Hong Kong manda prender cardeal de 90 anos por suspeitas de “conspiração com forças estrangeiras”

Joseph Zen e outros quatro detidos eram administradores de um fundo que prestava assistência financeira aos activistas políticos presos durante os protestos pró-democracia.

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Joseph Zen, cardeal de Hong Kong Liau Chung-ren/Reuters

A polícia da região administrativa especial chinesa de Hong Kong prendeu esta quarta-feira o cardeal Joseph Zen, um dos líderes católicos mais antigos e influentes daquela zona do continente asiático, por suspeitas de “conspiração com forças estrangeiras”, noticiaram o South China Morning Post e a Reuters, citando fontes próximas do processo.

Detido ao abrigo da controversa lei de segurança nacional, Zen, de 90 anos, tem ligações ao movimento pró-democracia de Hong Kong e é um crítico da interferência chinesa no território semi-autónomo.

Foi detido em conjunto com outros quatro activistas políticos: as ex-deputadas Margaret Ng Ngoi-yee e Cyd Ho; a cantora Denise Ho; e o académico Hui Po-keung.

Os cinco eram administradores do 612 Humanitarian Relief Fund, uma organização que pagava despesas jurídicas, médicas e de outra natureza a pessoas detidas durante os protestos pró-democracia e os motins de 2019.

Investigada há vários meses pela polícia de Hong Kong por “alegadas violações da lei de segurança nacional”, a organização cessou toda a sua actividade em Outubro de 2021, devido ao “actual ambiente político”.

A antiga colónia britânica – cuja soberania foi transferida para a República Popular da China em 1997 – atravessa um período de grandes transformações políticas e sociais desde que a lei de segurança nacional entrou em vigor, em Junho de 2020.

Redigida e aprovada por Pequim, a legislação prevê, entre outras disposições, condenações que podem ir até à prisão perpétua para os crimes de secessão, subversão, terrorismo e conspiração com forças estrangeiras.

A oposição interna e os líderes políticos dos Estados Unidos, da União Europeia, do Reino Unido ou da Austrália dizem, no entanto, que a lei viola o princípio “um país, dois sistemas”, põe em causa a independência judicial do território e viola o estatuto de semiautonomia consagrado pela Lei Básica (Constituição).

Segundo os dados da polícia de Hong Kong, até ao dia 31 de Março deste ano já tinham sido detidas 175 pessoas ao abrigo desta lei. Dessas, 110 foram condenadas. A grande maioria são activistas políticos, ex-deputados da oposição e jornalistas independentes.

Catalogando a legislação como uma ferramenta de perseguição de dissidentes e de críticos de Pequim e das autoridades do território, próximas do Partido Comunista Chinês, outras dezenas de pessoas abandonaram o território nos últimos dois anos, receando represálias.

A deriva securitária de Hong Kong foi corroborada no passado domingo com a eleição de John Lee Ka-chiu para a chefia do governo. O agente da polícia que chegou a secretário da Segurança (cargo comparável ao de ministro) e a “número 2” do executivo é o primeiro detentor do cargo que não vem da área da Economia ou que não tem um perfil político.

Eleito com mais de 99% dos votos dos cerca de 1400 membros do Comité Eleitoral – um órgão pró-China Continental – Lee coordenou a imposição da lei de segurança e a repressão dos protestos de 2019 e 2020, e supervisionou o processo de veto dos candidatos ao parlamento local, na sequência na reforma eleitoral que reservou aos “patriotas” e aos que não “põem em causa a segurança nacional” o direito de concorrer a cargos públicos.

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