” os seus “territórios por isso” e que a Rússia só vai procurar uma saída quando perceber que precisa que a guerra acabe.

Já na comissão parlamentar, Scholz terá dito que não era favorável a uma “paz de impasse” que permitisse à Rússia manter territórios que ocupou. Scholz já tinha sublinhado há semanas, numa entrevista à revista Der Spiegel, que a concordância da Ucrânia é sempre essencial.

Reagindo às declarações de Zelensky, também a presidência francesa disse que “cabe aos ucranianos decidir os termos das suas negociações com os russos”.

Do lado russo, Dmitry Poliansky, vice-representante permanente da Rússia na ONU, disse mesmo que não vê “soluções diplomáticas para a situação na Ucrânia”. “Não vai haver paz sem a desmilitarização e a desnazificação da Ucrânia”, declarou, citado pelo jornal russo Kommersant. Poliansky disse ainda que a Rússia agora mudou a sua posição em relação a uma potencial adesão da Ucrânia à União Europeia, pondo-a em igual patamar à de uma adesão à NATO, que recusa.

Enquanto isso, uma avaliação militar norte-americana referiu que a Rússia continua a aumentar a sua presença na Ucrânia, tendo actualmente 105 batalhões envolvidos na invasão.

As tropas russas estão focadas na região do Donbass, no Leste do país, “mas não estão a conseguir obter grandes ganhos”, diz o jornal The Washington Post.

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