Violência no Sri Lanka obriga ao resgate do ex-primeiro-ministro, horas depois da demissão

Na madrugada mais violenta de protestos no país asiático, onde a população se manifesta há meses contra o Governo, pelo menos dez “cocktails molotov” foram atirados contra a residência oficial do antigo primeiro-ministro.

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Manifestantes contra o Governo incendiaram a casa de um membro do partido liderado por Mahinda Rajapaksa Reuters/STRINGER

As tropas do Sri Lanka resgataram na madrugada desta terça-feira Mahinda Rajapaksa, que renunciara horas antes ao cargo de primeiro-ministro, disparando para o ar numa tentativa de afastar os manifestantes que forçavam a entrada no Temple Tree, a residência oficial do primeiro-ministro.

“Numa operação durante a madrugada, o antigo primeiro-ministro e a família foram resgatados [retirados de um pequeno edifico onde se escondiam no complexo da residência oficial] pelo exército”, avançou um representante das forças de segurança. “Pelo menos dez ‘cocktails molotov’ foram atirados contra o complexo.”

No decorrer da agitada acção de salvamento, cinco pessoas foram mortas e quase 200 ficaram feridas. A multidão que protesta contra o Governo culpa os defensores do regime por uma escalada de violência que desencadeou, na madrugada de terça-feira, ataques de retaliação. Horas antes, grupos pró-Governo terão sido responsáveis por agressões num protesto pacífico (que causaram 150 feridos). Noutro incidente, políticos do partido no poder, liderado por Mahinda Rajapaksa, terão disparado contra manifestantes, provocando três mortes e cinco feridos.

Os protestantes tentaram invadir, vandalizaram e incendiaram propriedades de aliados de Mahinda Rajapaksa em todo o país. Em Colombo, quebraram o recolher obrigatório decretado para gritar palavras de ordem contra o chefe de Estado, Gotabaya Rajapaksa, irmão do antigo primeiro-ministro. O gabinete de “Gota”, como é conhecido, tem sido o palco diário de concentrações, onde se grita “Gota, Go Home” (em português, “Gota, vai para casa").

A madrugada de 10 de Maio foi a mais violenta dos últimos meses de protestos, antes pacíficos, face ao colapso financeiro do país, que já não é capaz de importar alimentos, combustível ou medicamentos — a uma inflação recorde, juntam-se apagões por falhas de energia e o medo da fome.

A demissão de Mahinda, ainda que com relutância, e a consequente dissolução do Governo, foram uma tentativa de apaziguar os que o acusavam de levar o país à bancarrota, mas de pouco serviu, já que os protestos continuam nesta terça-feira e as tensões sobem nas ruas de Colombo.

As Nações Unidos já condenaram a violência no país e a Alta Comissária para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, deixou apelos às autoridades locais: “Estou profundamente perturbada com [a escalada das agressões] no Sri Lanka, depois de apoiantes do primeiro-ministro atacarem, nesta segunda-feira, manifestantes pacíficos em Colombo, e [de assistir às] posteriores agressões da multidão contra membros do partido no poder.”

Apesar dos pedidos de demissão dos irmãos da dinastia Rajapaksa, no poder há duas décadas, Gotabaya insiste que não abandonará a presidência. Também o principal partido da oposição avisou que não ajudará a formar novo Governo até que o actual Presidente deixe o cargo.

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