Salário real médio com queda de 2% no início do ano

Apesar da escalada da inflação, as remunerações dos portugueses não aceleraram em termos nominais, confirmando uma perda de poder de compra no arranque deste ano, revelam os números publicados pelo INE.

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Adriano Miranda

A subida rápida dos preços sem que os salários dêem para já sinais de aceleração está já a conduzir a uma redução da remuneração média mensal dos portugueses em termos reais, confirmou esta quinta-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE).

Os dados agora publicados são referentes ao primeiro trimestre deste ano e revelam uma evolução dos salários que não constituirá surpresa para a maioria dos portugueses. A remuneração bruta total mensal média por trabalhador em Portugal ascendeu a 1258 euros, um valor que é superior em 2,2% ao registado em igual período do ano passado, mas essa subida fica longe de compensar o aumento da inflação que se tem vindo a verificar em Portugal.

Assim, de acordo com o INE, se é verdade que em termos nominais a remuneração média sobe 2,2%, em termos reais (descontando o efeito da inflação) aquilo que se regista nos salários dos portugueses é uma perda de 2%.

Quando os cálculos se referem apenas à componente regular da remuneração bruta, o valor médio aumentou 1,7% em termos nominais, enquanto relativamente à remuneração base a subida foi de 1,6%. Mas em termos reais, diz o INE, a quebra foi de 2,5%.

Esta tendência de descida acentuada da variação das remunerações em termos reais já se verifica desde a segunda metade do ano passado, tendo atingido valores negativos nos últimos meses de 2021. E tem vindo a acentuar-se ao longo dos meses de 2022, em linha com a subida da inflação.

Olhando em termos mensais, enquanto que o valor médio nominal das remunerações brutas manteve, entre Novembro e Março, variações homólogas estáveis ligeiramente acima de 2%, a taxa de inflação tem vindo a acelerar de forma muito significativa mês após mês, passando de 2,6% em Novembro para 5,3% em Março.

Em Abril, mês para o qual ainda não há dados disponíveis para as remunerações, a taxa de inflação em Portugal subiu ainda mais para 7,2%, o que significa que, não havendo uma aceleração dos salários, a perda de valor em termos reais poderá continuar a agravar-se.

Nesta fase de subida rápida de inflação, iniciada em meados de 2021 e agravada nos últimos meses pela guerra na Ucrânia, a reacção dos salários está a ser manifestamente mais lenta.

Tanto o primeiro-ministro, António Costa, como o ministro das Finanças, Fernando Medina, têm defendido, quando questionados sobre a possibilidade de, no Estado, se compensar a subida de inflação com um reforço dos aumentos salariais, que uma medida desse tipo pode criar uma espiral de salários e preços, em que a subida dos salários, pelo efeito que gera no consumo e nas margens das empresas, provocaria novas subidas de preços.

Do lado do Governo, a intenção é, por isso, a de apenas voltar a aumentar os salários da função pública em 2023, não se sabendo ainda em que valor. No sector privado, as negociações salariais dependem de sector para sector, mas como revelam os dados publicados esta quinta-feira pelo INE não existiam, até Março, sinais de uma aceleração dos salários em reacção à escalada da inflação entretanto registada.

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