China censura palavras do director-geral da Organização Mundial de Saúde contra política de “covid zero”

Uma publicação da OMS na rede social chinesa Weibo contra a política de covid zero foi removida por ser considerada como “conteúdo ilegal”. Capturas de ecrã da publicação e imagens de Tedros Adhanom Ghebreyesus também foram censuradas.

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As declarações de Tedros numa conferência de imprensa em Genebra foram o alvo da censura chinesa na Internet Reuters/DENIS BALIBOUSE

Uma publicação da ONU na sua página oficial da Weibo, rede social chinesa semelhante ao Twitter, foi censurada e eliminada na manhã desta quarta-feira, minutos depois de ter sido publicada. Em causa estava um resumo das observações do chefe da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmando que a política de supressão da covid na China não era sustentável.

“A OMS não vê sustentabilidade nesta política [covid zero] tendo em conta o recente comportamento do vírus, bem como o que se antecipa e o que se quer atingir no futuro”, disse o director-geral da OMS numa conferência de imprensa na passada terça-feira. “Discutimos esta questão com especialistas chineses e indicámos que esta abordagem não é nem será sustentável. Acreditamos que uma mudança de postura seria muito importante”, sublinhou Ghebreyesus.

Também o director de emergências da OMS, Mike Ryan, afirmou que o impacto desta política nos direitos humanos precisa de ser tida em consideração, juntamente com o efeito na economia do país. Observou ainda que a China registou 15.000 mortes desde que o vírus surgiu, pela primeira vez, na cidade de Wuhan no final de 2019 – um número relativamente baixo em comparação com os 999.475 mortos nos Estados Unidos e os mais de 500.000 na Índia.

Esta publicação não durou muito tempo, uma vez que a Weibo afirmou que desrespeitava as normas da aplicação e tornou-a inacessível, censurando-a. Qualquer utilizador que a procura é notificado de que “o seu conteúdo era ilegal”.

Para além disto, várias capturas de ecrã que algumas pessoas conseguiram realizar no pouco tempo em que a publicação esteve disponível também foram removidos das suas contas, de forma a não deixar rasto dos comentários do líder da OMS. Inclusivamente, algumas fotografias de Tedros foram alvo de censura nesta rede social de forma a diminuir o fluxo de informação sobre si e sobre os seus comentários.

“Até algumas fotografias de Ghebreyesus foram censuradas - isto vai ficar assim?”, escreveu um utilizador da aplicação que tinha publicado uma fotografia do máximo responsável da OMS. Outro terá escrito: “Até a conta das Nações Unidas e o próprio Tedros foram censurados. A situação está a ficar cada vez pior na China.”

Ainda assim, muitos utilizadores da plataforma mostraram o seu desagrado perante os comentários do líder da OMS, afirmando que este fazia “vista grossa” perante as mortes causadas pela covid-19 no país. O Presidente chinês, Xi Jinping, assumiu uma postura clara, garantindo que a política de covid zero seria mantida na China.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Zhao Lijian, criticou, esta quarta-feira, as palavras de Ghebreyesus afirmando: “Esperamos que pessoas relevantes possam falar objectiva e racionalmente sobre as medidas de prevenção e controlo impostas pela China para lidar com o coronavírus.”

Assim, expressou que “a China tem sido um dos países que tem tido mais sucesso na prevenção da pandemia”, algo que diz ser “óbvio” para a comunidade internacional. “As medidas de controlo da China são baseadas na ciência e são eficazes”, argumentou Lijian.

Esta política faz com que as autoridades chinesas bloqueiem grandes áreas populacionais para conter a propagação do vírus, em resposta a qualquer surto, mesmo que apenas um pequeno número de pessoas sinalize um caso positivo.

As medidas de Xangai são particularmente rígidas, uma vez que os residentes são apenas autorizados a sair dos seus apartamentos por motivos excepcionais, como uma emergência médica. Muitos nem sequer são autorizados a sair de casa para não se cruzarem com os seus vizinhos, evitando a propagação do vírus e, em alguns casos, crianças são separadas dos pais e colocadas em zonas destinadas ao confinamento.

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