110 Histórias, 110 Objectos: a máquina perfuradora de cartões

Neste 46.º episódio do podcast, descobrimos um pouco da história da programação informática. O podcast 110 Histórias, 110 Objectos, do Instituto Superior Técnico, é um dos parceiros da Rede PÚBLICO.

No podcast 110 Histórias, 110 Objectos, um dos parceiros da Rede PÚBLICO, percorremos os 110 anos de história do Instituto Superior Técnico (IST) através dos seus objectos do passado, do presente e do futuro. Neste 46.º episódio do podcast, descobrimos a história por detrás da máquina perfuradora de cartões, uma relíquia da história da programação informática.

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A máquina perfuradora de cartões Instituto Superior Técnico

Em plenos anos 80, estudantes do IST espalhavam-se pelas escadarias do Pavilhão Central (no campus Alameda do Técnico) lendo livros em dias de verão. Era uma das imagens de marca da cultura da instituição, também descrita nos jornais da época. Mas mais do que um indicador de hábitos de leitura, era sobretudo sinónimo de estudantes à espera que a máquina perfuradora de cartões e um computador lhes dessem o relatório dos seus trabalhos de programação informática. “Entre recolher os programas e apresentar os resultados não havia nada a fazer. Esperava-se que o programa já tivesse descoberto todos os erros possíveis”, recorda Mário Ramalho, professor auxiliar do departamento de Engenharia Mecânica.

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Falamos do processo de programação informática, na época assegurado por um leitor de cartões associado ao computador IBM 360, e feito ainda de forma analógica, podendo demorar horas ou, não poucas vezes, dias. Como é que se fazia? Teresa Vazão, professora do departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores, explica: Numa folha de papel quadriculado, com 80 colunas e um conjunto de linhas, preenchia-se um caracter em cada quadradinho. Cada linha era uma instrução de programação. Uma vez terminado o preenchimento dos cartões, eram entregues aos técnicos que “pegavam naquele conjunto de instruções usando a perfuradora de cartões e iam transformar as ordens do programador em ordens que o computador conhecia. Depois colocavam aquela pilha de cartões na máquina, a máquina digeria aquilo por intermédio do programador e o resultado saía numa listagem em papel, naquilo que se chamava uma impressora de rolo de papel contínuo”.

Resultados possíveis: programa executado correctamente; resultado executado incorrectamente ou uma listagem enorme de erros mostrando que a pessoa se tinha enganado.

Teresa Vazão não integrava o grupo que ficava a ler na escadaria, mas na espera ia para o jardim ao lado da Torre Norte ou mesmo para os ciclos de cinema da Gulbenkian, como os que passavam westerns com John Wayne. “Associo muito estes filmes à minha geração de programação, assim como associo por exemplo as músicas do Bruce Springsteen, que eram as que ouvia quando estava em casa a fazer código”, recorda.

Quem não se esquece também da máquina perfuradora de cartões é Custódio Peixeiro, igualmente professor no departamento de Electrotécnica e de Computadores do IST, que tem um cartão perfurado afixado numa parede do seu gabinete. “Os alunos que vêm falar comigo sentam-se em frente para o sítio onde está afixado este cartão. Tem muito que ver com o facto de muitas vezes os alunos se queixarem da falta de condições para fazerem simulações numéricas, a computação. Eu achava que era injusta a análise que eles faziam e contava-lhe a história do cartão, de como nós programávamos quando eu comecei a fazer investigação”, explica.

A máquina perfuradora de cartões do Técnico e o IBM 360 estão actualmente no campus do TagusPark do IST, num espaço que será no futuro dedicado a uma colecção da área de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC). Nos anos 80, havia cerca de uma dúzia de máquinas e estavam instaladas no Pavilhão Central, onde actualmente se situa a loja do Técnico (e as serigrafias do centenário). Eram utilizadas por todos os estudantes do IST, que tinham programação no 1.º ano. Depois de perfurados, os cartões eram deixados enrolados num elástico para serem analisados. Só no dia seguinte ia-se buscar a listagem em papel. Havendo erros, o processo começava de novo. Podia demorar dias.

Era, por isso, “uma máquina apaixonante que criava relações de amor-ódio”, nas palavras de Teresa Vazão. Para além de ser a primeira vez “que um aluno do Técnico sentia que era engenheiro e que estava a fazer qualquer coisa”, havia uma vantagem neste modo de programar: “tínhamos que pensar muito antes de fazer e de entregar o papel”. E os tempos de espera também tinham as suas vantagens: “Durante o período de programação, é muito importante fazer outras coisas [como ler e ir ao cinema]. Enquanto as fazemos, o cérebro continua a programar”.


O podcast 110 Histórias, 110 Objectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. É um programa do Instituto Superior Técnico com realização de Marco António (366 ideias) e colaboração da equipa do IST composta por Filipa Soares, Sílvio Mendes, Débora Rodrigues, Patrícia Guerreiro, Leandro Contreras, Pedro Garvão Pereira e Joana Lobo Antunes.

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