Como o aquecimento global vai afectar o fitoplâncton

Estudo indica que a subida da temperatura pode levar a que ciclos de vida de fitoplâncton (presa) e zooplâncton (predador) se desencontrem. O que pode ter impacto em toda a cadeia alimentar marinha — e, consequentemente, nos humanos.

Foto
Imagem captada pela NASA em Abril de 2021 com a dispersão de fitoplâncton à escala planetária: a concentração é maior nas zonas avermelhadas e menor nas azuladas Instituto para a Ciência Básica, na Universidade Nacional de Busan

É consensual que as alterações climáticas deverão levar a mudanças significativas no que diz respeito à sazonalidade de diferentes plantas terrestres: com níveis elevados de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, a taxa de fotossíntese das plantas cresce. Mas e a relação entre a subida da temperatura global e alterações na altura do ano em que floresce o fitoplâncton, que diz respeito ao conjunto de microrganismos que vivem em ambiente marinho e têm capacidade fotossintética?

Um novo estudo publicado na revista científica Nature Climate Change tenta responder a essa questão. Cientistas da Universidade Nacional de Busan (Coreia do Sul) e de três instituições norte-americanas — a Universidade de Princeton, a Universidade da Califórnia em Los Angeles e o Laboratório Geofísico de Dinâmica dos Fluidos da NOAA — indicam que, até ao fim do século XXI e devido ao aumento das temperaturas, a sazonalidade do fitoplâncton sofrerá uma alteração lenta, mas gradual. “Uma vez que as presas (por exemplo, plâncton) e os predadores (por exemplo, larvas de peixes) evoluíram conjuntamente — e, como tal, revelam interdependência —, essa alteração” no fitoplâncton, explicam, pode representar uma perturbação significativa”.

Porquê? Se, no futuro, o fitoplâncton presente num dado ecossistema começar a florescer em alturas do ano diferentes das habituais, os “ciclos de vida de presas e predadores” poderão começar a desencontrar-se.

O fitoplâncton — que produz metade do oxigénio da Terra (a outra metade é gerada pelas florestas terrestres), formando autênticas florestas invisíveis aos olhos humanos — “forma a base da cadeia alimentar marinha e regula o ciclo carbónico do oceano”, contextualizam os investigadores, realçando que mudanças na sua sazonalidade podem afectar a “capacidade reprodutiva e de crescimento” dos seres que dele se alimentam. Se esses seres não tiverem como subsistir, os animais pertencentes aos degraus superiores da cadeia alimentar também serão colocados numa posição delicada.

E um emagrecimento dos ecossistemas será sempre um contratempo para o sector da pesca, por exemplo, pelo que alterações na sazonalidade do fitoplâncton — que, como as plantas terrestres, floresce na Primavera — podem comprometer a própria “segurança alimentar” dos humanos.

Alterações de um mês até ao fim do século XXI

Os investigadores responsáveis pelo estudo divulgado esta terça-feira fizeram, com recurso a um supercomputador, 30 simulações diferentes da forma como, devido à actividade antropogénica, as temperaturas globais aumentarão. Voltando-se, depois, para o fitoplâncton, analisaram também a sua “taxa anual de acumulação de clorofila”, pigmento que recebe a luz solar usada pelas plantas no processo fotossintético.

O período compreendido entre o “início da acumulação” desse pigmento e o “máximo anual de clorofila” foi entendido como o “período de florescimento” do fitoplâncton. Olhando para as suas simulações climáticas, os autores tentaram perceber se o aumento das temperaturas provocará mudanças nesse período.

O que é que se observou? Os tempos de “início e pico de florescimento” do fitoplâncton deverão alterar-se a uma velocidade lenta. Esperam-se, pelo menos a curto prazo, oscilações na ordem de apenas “alguns dias por década”. Mas esses “alguns dias por década”, frisa-se no estudo — que tem como principal autor Ryohei Yamaguchi, investigador do Centro para a Física do Clima do Instituto para a Ciência Básica, na Universidade Nacional de Busan —, podem transformar-se em “mais de um mês ao longo do século XXI”.

Mais de um mês em cerca de 80 anos parece pouco? Os autores garantem que não é. E destacam as latitudes mais elevadas do hemisfério Norte como a região em que os efeitos desta alteração podem vir a ser particularmente graves.

Tendo percebido como é que o fitoplâncton deverá alterar o seu comportamento fotossintético ao longo das próximas décadas, os investigadores, salienta Ryohei Yamaguchi, desejam agora perceber se tais mudanças realmente terão “um impacto negativo na futura segurança alimentar”.

Sugerir correcção
Comentar